Gringa do SOL porque parece gringa e porque ama o SOL... que aquece o seu coração. Quase o diário de uma gaja só com os seus devaneios e imaginação à solta, como ela...
sexta-feira, 11 de julho de 2025
Com o Amor, todo o cuidado é pouco
Está difícil acreditar no ser humano, no Amor. Sim, porque acredito que todos somos feitos de amor. Em princípio, devíamos todos ter nascido dele, mas claramente nem sempre é assim. Muita gente vem ao mundo fruto do acaso, ou porque simplesmente aconteceu, foi um deslize…
“Foste tu que criaste as minhas entranhas e me teceste no seio da minha mãe. Eu te louvo, porque me fizeste maravilhosa; são admiráveis as tuas obras; tu me conheces por inteiro” (Sl 139,13-14).
Recentemente encontrei uma amiga que já não via há muito, parecia apreensiva enquanto me confidenciava que tem vivido uma experiência amorosa fora do normal. Ela agora numa fase de ter tempo para aproveitar o melhor da vida, enquanto houver saúde, e sem aparentar a idade que tem, com espírito jovem ainda pronta para ir dançar, ir a concertos, enfim, sempre apaixonada pela Vida, há cerca de nove semanas conheceu por acaso numa curta formação gratuita sobre comunicação um rapaz aprox. 36 anos mais novo (!) que parece ser uma mente inteligente além de super ocupado com várias atividades que escolheu para passar o tempo e ganhar dinheiro. Parece que ele se encantou (do nada) e nunca mais a largou, queria ser amigo, acompanhá-la sempre que ela quisesse ter companhia, mensagens escritas a todo o momento, um “amor” que foi se manifestando quando a convidava para sair e queria pagar, apesar de ela dizer que as contas deviam ser divididas e ele dizia para não se preocupar, “não tinha o que fazer ao dinheiro”, não era de sair com os da idade dele, nada de noitadas, não tinha grandes gastos, e gostava de pessoas mais velhas, talvez fossem mais sossegadas, enfim, uma série de coisas que ia dizendo e ela se encantou também, como uma pessoa daquela idade era tão diferente do normal, e ia analisando a situação, que entretanto evoluiu para um amor a dois, sem pensar em consequências. Quem sabe, teria algum papá que mandava dinheiro, imaginava ela. Para nenhum dos dois, a diferença de idade seria um empecilho, pois, o que é isso comparado com toda a maldade e estranheza que há pelo mundo, com gente que muda de sexo ou adota bonecos como filhos…alguém tem moral para falar dos outros sobre algo, como assim? Mostrou-me fotos dos dois e até ficavam bem juntos, e felizes, não parecia nenhuma aberração, de facto.
Ele gostava de cuidar dela, assim dizia, "até que a morte os separe"... insistia num relacionamento sério para assumi-la perante todos; dizia que falava aos colegas da sua namorada; também ela ainda falou dele ou apresentou-o a algumas pessoas amigas ou conhecidas, uma aconselhou a ter cuidado, outras diziam “por que não, aproveita enquanto é bom, vai vendo o que acontece”. A química sexual era boa, também… até que a tal intimidade começa a gerar ciumeira ou controlo doentio, dos amigos e os ex dela, como se fosse agora possível apagar historinhas do passado ou mais do que um casamento vivido, ou anular amizades sadias, algumas na rede social… Enfim, começou a ficar deprimente para ela ter que se chatear com esse tipo de coisas, a ponto de querer que ele se afastasse. Mas não, ele insistia numa amizade (que já não era, ou nunca foi), continuava a pagar tudo como se fosse endinheirado, ou €€ estariam sobrando; às vezes ela dava-lhe o dinheiro a seguir, e ele devolvia o valor com transferência por MBWay, parecia um ping pong de euros para lá e para cá- Outras vezes aparecia dinheiro transferido e ela nem sabia o que era, tudo estranho assim, dava que pensar. Estaria comprando o “amor”, de amiga, namorada, mãe ou avó (?)... Entretanto, ela tinha que ausentar-se para uma viagem agendada com uma amiga, durante 15 dias. Teve a infeliz ideia de deixar-lhe uma chave de casa porque ele pediu que queria ir uma vez ou outra para lá, estar sossegado a estudar, porque na casa que partilhava com um colega não havia sossego com gente a entrar e sair, e outras coisas. Ela acreditou e aceitou que ele ficasse no seu “santuário” (como ele chamava a casa dela) durante os quinze dias. Falavam todos os dias, e o controlo continuava cerrado mesmo à distância. Se ela por acaso falasse que ia talvez sair ou dançar com a amiga já ouvia comentários ridículos do tipo “queres é andar a curtir com outros, és muito livre" (ou algo do género), "na tua idade devias era estar em casa, a ler um livro, ver TV ou dormir cedo...” e algo mais que denotava desconfiança, desassossego, algum tipo de transtorno… Para ele, a liberdade dela incomodava, era a pomba gira que gosta de encantar e sair com todos… Como doía ouvir isso, nem podia acreditar no que estava acontecendo, e ela começava a desencantar-se. Nada é o que parece. Aquele “amor” agora parecia doentio, obsessivo. Desde quando ela tinha que aturar este tipo de comportamento? E ouvia quase todos os dias “desculpa” “vou melhorar” e ela a desesperar, a desconfiar cada vez mais que algo não ia bem no “reino do amor” e merecia bem melhor naquela idade; como foi se meter numa situação dessas? Quando voltou de viagem, chegou a casa e logo percebeu que muita coisa tinha mudado de lugar, tudo tinha sido vasculhado a pente-fino: caixas, caixinhas, pastas, fotos, documentos, portátil, pen drives que nem ela já sabia onde estavam... foi uma primeira deceção que a deixou abalada, zangada com ela própria, por ser tão ingénua e confiar em alguém que mal conhece, mas que ilude com muito blablabla de amor, e textos tão bem escritos como verdadeiras odes ao amor, como era possível? Será amor isso de vasculhar a intimidade de alguém, comprar coisas desnecessárias para a casa e deixar o frigorífico com quilos de carne e outras comidas e bebidas que ela nem aprecia, nem come tanto assim, para tudo ser doado a seguir (se possível isso), ou ir para a lixeira, porque ela precisava de espaço para colocar lá o que realmente gostava. O que será então a porra do amor!? Não seria respeitar, cuidar bem do alheio, ter sensibilidade para o que o outro vai gostar ou detestar… e lá vinha de novo “desculpa, vou fazer melhor”, até o dia a seguir quando ele lhe mostra e informa que tinha trazido montes de tralha em sacos enormes para guardar em casa dela pois ia ausentar-se em breve, para uma viagem de trabalho. Ela nem podia acreditar no que via, sem qualquer consentimento ou aviso prévio! Tinha a casa atulhada, quando tantas vezes já se via aflita para encaixar e organizar os seus próprios pertences. Aquilo era caso de polícia, só pode. Invasão de domicílio deve ser isso, como quem não quer nada! Foi uma grande e feia discussão, pois na sua ideia de amor e intimidade de nove semanas, ele achava que tinha todo o direito de fazer qualquer coisa sem pedir autorização. Ela sentiu-se abusada, desrespeitada, insultada, porra para o amor daquela maneira. Mandou-o tirar tudo dali e ir embora. Ele ainda pediu para deixar guardado ao menos o que era mais importante, porque na volta não sabia ainda onde iria ficar. O colega ia embora e deixar a casa. Ah OK. Ela comecou a entender tudo, podia estar a acontecer ali uma mudança sub-reptícia. E que grande lata, ele ainda se sentia a vítima, muitas vezes. A namorada é que era a pessoa fria, sem sentimentos, não o amava tanto como ele a ela!... Na discussão acesa ela ouviu mais absurdos, aquilo que se diz com a intenção de magoar, que mais parecem insultos, e ainda aproveitou para pedir de volta o dinheiro gasto com ela! Aí foi o "fim da picada"... Afinal, aquilo era um investimento financeiro no “amor”, até se endividava por ela se necessário fosse, ou então não valia a pena gastar o dinheiro que afinal nem tinha, se ela não aceitasse “tanto amor” que ele oferecia… Nada disto soava a normal. No dia seguinte ela soube que ele tinha sido levado para o hospital, passou mal, sofre do coração. Assim esta amiga tem vivido um pseudo amor, um verdadeiro drama em vários atos, penso eu. Fiquei chocada, inacreditável esta história. Como a carência das pessoas pode adoecer o amor, que devia ser sublime. Ela estava triste, dececionada. Agiu de boa fé, confiou, e depois sofreu com isso. Lição aprendida: nunca deixar ninguém em casa, no seu mundo, quando ausentar-se. Entendi, quem aguentaria assim este excesso de “amor”? Eu não. O amor com o qual sonho, e essa amiga também, é de outro tipo, nada a ver com isso. Perguntei se ia estar com aquele “amor” quando voltasse, não tinha ideia ainda, mas nada provavelmente voltaria a ser a mesma coisa. Ninguém se transforma depois de adulto e de traumas vividos. Além disso, há um fosso geracional entre eles, uma educação diferente. E (como eu) também ela nunca foi de ficar presa apenas pelo lado carnal... Bem melhor teria sido mesmo uma bela amizade, mas as pessoas preferem falar de amor, seja lá o que isso for.
“As pessoas com quem namoras são o reflexo do quanto tu te amas a ti próprio”… “Não há como envolver-se sem um certo risco. Porque uma relação não nos dá certezas. O que podemos é dar uma chance ao amor, sem se esquecer de levar o amor-próprio connosco. Amar, mas amar com consciência. Amar sem deixar de colocar os limites necessários e sem esquecer-se daquilo que merecemos. É preciso muita coragem para abrir o nosso coração para alguém, mesmo correndo o risco de sair ferido, mas é aos corajosos que o amor pertence.” (Alexandro Gruber)
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