quarta-feira, 3 de junho de 2015

Vale tudo...

Aquela cidade faz-lhe lembrar muito o lugar de Angola onde ela viveu dos 4 aos 17 anos, por isso se sente tão bem ali, apesar de tanto calor no início de junho, está a imaginar como será no verão… e mesmo assim, não tem saudades de casa? Algo a prende ali, vai voltar, vai tentar… se não tentar, nunca vai poder saber se daria certo ou não.
Acordou na casa da amiga que a acolheu temporariamente e cuja subsistência provem dos serviços de limpeza que vai prestando aqui e ali, ou em casas de férias. A amiga acorda cedo todos os dias para ir trabalhar e naquela manhã ligou-lhe um senhor a precisar dos seus serviços, para limpar um apartamento de férias que tinha acabado de ficar vazio e todo sujo. As pessoas não têm cuidado com o que é dos outros, ou talvez na casa delas também seja assim, uma porcaria. Ou, como diz o brasileiro “tô pagando!” (e vale tudo)

Estava com a agenda preenchida e ainda tinha que ver à pressa, antes de sair, quem poderia arranjar para fazer aquele serviço em vez dela. Olhou para a amiga visitante ainda meio ensonada, acabada de acordar no sofá que lhe deu mau dormir e disse “que tal, eras capaz de o fazer?”. A outra, licenciada e ultimamente quase sempre no desemprego forçado e sem saber por qual caminho enveredar, respondeu “porque não, vamos lá ver como me safo dessa”…

E lá foi ela, combinou encontrar-se com o dono do apartamento, que vinha acompanhado por outro mais velho e simpático, até tinha ar de gringo, e era quem conhecia melhor a cidade. Quando a viram chegar, não conseguiram disfarçar um ar de surpresa do tipo “de onde saiu esta madame?”… pensou ela. Porque uma vez numa sapataria foi tratada de “madame” o tempo todo, e achou isso estranho, terá mesmo ar de madame? Nunca podia imaginar isso. Pelo caminho iam conversando os 3, e o que levava o carro (o tal senhor com ar de gringo, aparentava uns 70 anos aprox.) não resistiu e disse “os telemóveis deviam ter vídeo para a gente ver com quem se fala, de repente aparece-nos assim uma mulher bonita”… ela achou piada e sentiu-se lisonjeada, e aproveitou para comentar que não há melhor beleza que a interior. Assim quebrava um pouco o constrangimento.

Chegados ao local, ela ficou no apartamento T2 vazio, foram 4 horas de limpeza 'nonstop' ao som de boa música no canal VH1 e, depois de limpo, até tinha muito bom ar e dava vontade de alugá-lo para umas próximas férias ou, quando saísse o euromilhões, comprá-lo… ainda tinha a placa de venda na varanda.


Quem sabe, esta poderia ser uma hipótese de trabalho naquele lugar, não desgostou da ideia. A seguir, sentou-se num restaurante que serve boas sardinhas, onde o garçon já vinha a falar inglês e ela avisou-o que podia poupar o idioma que tão bem aprendeu. Ele ficou sem graça, e para compensar depois deu-lhe um ‘cheirinho’ com o café, oferta da casa. A seguir, sem precisar de fazer a digestão, ainda foi dar uns bons mergulhos nas ondas do mar quase morno…


Historinhas como esta fazem parte de uma vida cigana onde não existe a monotonia…

(…) A gente às vezes sente, sofre, dança
Sem querer dançar
Na nossa festa vale tudo 
Vale ser alguém como eu, como você (…)




2 comentários:

  1. Sabe bem ler e sentir a tua escrita Lina! Abraço.

    ResponderEliminar
  2. Obg Nuno, queria ter mais tempo para escrever mais e mais, tb estou a curtir :) Abraço

    ResponderEliminar