Aquela cidade faz-lhe lembrar muito o lugar de Angola onde
ela viveu dos 4 aos 17 anos, por isso se sente tão bem ali, apesar de tanto
calor no início de junho, está a imaginar como será no verão… e mesmo assim, não
tem saudades de casa? Algo a prende ali, vai voltar, vai tentar… se não tentar,
nunca vai poder saber se daria certo ou não.
Acordou na casa da amiga que a acolheu temporariamente e cuja subsistência provem dos serviços de limpeza que vai prestando aqui e ali, ou em casas de férias. A amiga acorda cedo todos os dias para ir
trabalhar e naquela manhã ligou-lhe um senhor a precisar dos seus serviços, para
limpar um apartamento de férias que tinha acabado de ficar vazio e todo sujo.
As pessoas não têm cuidado com o que é dos outros, ou talvez na casa delas
também seja assim, uma porcaria. Ou, como diz o brasileiro “tô pagando!” (e vale tudo)
Estava com a agenda preenchida e ainda tinha que ver à
pressa, antes de sair, quem poderia arranjar para fazer aquele serviço em vez dela. Olhou
para a amiga visitante ainda meio ensonada, acabada de acordar no sofá que lhe deu mau
dormir e disse “que tal, eras capaz de o fazer?”. A outra, licenciada e ultimamente quase sempre no desemprego forçado e sem
saber por qual caminho enveredar, respondeu “porque não, vamos lá ver como me safo dessa”…
E lá foi ela, combinou encontrar-se com o dono do
apartamento, que vinha acompanhado por outro mais velho e simpático, até tinha
ar de gringo, e era quem conhecia melhor a cidade. Quando a viram chegar, não
conseguiram disfarçar um ar de surpresa do tipo “de onde saiu esta madame?”… pensou
ela. Porque uma vez numa sapataria foi tratada de “madame” o tempo todo, e achou
isso estranho, terá mesmo ar de madame? Nunca podia imaginar isso. Pelo caminho
iam conversando os 3, e o que levava o carro (o tal senhor com ar de gringo,
aparentava uns 70 anos aprox.) não resistiu e disse “os telemóveis deviam ter
vídeo para a gente ver com quem se fala, de repente aparece-nos assim uma
mulher bonita”… ela achou piada e sentiu-se lisonjeada, e aproveitou para
comentar que não há melhor beleza que a interior. Assim quebrava um pouco o
constrangimento.
Chegados ao local, ela ficou no apartamento T2 vazio, foram
4 horas de limpeza 'nonstop' ao som de boa música no canal VH1 e, depois de limpo, até
tinha muito bom ar e dava vontade de alugá-lo para umas próximas férias ou,
quando saísse o euromilhões, comprá-lo… ainda tinha a placa de venda na varanda.
Quem sabe, esta poderia ser uma hipótese de trabalho naquele lugar, não
desgostou da ideia. A seguir, sentou-se num restaurante que serve boas
sardinhas, onde o garçon já vinha a
falar inglês e ela avisou-o que podia poupar o idioma que tão bem aprendeu. Ele
ficou sem graça, e para compensar depois deu-lhe um ‘cheirinho’ com o café,
oferta da casa. A seguir, sem precisar de fazer a digestão, ainda foi dar uns bons mergulhos nas ondas do mar quase morno…
Historinhas como esta fazem parte de uma vida cigana onde
não existe a monotonia…
(…) A gente às vezes
sente, sofre, dança
Sem querer dançar
Na nossa festa vale tudo
Vale ser alguém como eu, como você (…)
Sem querer dançar
Na nossa festa vale tudo
Vale ser alguém como eu, como você (…)
Sabe bem ler e sentir a tua escrita Lina! Abraço.
ResponderEliminarObg Nuno, queria ter mais tempo para escrever mais e mais, tb estou a curtir :) Abraço
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