Tenho estado ausente. Falta-me tempo. E tempo é coisa que
não devia faltar-me. Sinto-me a desempregada mais ocupada do planeta. Estava
com saudade da minha escrita, hoje tenho que escrever algo, acerca do TEMPO,
por exemplo.
Alguém disse “A má notícia é que o tempo voa. A boa notícia
é que você é o piloto.” Eu tento pilotar o meu da melhor forma, sempre atrás de
resolver coisas que são necessárias, para mim ou para outros, e sem desperdiçá-lo.
Procuro viver sempre a favor do tempo, pois sei que perder tempo é desperdiçar
a vida e correr contra o tempo é maltratar o coração.
Não posso negar que o desemprego é preocupante,
especialmente quando se vive numa sociedade que nos faz ficar velhos antes do
tempo e ainda temos tanta energia para dar e vender. Mas este tempo de “dolce
far niente” em que vou procurando um trabalho que me satisfaça e me recompense
a nível monetário tem sido muito útil para evoluir como pessoa, estar mais
atenta ao meu EU e ao mundo que me rodeia.
E penso: valerá a pena andar a
escravizar-nos para ter algum dinheiro ao fim do mês? Sim, é necessário algum
para as necessidades básicas, casa, alimentação, pagar contas… mas muitas
pessoas vivem a correr e nem tempo têm para pensar em si e no que andam a fazer
neste mundo. Tanta gente com um emprego ruim ou mais-ou-menos, chegam a casa
sem paciência para mais nada nem ninguém, é triste essa maneira de viver, anos
e anos. O ideal seria ter um trabalho que se adora e que acaba por ser uma
extensão natural de quem somos, que nem pareça trabalho e nos dê satisfação. E
há pessoas felizardas nesse aspeto, poucas mas há.
E onde/como encontrar algo que nos preencha a nível profissional
hoje em dia? Também… tentar algo inovador já não é tão simples assim, há de
tudo e em toda a parte, além de haver poucos incentivos. Sinto que não farei
nada sozinha, quem dera ter alguém que alinhasse comigo em algum projeto
interessante. Quem sabe!... o tempo…
Evito colocar demasiada ênfase no dinheiro, tento é compreender
o que quero fazer, que projeto, e trabalhar nesse sentido com concentração,
determinação e fé. Não ver pela ótica do dinheiro, ver antes pela ótica do
projeto. Sei que “o dinheiro não pode comprar a felicidade, mas pode com
certeza ajudar-nos a procurá-la nos melhores lugares”. (David Biggs)
Porém, se nos concentramos no receio da falta de dinheiro, rouba-nos a energia e dificilmente
ele aparecerá, então prefiro atentar na beleza de cada dia que nasce, contar
as minhas bênçãos, sentir gratidão e trabalhar na direção daquilo que me vai
guiando, e a satisfação das minhas necessidades surgirá pelo caminho…
"O bom do caminho é haver volta. Para inda sem vinda basta o tempo." (Mia Couto in Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra.)
Enquanto isso, estou a trabalhar na simplificação da minha vida
emocional, um passo de cada vez. E desta forma a minha vida física também se
torna bastante simples. Nas minhas andanças pela vida fora, desde que fui
arrancada do lugar ao qual me habituei até aos 17 anos (linda Angola de
outrora) - nunca me sentindo enraizada na própria cidade natal - começo a por
em causa a importância dos pertences. Carrego comigo alguma roupa e é tudo. A
posse de bens leva-nos a sentir terrivelmente sobrecarregados. Andar à deriva dá-nos
uma enorme liberdade, porém, até esta tem o seu preço. Tudo na vida tem um
preço. Às vezes surge aquela vontade de parar, “regressar à base” e ficar
quietinha, que se lixe o mundo. Quero é paz e sossego. Mas parar é morrer.
É preciso
ter coragem para levar uma vida verdadeiramente consentânea com o nosso
coração, e não aquela que os outros esperam dela.
Continuamos, as minhas roupas e eu, em busca de algo que me
faça sentir viva, permito-me e opto por ser FELIZ, e se puder contribuir
para a dos outros, melhor ainda!