... uma menina que mal se lembra da sua infância, mas deve ter sido tranquila (imagina); quase nenhuma foto tem para recordá-la, e hoje em dia é tudo tão diferente que até se sente uma dinossaura!
Agora é tanta foto, é filmes,
e o vício de navegar na internet logo desde criança, usar as redes sociais, se
os pais deixarem, claro. Antigamente era mais o jogo da cabra-cega, saltar à
corda ou jogar à macaca, ler os livrinhos do Pato Donald ou Tio Patinhas, os da
Anita, fazer palavras cruzadas ou aquele jogo do “stop”, em que se tinha de preencher
uma folha com nomes de pessoas/países/animais/objetos/frutas/cores/marcas de
carros…o primeiro a terminar dizia “stop” e fazia-se a pontuação. Ela adorava
jogar ao stop, e mais tarde era o vício das palavras cruzadas ou de jogar scrabble.
Exercitava-se o corpo, a memória, a criatividade.
"Stop" |
Hoje conclui que andar à
volta das palavras foi sempre a sua preferência. As mesmas palavras que ainda a
provocam e a fazem digitar (coisa moderna) sobre qualquer tema que lhe agrade. Atualmente,
com quase seis décadas em cima dá-lhe para querer ‘recuperar’ memórias (que
fugiram), tentando descortinar o que ficou para trás ou o que foi acontecendo
ao longo do tempo até chegar ao presente momento. Essas divagações ocupam-lhe a
mente, dão-lhe gozo, e o seu único objetivo é fazer anotações, relacionar
factos e chegar a conclusões, entender por que se diz que “nada acontece por
acaso” (ou “estava escrito”).
Jogo da macaca |
Ainda falando de coisas do
passado, lembra-se do que o pai contava da juventude dele. Por exemplo, os seus brinquedos de criança eram carrinhos feitos com caixas de sapatos; mais tarde, já adulto, gostava de andar à noite pelo bairro onde morava enrolado num lençol branco e divertia-se a assustar
as pessoas. Ela fica a imaginar a reação delas ao virar de uma esquina e deparar com um
fantasma daquele tamanho! “Pobretes, mas alegretes”, eram
assim as pessoas antigamente. Como não tinham nada, de nada sentiam falta. Que
diferença para hoje em dia: tem-se tudo e espera-se sempre mais; e anda tudo
frustrado, com ou sem dinheiro. Há muita gente que parece (ou é) aparvalhada; drogas
sedativo-hipnóticas e ansiolíticas vendem-se mais do que nunca, sendo legais! Até
dá dó, que stress! Mais valia fumarem umas ganzas, para quem gostar. É que naquele tempo não
havia a sádica TV mostrando o horror e a tragédia, todos os dias e em todo o
lado.
Então, prosseguindo, essa
menina cresceu numa espécie de redoma, pois o mundo lá fora era uma coisa má, perigosa,
era preciso ter muito cuidado. E foi crescendo, tímida, ‘parolinha’; nunca
passou pela sua cabecinha achar-se bonita ou feia, nem sabia como falar ou onde
colocar as mãos quando combinava um encontro com alguém... Consegue lembrar-se
do primeiro namorico, com um rapaz alguns anos mais velho, conheceu-o nas
matinés de domingo, ele era o ‘lanterninha’, aquele que mostrava o lugar às
pessoas que iam chegando ao cinema. Começava a película e logo a seguir ele sentava-se
ao lado dela, e então era “o filme” deles… Quando os pais (mais a mãe…)
souberam, apesar de contrariada (a mãe), achou melhor dar autorização para ele
vir ‘namorá-la’ em casa, sentados no sofá rodeados dos irmãos. Já nem se lembra
do que falavam, ou se falavam. Não durou muito a história de nAMORico, pois havia críticas contínuas de que ele era
baixote, ou seja, era mais baixo do que ela. E assim terminaram as matinés, e a
troca de ‘amassos e beijinhos’ no escurinho do cinema…
A vidinha continuava. De
repente, a Revolução. A Liberdade. (O que é isso?). O regresso à Metrópole. (O que é isso, onde fica?). Vida a
recomeçar do zero. Não foi fácil, mas o tempo sara tudo. Termina os estudos no
liceu com poucas mas boas amizades, que perduram até hoje. Às vezes era
necessário mentir em casa, para poder sair, ou nunca poderia relacionar-se com
as pessoas que um dia viriam a ser as suas amigas.
Já nos seus 18 anos (e sem
saber se era linda ou não), parece que lhe era difícil namorar, ou sentir-se
atraída por alguém. Nos tempos modernos, ainda frequentam o infantário e já
perguntam às criancinhas se têm namorado – que horror.
Ela era mais do estilo de
sentir amor platónico, de ficar a sonhar com algum rapaz bonitinho, mas que “não
era para o seu bico”, normalmente atleta. Sempre viveu em ambiente desportivo,
o pai tinha sido jogador de básquete num clube importante, para onde voltou
passados muitos anos, para ser funcionário; era ele que fornecia o equipamento
aos atletas, sempre que iam jogar. E lá tinha que ser um jogador a ‘roubá-la’
do seio familiar. Tudo foi acontecendo assim como que ‘de repente’ na sua vida.
Saiu de casa à revelia; aquela não era uma família normal, não se falava,
concordava ou discordava. Melhor “bazar”…talvez naquele tempo seria essa a
mentalidade, e cada um passa aos seus o que sabe e o que pode, a mais nada
sendo obrigado. O lema dos pais era “enquanto estás debaixo do meu teto, sou eu
que mando”… e ela se mandou…para outras paragens, a milhas de distância!
A partir daí, era o mundo
todo à sua frente e já não precisava esconder-se dele. Passou a ser proibido proibir. Agora era ‘livre’, sem sequer
pensar no assunto, fosse lá o que isso fosse… E lá foi se amanhando, muita coisa era
surpresa, coisas boas, outras más, novas amizades, e agora entende que é assim
que se faz uma vida, "acontecendo"...
O seu primeiro
relacionamento durou quase sete anos, e desistiu. Sem saber como, era forte
para tomar decisões, nem que fosse à custa de muitas lágrimas.
Inconscientemente, sabia que merecia (o) melhor, não lhe servia qualquer coisa.
Continuou só durante anos, mais tarde voltando a casar e a desistir. Entretanto (no tempo das vacas gordas) teve uma oferta para trabalhar numa boa empresa, onde
esteve mais de uma década e onde teve oportunidade de fazer novas e boas amizades.
A seguir veio o desemprego, e as gordas nunca mais voltaram. Para sua
felicidade, as amizades permaneceram.
Perto dos 48 anos terminou um curso superior, aproveitando o tempo livre.
Perto dos 48 anos terminou um curso superior, aproveitando o tempo livre.
Nunca lhe faltaram amores,
paixões, tesões, mas não se sentia tratada e amada como merecia, e isso a
frustrava. Houve quem a desiludisse bastante, mas a vida sempre nos compensa de
alguma maneira, felizmente. Uns roubam, outros dão-nos.
‘De ramo em ramo’, balançando mas sem cair, o carrossel da VIDA continua a girar e é “gritar” ou “relaxar e gozá-la”. Não pode queixar-se, há vidas bem piores. E tudo serve para aprender e evoluir. A vida foi lhe ensinando a dizer adeus às pessoas que ama, sem as tirar do seu coração. Não se arrepende de nada. Sem saber e sem notar, estava desse modo desenvolvendo a autoestima, rumo à maturidade.
‘De ramo em ramo’, balançando mas sem cair, o carrossel da VIDA continua a girar e é “gritar” ou “relaxar e gozá-la”. Não pode queixar-se, há vidas bem piores. E tudo serve para aprender e evoluir. A vida foi lhe ensinando a dizer adeus às pessoas que ama, sem as tirar do seu coração. Não se arrepende de nada. Sem saber e sem notar, estava desse modo desenvolvendo a autoestima, rumo à maturidade.
Muitos anos passados, praticamente
a outonear, nunca reprimiu a criança interior
que habita nela. Sente que é uma pessoa que vive com a leveza de uma criança e, simultaneamente, com responsabilidades de adulta. Ri-se de si própria e dos dramas que já
vivenciou, do ridículo das situações, enfim: VIVE! Tem pena de quem só existe. Mas aprendeu também que só se
pode ajudar a quem nos pede ajuda, não vale a pena sofrer pelos outros, é
sofrimento inútil.
Era uma vez… uma
mulher/menina que continua a sentir-se amada, desejada, mas agora “na paz”. A época dos impulsos arrebatadores parece terminada. Acredita que a vida é apenas
o AGORA; o passado já era, mas às vezes é preciso reportarmo-nos a ele para se
compreender o presente e projetar o futuro…e este, é o momento seguinte! Pensa
que…talvez continue sendo aquela de sempre: adora a magia dos momentos de sedução. O
resto dá muito trabalho, e mágoas!
Adorei... simplesmente adorei! Uma gatinha que começou de gatinhas, cresceu virando gata e começa a dar conta que quando está a saltar o muro dos sessenta é que está uma gatona que de si é dona!
ResponderEliminarOutra vez, adorei! Adorei a serpentina da vida que desenrolaste com todo o fulgor e que só a gatinha que vive em ti tem a sorte de pular na vida boa de ser uma gatona sem grandes impulsos mas solta das correntes nos pulsos.
Noite feliz e mia muitas vezes (=escreve) que o teu miar encanta! Bjs
uau miaaau para ti também, Rafa! esses elogios feitos por alguém que escreve tão bem todos os dias deixam-me a babar, ou lisonjeada. E prometo que não deixo de miar... :P Bj bons dias e bom FDS
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