Curiosamente, no espaço de
uma semana duas pessoas me disseram a mesma frase, a propósito de algo que
comentei, assim: “segue o teu coração”… ai pobre de mim, pois parece que meu
coração anda meio vagabundo, sem eira nem beira, e se o sigo poderei cansar-me,
e então, o que fazer?… O tempo dirá, como sempre.
‘Vai aonde te leva o coração’ de Susanna Tamaro
Quando
eu estava a fazer o bacharelato, ou licenciatura, a ver com alguma disciplina de Língua Portuguesa, se
bem me lembro - sei que sou péssima a querer recordar "pormenores" de um passado longínquo, ou próximo - a profe pediu para trabalho de casa o resumo de um
livro que tenhamos lido. Escolhi esse. Deu algum trabalho; daquelas coisas que
a gente nem sabe por onde começar, mas um dia lá terá que ser, engatam-se as
ideias e sairá algo. Entreguei o trabalho meio receosa e, para minha surpresa,
tive uma nota perto do 20, estava quase perfeito! Fiquei tão orgulhosa de mim
mesma! Deve ter sido nesse momento que interiorizei o facto de que afinal era boa
em algo e esse algo poderia ser a escrita, que faria parte da minha vida, sem
idealizar nessa data que um dia poderia “mostrar ao mundo os meus dotes”
através de um blogue.
Daí que agora, quando um ou outro amigo vem aqui elogiar
os meus textos, só posso babar-me, agradecer o carinho, e continuar a tentar
ser melhor.
A
leitura do livro “Vai onde te leva o
coração” é cativante, comovente, quase hipnótica, o que talvez justifique o
seu grande sucesso a nível internacional. É a carta escrita por uma avó/mãe à
sua neta, uma espécie de diário escrito por uma mulher de
oitenta anos, uma avó como tantas outras, que faz tricô, planta roseiras e vive
com o seu velho cão. Esta é a forma que ela encontra para contar a sua vida à
neta e dizer-lhe o quanto gosta dela já que, devido à educação que recebeu, é
incapaz de fazê-lo de outro modo.
Uma
história que nos leva através da vivência de três gerações de mulheres, e das várias formas
como cada uma delas lidou com a vida, com o autoconhecimento e com a busca pela felicidade.
É uma lição de vida, uma contemplação da sucessão de erros cometidos e do significado (e
implicações) de ser mulher. Este livro contém um percurso, ou melhor: três, que
nos leva a contemplar os motivos das nossas escolhas pessoais, as nossas aspirações e
receios, as ações e as suas consequências. Fala-nos de amor, paixão, casamento,
religião, fé, inteligência, alegria, amizade, depressão, velhice, e da morte.
É através de
alguém que se considera simples, senão mesmo simplista, que vemos a
complexidade da vida, e que nos faz comover com as suas escolhas.
“A compreensão nasce da humildade, não
do orgulho de saber.”
Partilho aqui mais
algumas citações:
“...quando o caminho atrás de ti é
mais comprido do que o que tens à tua frente, vês uma coisa que nunca tinhas
visto antes: o caminho que percorreste não era a direito mas cheio de
encruzilhadas, a cada passo havia uma seta que apontava para uma direção
diferente; dali partia um atalho, de acolá um carreiro cheio de ervas que se
perdia nos bosques. Alguns desses desvios fizeste-os sem te aperceberes, outros
nem sequer os viste; não sabes se os que não fizeste te levariam a um lugar
melhor ou pior; não sabes, mas sentes pena. Podias fazer uma coisa e não
fizeste, voltaste para trás em vez de seguir em frente. (...)”
“A coisa mais fácil do mundo é
encontrar escapatórias quando não queremos olhar para dentro de nós mesmos. Uma
culpa exterior é coisa que existe sempre, tem de se ter muita coragem para
aceitar a culpa - ou melhor, a responsabilidade só nos cabe a nós. No entanto,
como já te disse, é essa a única forma de seguir em frente. Se a vida é um
percurso, é um percurso sempre a subir.”
“E quando à tua frente se abrirem
muitas estradas e não souberes a que hás-de escolher, não te metas por uma ao
acaso, senta-te e espera. Respira com a mesma profundidade confiante com que
respiraste no dia em que vieste ao mundo, e sem deixares que nada te distraia,
espera e volta a esperar. Fica quieta, em silêncio e ouve o teu coração. Quando
ele te falar, levanta-te e vai para onde ele te levar."
Em
suma, um bom livro para reflexão. Põe-se em causa o que é que contribui para o
que cada um de nós é e para as opções que tomamos. Será só genética? Será
genética e fator ambiental? Só fator ambiental? O que é o amor? O amor
verdadeiro e incondicional existe mesmo ou é apenas um conjunto de cheiros e
interações que fazem com que as nossas hormonas queiram estar perto das
hormonas de outro ser? Qual o nosso propósito de vida?
Por vezes, o
coração também se engana e fazemos escolhas erradas. Quando isso acontece, resta-nos tirar lições dos nossos erros
e (re) começar de novo.