Ela caminhava pelas ruas desertas da pequena cidade e praticamente era a única sem máscara. Para quê, se não andava aos encontrões com ninguém? E via as pessoas mascaradas pela rua, algumas com a dita pelo queixo ou pendurada no cotovelo...também em alguns (poucos) carros que circulavam, pessoas a conduzir de máscara, essa bem posta, às vezes mesmo casais, e pergunta-se: será que ainda dormem juntos, ainda se beijam, ou…?
Apetecia-lhe cumprimentar as pessoas que passavam por ela, ainda conseguia ver o sorriso por trás de alguma máscara que a olhava e cumprimentava também. Que mundo triste é este com toda a gente amordaçada? Com medo de um inimigo invisível…? O dia também estava cinzento, frio, como a vida, para a maioria das pessoas…Nunca se ouviu tanto o barulho das ambulâncias como agora, todos os dias. Ela agradece baixinho, por mais um dia com saúde.
Tudo fechado. O teletrabalho tornou-se obrigatório, para
quem puder, claro. Ela imagina as famílias em casa, muitas em situação de
desemprego, onde agora “todos ralham e terão razão”, pois ninguém tem culpa de
nada. Aconteceu. Como, por quê, até quando, ninguém sabe nada.
E isso é o pior de tudo. Não saber de nada. Vai ela pensando: além das mortes pelo maldito vírus, haverá as outras provocadas pela miséria (muitas vezes, mental), pela fome, os maus tratos em ambiente familiar (em lares desestruturados, sem pão nem educação, e onde geralmente o vinho não falta), outras doenças graves que agora não são atendidas devidamente…Melhor nem pensar muito, no que vai acontecer a curto ou longo prazo… entretanto, vai-se lendo que os ricos estão cada vez mais ricos, como assim? Pois...há crises que sempre dão jeito a alguns… e o Carnaval está perto, mas…a folia acabou-se, o ser humano não tem sabido comportar-se durante décadas e décadas, e agora é necessária a verdadeira Humanidade, ou estaremos todos F…ritos. "Acordem, larguem os telemóveis e deem as mãos!"