Quando dois estranhos se amam, o que pode acontecer?
Quando dois estranhos se
encontram por acaso, tudo parece improvável. Não há um destino marcado, apenas
a vida a correr normalmente, até que, por alguma razão ainda misteriosa, dois
seres se cruzam e decidem não mais soltar-se, primeiro com certa relutância de
uma das partes. Neste mundo com tanta anormalidade, e insanidade mental, todo o
cuidado é pouco.
Foi assim com ele, rapaz jovem e estrangeiro
que chegou a uma terra algarvia, trazendo na mala a memória do seu país e a
inquietação de quem ainda procura um lugar ao sol. E foi assim com ela, uma
mulher madura do Norte que, ao longo da vida, foi se reconstruindo com raízes
fortes e a coragem necessária, e ainda alguma Sorte, num lugar onde o mar e o
céu se juntam e têm a cor mais azul.
O que pode acontecer quando dois
estranhos desejam amar-se, além de todos os preconceitos que ainda possam
existir num mundo nitidamente em decadência? Talvez o que Aristóteles chamava
de “philia” – “(…) É um amor virtuoso, baseado na reciprocidade, na igualdade e
em valores compartilhados, distinto de amores mais passionais ou
naturais. Para Aristóteles, a philia é fundamental para a
felicidade e para o desenvolvimento da virtude, representando a relação entre
amigos que se apoiam mutuamente no viver. Porém, nesta amizade amorosa, poderá
haver também eros, desejo e química, há também o pathos, essa
intensidade emocional que nos arrasta. Kierkegaard dizia que o amor verdadeiro
é sempre um salto no escuro, um risco. E não é isso que vivemos? Arriscar amar
alguém que não conhecemos totalmente, confiar na entrega, ainda que com medo
das sombras do passado e das dúvidas do futuro.
A psicologia ajuda-nos a
compreender: quando dois estranhos se apaixonam, projetam no outro aquilo que
falta em si mesmos. Ele, estrangeiro, carrega a sede de pertença. Ela, mulher nortenha
a viver no Sul, talvez ainda carregue a coragem de abrir espaço para o
inesperado ou o improvável. Encontram-se assim no meio da carência e da
abundância, como espelhos que se desafiam e completam.
E, no entanto, há poesia: - para ele, amá-la é como descobrir um porto seguro no meio da viagem. É como se o vento do Atlântico soprasse certezas, mesmo quando tudo dentro dele é tempestade. Ela é casa e desencontro, é mistério e clareza, é silêncio que acalma e palavra que provoca. Com tão pouco tempo, ele diz amá-la tanto. Não porque entenda todas as razões psicológicas ou filosóficas, mas porque nela encontra algo que nenhum tratado consegue explicar: a experiência viva do amor. Escreve para ela lindos textos de amor, praticamente todos os dias quando está ausente, e isso tanto a surpreende. Reconhecendo que o amor pode surgir em qualquer idade, não há primeiro nem último, apenas há o Amor que, quando puro e sem maldade, é a base da felicidade de qualquer ser humano.
Como diria Platão, o amor é um “daimon” — algo entre o humano e o divino, uma
ponte. E ele sente que entre eles essa ponte já está construída, mesmo que
ambos estejam ainda aprendendo a atravessá-la sem medo.
Um medo que provoca nela um “ir
com calma e cuidado, sem stress”, a vida é para se ir vivendo, apreciando cada
instante como se fosse o último. E ele tem muita pressa, como se o mundo fosse acabar
amanhã. E, se acabar, foram felizes “para sempre” enquanto durou, tendo vivido o
que era para viverem. Parece que ela emana e persegue o amor desde sempre, e agora
ama o amor daquele jovem que, ainda com um pequeno currículo amoroso, e
curiosamente mal sucedido, deseja de qualquer maneira entrar de cabeça em algo
que desafia a “normalidade”… Mas… por que tudo e todos têm que seguir o que é banal, ou
normal, seja lá o que isso for.
No fundo, quando dois estranhos
se amam, o que acontece é simples e ao mesmo tempo imenso: deixam de ser
estranhos. E passam a ser história.
A história intensa, estranha ainda, mas de amor recíproco entre Felipe e Lina 😊- Almas em construção
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