quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Gente Feliz, sem Idade

Mais um ano que passa. Há quem deteste ou evite (des)fazer anos, há também quem se vista a rigor e comemore/bebemore até o dia raiar, ou à grande e à francesa, eu até nem aprecio Moet Chandon
No meu caso, aniversário é essencialmente aquele dia em que muita gente se lembra de mim, é uma azáfama o dia todo, o telefone não para de tocar e sinto-me uma pessoa super importante; amigos/as que passam o ano inteiro sem ter tempo para ligar ou falar, ou mesmo familiares, mas chega esta data e NUNCA se esquecem, seja por sms, e-mail, telefone, Facebokas ou Skype...isso deixa-me feliz.
Vim para o computador acabar uma tradução, e de repente estava lá o Dr. Google a homenagear-me "Feliz aniversário Lina!" com bolinhos e velinhas HeHeHe fiquei boba! estou cada vez mais importante, e nem sabia.
Presente do Dr. Google

Já foi o tempo (das vacas gordas) em que gostava de reunir uns quantos e era uma festa, com animação. Agora vou (des)fazendo anos tranquilamente. Haja saúde e energia para levantar da cama e sorrir para o sol ou para a chuva, seja lá o tempo que for, o importante é gostar de mim como sou. Se for sol, vai uns mergulhos, se for chuva, ai a caminha é tão boa :D

Não tenho mais idade. Raramente alguém me chama "dona" ou "senhora", e se alguém o faz (geralmente pessoas de idade) soa mesmo estranho. Mas gosto quando (normalmente) dizem "a menina" !
Também não sei dar idade a ninguém, pois isso é um detalhe sem importância para mim. Há muitos homens e mulheres cuja idade não é possível classificar. Se perguntarem a minha, ainda tenho que pensar primeiro e fazer contas, para não dizer errado. Sou da idade da Sharon Stone, Madonna, Michelle Pfeiffer...e de outras mulheres lindas e interessantes que ainda despertam instintos selvagens. 
Pertencemos ao grupo das cinquentérrimas (como diriam as minhas amigas no Brasil) e não mais das cinquentonas. O mesmo acontece com alguns homens que com a idade são cada vez mais charmosos. Não somos velhos, mas também não somos mais jovens, somos ‘ageless’ (sem idade, em inglês) - uma nova geração.

Ao desfazer anos, voltarei a ser criança, aquilo que afinal nunca deixei de ser... devo ser o Peter Pan na versão feminina. Se eu quiser, faço anos todos os dias e todos os dias anos.

Mais que tudo quero ter pé bem firme em leve dança com todo o saber de adulto todo o brincar de criança - Agostinho da Silva, Quadras Inéditas, p.59.

Aproveitando o tema, vou contar um episódio bizarro que aconteceu em 2004, para ilustrar como o que está registado no meu BI nunca combinou com a minha pessoa (a cara não bate com a careta). Estava eu a passar 1 mês nos States (South Lake Tahoe), fui jantar com pessoas amigas a um restaurante; na hora de pedir a bebida escolhi uma cerveja e o garçon pediu-me o documento de identidade! Fiquei a olhar para os outros, tipo "isto aqui é normal?"… (tinha eu uns 45 anos...ainda hoje me parece ficção!)

As diferentes fases da vida que convencionalmente se consideravam infância, adolescência, juventude, idade adulta, meia-idade e idade da reforma, são hoje ideias feitas que perderam significado para esta nova geração, a dos "sem idade". Os pais e avós de hoje nada têm que ver com os de outrora, comprovando diariamente que tudo é possível, em qualquer idade. Em vez de pararem aos 50, é quando começam a viver, a fazer desporto ou qualquer atividade física, a fazer enfim tudo aquilo que não tiveram tempo antes, por algum motivo, geralmente trabalho e/ou família para criar. É uma espécie de saber envelhecer, sem ficar velho. 

Viva EU! e Parabéns à minha mãe (e meu pai) que criaram uma bela peça!

Plagiando Saramago, é assim:

Quantos anos tenho?
Tenho a idade em que as coisas são vistas com mais calma, mas com o interesse de seguir crescendo.
Tenho os anos em que os sonhos começam a acariciar com os dedos e as ilusões se convertem em esperança.
Tenho os anos em que o amor, às vezes, é uma chama intensa, ansiosa por consumir-se no fogo de uma paixão desejada. E outras vezes é uma ressaca de paz, como o entardecer em uma praia.
Quantos anos tenho? Não preciso de um número para marcar, pois meus anseios alcançados, as lágrimas que derramei pelo caminho ao ver minhas ilusões despedaçadas…
Valem muito mais que isso
O que importa se faço vinte, quarenta ou sessenta?!
O que importa é a idade que sinto.
Tenho os anos que necessito para viver livre e sem medos.
Para seguir sem temor pela trilha, pois levo comigo a experiência adquirida e a força de meus anseios.
Quantos anos tenho? Isso a quem importa?
Tenho os anos necessários para perder o medo e fazer o que quero e o que sinto.
José Saramago

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