Conheceram-se
por acaso através de uma amiga comum, num dia de verão, em tempo de férias.
Eram 3 amigas cinquentérrimas, livres
e desimpedidas, mas ele optou por aquela. Era um sexagenário (ou talvez, da
nova geração: sexalescente) bem-parecido, simpático, divertido e muito ativo,
um empresário de sucesso. Pelos vistos, a mulher tinha
resolvido pedir o divórcio e ele não se conformava, estava a atravessar uma fase
difícil; porém, tinha o apoio dos filhos e do futuro genro que o acompanhava nessas
férias…
Ambos do
norte, conheceram-se já nos últimos dias de férias dela. Encantaram-se um com o
outro, ela partiu e continuaram a trocar sms carinhosos antes de dormir. Ela gostava daquele tipo de sedução e ficou à espera dele, ainda levou uns 12 dias para ele
regressar. Depois, quase todos os dias ia buscá-la a casa para jantar fora ou ir passear ao fim de
semana. Ainda tinha que fazer uns bons quilómetros para vir vê-la, e aparecia num Mercedão preto; ela até ficava sem jeito, pedia para ele
esperar na rua de trás, para não dar nas vistas perante a vizinhança curiosa.
Era um homem
que gostava de fazer surpresas e nunca parava, mas nos intervalos dos negócios
fazia questão de estar sempre com ela. A companhia dela agradava-lhe e talvez
fizesse esquecer o drama de “homem bem-sucedido abandonado” (perante o círculo
de amigos e não só) e parecia divertir-se com ela.
Por causa da vida tão
agitada, dormia poucas horas, acordava super cedo quando calhava de dormir em casa dela, uma vez ou outra, pois ainda tinha que fazer uma viagem e a presença do senhor engenheiro era sempre necessária
nas fábricas (pensava ele, e mal tirava férias ou dias de descanso), apesar de já serem geridas pelos 2 filhos e 1 filha. Uma noite até
adormeceu de repente em cima dela… depois muito se riram sobre esse episódio… e
ela nem se importava, afinal o sexo não era tudo, a companhia dele era sempre muito agradável.
Tratava-a como uma princesa, e qual é a mulher que não aprecia isso? Entrava numa loja de marca e dizia “escolhe o que
gostas, que eu compro para ti”; enchia-a de presentes e de rosas; era só
passar alguém a vender aquelas rosinhas a 1 Euro a unidade e ele comprava o
ramo todo para ela, no barzinho, no restaurante… ela irradiava de felicidade, e... como é que a mulher dele o abandonou…? Devia
ter enjoado de tanta gentileza, e esta nunca tinha conhecido um homem assim na
vida dela! Umas com tudo, outras com nada…
Um sábado, marcaram encontrar-se num lugar
‘neutro’, foi buscá-la para passearem no Porsche preto. Pelo caminho ele
lembrou-se que se tinha esquecido do corta-unhas e precisava de acertar uma
unha (da mão) que incomodava… parou no estacionamento do grande shopping, ela ficou dentro do carro mal
estacionado, pois ele voltaria num instante, só ia lá acima a uma parafarmácia
ou algo parecido. Porém, chegou logo o casal proprietário da viatura “presa”, e ela não sabia manobrar o Porsche! Sem graça, pediu
desculpa ao senhor, mas se tivesse pressa, ele que tentasse tirá-lo do lugar…
ele também não sabia lá muito bem, mas ia tentar... até que entretanto apareceu o “amado”
todo eufórico com uma rosa vermelha na boca para dar à sua amada (e nada de
corta-unhas). Foi um momento muito engraçado, amoroso.
Quando
almoçavam ou jantavam fora, dividiam o peixinho fresco e os legumes sempre
grelhados, ou a sobremesa. Nada de batatas ou arroz ou massas. Ele tinha muito
cuidado com a alimentação, para não engordar, era alto e elegante, e queria que
ela seguisse o exemplo: nada de gordurinhas! Até nisso ela aprendeu muito com
ele, conseguindo atingir o peso ideal.
Uma vez ele
ia em viagem de negócios a Barcelona e levou-a, durante quatro dias, para ela
conhecer a cidade enquanto ele andasse ocupado.
Ela chegou a
conhecer alguns familiares (menos os filhos…) e amigos dele. Foi bem recebida e
bem tratada, pois gostaram de o ver feliz.
Ele já devia
prever que não ia ser fácil…com as lágrimas nos olhos uma vez confessou “se um
dia tivermos que nos separar, quero que saibas que serei sempre teu amigo”… e
ela imaginou logo que o conto de fadas teria o seu fim, pois (para todos os
efeitos) estava a sair com um homem ainda casado… e assim foi: em breve, o
príncipe anunciaria à princesa que a mulher voltava para casa (ou, se calhar, nunca
tinha saído), foi só uma ameaça… Ela deve ter sabido que “o marido” andava feliz
por aí a apaixonar-se, com uma mulher mais nova e interessante/bonita, deve ter
pensado melhor… e ele aceitou-a de volta, pelos motivos que só ele(s) sabe(m)… Nem
deu para acreditar… Foram poucos meses de convívio feliz e agradável… com
certeza, os filhos fizeram força para que os pais voltassem a ficar juntos,
havia muitos bens ou património em jogo, um status
a defender perante os amigos, eram uma família unida e bastante conhecida na terra,
e havia uma netinha que o avô adorava…
A princesa andou algum tempo chorosa, inconsolável, sem entender nada, mas tinha que
aceitar o desfecho. Ele continuava a ligar e a querer saber dela, queria presenteá-la,
recompensá-la… como amigo…mas isso não era mais possível. Todos gostaríamos de ter o melhor dos 2 mundos, mas raramente isso é possível; tinha sido uma
história intensa e bonita e foi bom enquanto durou... Assim é a
felicidade: são momentos.
Existe apenas
uma idade para sermos felizes (...)
uma só idade
para nos encantarmos com a vida, para vivermos apaixonadamente e aproveitarmos
tudo com toda a intensidade, sem medo nem culpa de sentir prazer.
Fase dourada
em que podemos criar e recriar a vida à nossa própria imagem e semelhança,
vestirmo-nos de todas as cores, experimentar todos os sabores e entregarmo-nos
a todos os amores sem preconceitos nem pudor.
Tempo de entusiasmo
e coragem com toda a disposição de tentar algo de novo e de novo quantas vezes
for preciso. Essa idade tão fugaz na nossa vida chama-se PRESENTE e tem a
duração do INSTANTE que passa...