segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Proibido proibir

Mesmo adorando a vida… há momentos em que parece já vimos tudo, sentimos tudo o que havia para sentir, ou já nada nos surpreende… nos desiludimos amiúde, e parece não haver mais nada que nos empolgue… especialmente quando se instala a maldita rotina (sei que há pessoas que gostam dela, mas eu não). Quando as coisas precisam ser melhoradas e não se vê ninguém fazer nada. Quando se deixa de dar grande importância ‘ao outro’ porque ficou cansativo “dar pérolas a porcos” ou “dar murro em ponta de faca” (gosto de certas expressões, e de ditados!)
Este frio nunca mais acaba, são para mim dois ou três meses intermináveis, e enquanto hiberno (nos intervalos) penso demasiado e fico neste estado. Sinto que estou a precisar de renovação e ao mesmo tempo quero contribuir para um mundo melhor, quem se junta a mim? Parece-me tudo tão apático ao meu redor, uns andam vendo “a banda passar”, outros comem ou bebem para esquecer, se detonam do jeito que sabem… e eu “em pulgas”… Que quero eu? O que me preenche?
Fora os horários em que ando fazendo cursinhos e mantendo os neurónios ativos (eles gostam e agradecem), vou lendo uns textos super interessantes aqui e ali, e costumo pegar neles para partilhar neste espaço. Este que cito a seguir, por exemplo, sobre a infância ou a juventude. Pouco me lembro dela, mas foi mais ou menos assim para a maioria de nós. Sinto-me uma dinossaura. Quem o escreveu, entre tantos outros textos que diariamente publica, sentirá orgulho que eu partilhe, julgo eu, sem ser necessário mencionar o seu nome. 
A itálico e entre parênteses são notas minhas.

“Quase todos os meus amigos nasceram antes de 1980.
E se pensássemos em tudo o que agora está proibido e é proibido, quase nenhum de nós chegava a este ano de 2018, os nossos quartos tinham componentes na tinta que agora matam, as camas eram pintadas numas cores garridas com tintas cheias de chumbo, nem por isso deixávamos de dar dentadas na cama.
Tudo que era frasco ou bidão de borracha tinha abertura fácil, os armários das cozinhas e despensas estavam todos sem chaves.
Viajar de carro era sem cinto, sem airbags, sem limites de velocidade, sentávamos à frente ou atrás, conforme desse jeito.
Nunca me lembro de ver água engarrafada, bebíamos da torneira mais perto, do rio ou de onde pingasse água, era aí que matávamos a sede.
Partilhávamos tudo e não havia doença que nos assustasse... não partilhávamos as namoradas (talvez os mais hippies, sim).
Nunca pensávamos em dietas porque a brincadeira era na rua, era andar de bicicleta sem joelheiras ou cotoveleiras, tínhamos carros de rolamentos feitos por nós, só nos obrigavam a estar em casa quando o sol se punha, até aí ninguém sabia de nós! Por isso não havia gordos na altura.
Se quiséssemos estar com um amigo, o encontro era na rua ou na garagem da casa dos pais.
Íamos a pé ou de bicicleta para a escola ou para o liceu.
Jogávamos à carica e ao berlinde, às três covinhas, ao prego, à trouxa ou ao canhé. (estes últimos quatro não conheci, mas isso fui eu, que era criada como ‘flor de estufa’; lembro-me bem é de jogar à macaca!)
As miúdas jogavam às madrinhas e saltavam à corda, ou brincavam às casinhas e às enfermeiras, por vezes às cozinhas.
Tínhamos liberdade, fracasso, sucesso e responsabilidade e aprendemos a lidar com tudo.
A malta de hoje, os universitários… já só nos chamam “velhos”, “kotas” e desatualizados... Eles não conseguem imaginar a vida sem computadores. Não acreditam que houve televisão a preto e branco.
Para nós havia 2 Alemanhas, 2 Vietnames, para eles só um de cada um deles. Porém, toda a nossa geração é que produziu muita inovação e várias invenções... fomos treinados para isso!
De facto estamos a ficar velhotes, mas que nunca mais haverá uma infância como a nossa, quase tenho a certeza de que nunca mais! A nossa juventude foi uma sã loucura!”
https://www.youtube.com/watch?v=7Wr-iMoviMA
Verdade. Atualmente, com tanta pseudo liberdade, há tanta proibição, tanto mal falar, tanta crítica e preconceito. E quem não se reprime é o louco. Feliz de quem ainda consegue manter a loucura sã.

EU NÃO QUERO O PRESENTE, QUERO A REALIDADE

Vive, dizes, no presente, 

Vive só no presente.

Mas eu não quero o presente, quero a realidade; 

Quero as cousas que existem, não o tempo que as mede.

O que é o presente? 

É uma cousa relativa ao passado e ao futuro. 

É uma cousa que existe em virtude de outras cousas existirem.

Eu quero só a realidade, as cousas sem presente.

Não quero incluir o tempo no meu esquema. 

Não quero pensar nas cousas como presentes; quero pensar nelas como cousas.

Não quero separá-las de si-próprias, tratando-as por presentes.

Eu nem por reais as devia tratar. 

Eu não as devia tratar por nada.

Eu devia vê-las, apenas vê-las; 

Vê-las até não poder pensar nelas, 

Vê-las sem tempo, nem espaço, 
Ver podendo dispensar tudo menos o que se vê.
É esta a ciência de ver, que não é nenhuma. 

Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos" (heterónimo de Fernando Pessoa)

2 comentários:

  1. Ora então não conheces 4 jogos? Num dia que estiver contigo, porque eu sou um verdadeiro dinossauro daquela cidade e daquela juventude, vou explicar-te cada um deles se assim entenderes!
    De resto gostei de tudo, sobretudo da primeira parte!
    Noite feliz e Bjs

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