Parte
dela começa a sentir uma espécie de… solidão? Está só mas não se sente só,
então prefere pensar em solitude, é um sentir mais poético. A solidão é
destrutiva, mas a solitude é edificante. Faz-lhe bem à alma desligar-se do
mundo, contemplar as nuvens no céu ao cair da noite, as primeiras estrelas a
aparecer, parar e apreciar a grande lua a espelhar-se no mar… enquanto passeia
pelas ruas solitárias da pequena cidade à beira mar.
Pode-se pensar que estar
sozinho é sinónimo de infelicidade, tristeza, não realização da plenitude do
nosso ser. No entanto, nada poderia ser mais errado, pois como diziam os
antigos “a este mundo chegámos sozinhos e um dia vamos partir sozinhos.”
Habituou-se, e bem, a estar
só. Aprendeu que não faria o menor sentido não ter uns minutinhos por dia só
pra ela, para avaliar a vida, os seus objetivos, os seus sonhos. Praticamente seria
como ir para um parque de diversões e não querer andar em nenhum brinquedo, com
medo de tudo dar errado.
Chega a casa e liga a TV, o
rádio para ouvir música, ou mantém a rede social ligada. Algum barulho. Afinal, são essas as
suas companhias diárias, e dessa forma poderá sentir “alguém por perto”...
Nasceu no seio de uma
família desestruturada, a todos os níveis, mas foi o que lhe calhou na rifa
quando veio ao mundo, nada se pode fazer. Sem afetos familiares. Ninguém parece conhecer ninguém, assim sempre foi e nada vai mudar.
Portanto, é como se a sua
solidão, ou solitude, fosse um estado, e não uma escolha.
Quando festejava a
conclusão do curso superior, estava sozinha. Quando adoece está só, deita-se e
dorme, há-de passar. Quando chegam os aniversários, natais, fins de ano, já nem
se importa…
Na solitude tá-se bem… Importante é o que lhe vai na Alma. Afasta-se
com facilidade do que lhe desagrada, ao mesmo tempo que também se envolve
facilmente em encrencas.
Vivendo e aprendendo sempre, na faculdade da vida. Cansada
de ver gente deslumbrada... mentes confusas, incoerentes...outras fingindo aquilo que não são e nem conseguem ser, ou pessoas que não
se amam a si próprias e querem amar ou salvar o mundo – como? – gente estranha
de algum modo, mas… pontapé daqui e dali, vai-se vivendo.
O individualismo
instala-se, claro, como em todos aqueles que se sentem como ela, e assim caminha o
mundo. Sendo honesta consigo mesma, nem pode queixar-se, afinal de contas: o
que lhe roubam de um lado, o Universo compensará de alguma maneira. Por isso é
feliz.
Um dia caminhando para o
trabalho passou por uma linda casa, de cor amarela, cheia de SOL logo pela
manhã, que tinha uma placa “vende-se”. Ficou encantada. Era aquela que queria,
e como consegui-la? Jogar no euromilhões, só assim, claro! Jogou e ganhou muito
dinheiro, o suficiente para ter aquela linda e solarenga moradia. Continuaria a
trabalhar, para as despesas mensais. A partir de agora, já podia chamar as pessoas
amigas para dividir com ela aquele grande espaço, ou mesmo familiares se
aproximariam, quem sabe… Nada como ter uma casinha aconchegante, espaçosa, situada
numa zona agradável, e poder partilhá-la, afastando assim a sua sensação de solidão…
(despertou do sonho,
acordada)
Claro que existem
consequências de se querer estar sempre sozinho, como: não ter convívio social,
não se dar uma oportunidade de ser feliz com outra pessoa, de viajar para
outros lugares e de não conhecer algo que transforme as suas crenças em algo
valioso para a sua própria felicidade.
No meio deste turbilhão de pensamentos e sonhos, é como se sente neste momento. Perdida entre sentir-se sozinha e estar sozinha. Tudo se mistura. Oh cabeça de mulher complicada!
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