domingo, 24 de novembro de 2024

Desapegar é urgente

De coisas: Preocupa-me o facto de poder estar apegada a coisas. Às vezes ponho-me a comprar em repetido, sem me lembrar que já tenho em casa. Tenho que me controlar. E depois há aquelas coisas que penso que é preciso ter, por exemplo, um disco externo, para deixar gravado para a posteridade tudo o que eu tenha escrito ou fotografado ao longo dos anos. Conclusão: o primeiro que tive foi à vida quando caiu ao chão e pifou; tive pena de perder tanta foto que já nem me lembro, de amigos e familiares, de quando frequentei o curso superior, etc. Lá fui eu comprar outro, mais tarde… Esta semana descobri que este, mesmo sem uso e guardado em casa, também se danificou, assim de repente e sem conserto, diz o técnico na loja de informática. Sinceramente, para quê andar a comprar assim? Agora desisto e aprendo. Queremos guardar tudo, o passado ficou lá atrás, e vamos visitá-lo quando?! Sei lá. Pois é, não vou preocupar-me mais em guardar demasiadas fotos ou textos. Afinal, importante mesmo é o que fica gravado no nosso coração, o que nunca será esquecido. Não compro mais discos externos. Fico mesmo chateada com este consumismo exacerbado, ao qual quase somos obrigados. Agora fujo de blue e black fridays, é black november, é ‘promoções’ o ano inteiro e coisas do género que nos deixam assim, a achar que está bom preço e andar sempre a comprar. E assim, continuo a fazer todo o tipo de limpeza na minha existência. Quero aprender a filosofia do minimalismo, que ensina que não temos que viver com o mínimo, mas sim com o necessário. De que adianta eu ter um guarda-roupa cheio se algumas roupas usei uma vez, ou ainda nem sequer usei (em anos), à espera de uma ocasião especial que nunca chega? De que adianta querer comprar vários livros quando não pego num livro o ano todo, porque não há tempo ou há a internet, ou a Netflix… Não há tempo (para já) para querer ser e fazer tudo. Espero (vou tentar) passar a comportar-me como uma pessoa consumista consciente, deixando de desejar bens materiais, supérfluos. Aliás, até penso que não devo ser tão apegada como temo ser. Lembro-me de um caso antigo, quando mal conhecia uma pessoa, eu desempregada na altura, e essa pessoa agiu de má fé ao pedir-me dinheiro emprestado que nunca devolveria, porque tinha tido um problema e poderia devolver os 600€ (!) no prazo de uma semana. Esperei sentada. Foi um choque perceber como posso ser tão ingénua (e desapegada, afinal). Depois disso, só desejei que essa pessoa tenha na vida alguém a fazer-lhe o mesmo, ou aos filhos. A lei do carma funciona, ou lá o que isso for. Pena é que nunca mais foi fácil confiar em alguém, infelizmente; por uns pagam os outros. De pessoas: Num amor, numa amizade, apegamo-nos facilmente quando gostamos ou parece haver algo em comum, mas pode acontecer que, mais tarde, ou com algum tempo de convivência diária, nos apercebemos que não há muito em comum, as energias não se tocam (ou “os santos não se cruzam”). Então, é melhor deixar ir. Isso eu fui aprendendo ao longo da vida. Sofre-se (claro), custa um bocado no início, fica-se até meses a pensar no assunto, se teremos agido bem ou não, mas depois passa. O tempo tudo cura, quando notamos que a nossa paz é tudo. Há as pessoas que ficam para sempre, outras são passageiras, para nos ensinar algo. Nada é eterno, nem coisas nem pessoas. A arte de desapegar não é fácil, quando o apego (a tudo) já se tornou um hábito enraizado, mas pratica-se e consegue-se. Querer é poder. É uma questão de estar bem connosco mesmo, em equilíbrio e em paz com as nossas escolhas e com quem somos. Quando começamos a nos bastarmos, então não precisamos mais de muita coisa material, nem de quem já não acrescenta nada de especial ao nosso viver, e podemos livrar-nos disso. Na realidade, nós precisamos de muito pouco para viver bem.

Sem comentários:

Enviar um comentário