segunda-feira, 26 de maio de 2025

Tempo e Destino

No fim-de-semana, além de curtir uma boa praia, pude assistir a um bom filme na Netflix – “Memórias de uma gueixa” - daqueles que eu tanto aprecio, inspirado em factos da realidade, e com muito amor implicado. Sempre o Amor, meu tema favorito. Sobre uma criança japonesa que é vendida pelo pai a uma casa de gueixas. Ela ficaria destinada durante os primeiros anos às tarefas domésticas, conforme a tradição. Cresce na dúvida e na esperança de encontrar a família, sem compreender o sentido da vida que agora levava, até que, por obra do destino, conhece acidentalmente um dos homens mais poderosos do Japão, muitos anos mais velho, por quem se apaixona imediatamente e, para conseguir chegar até ele, reconsidera o rumo da sua vida para se tornar uma gueixa de sucesso. Não conto o final, vejam, que é triste e lindo. Fiquei a imaginar também a história de um “gueixo”... Um rapazito a apaixonar-se assim sem qualquer explicação óbvia por uma mulher bem mais velha... Lembrei-me de pedir à IA para me ajudar a contar uma estória deste tipo, a versão oposta, e amei a experiência. Tenho me esquecido que existe a Inteligência Artificial à nossa disposição, e que podemos aproveitá-la para coisas interessantes, neste caso, para espicaçar a minha imaginação... Vou ficar amiga da IA. Depois de ajudar-me, ainda se despediu assim de mim “Um abraço sereno, e lembra-te: às vezes, o que tem de ser… simplesmente acontece.” "O QUE TEM DE SER TEM MUITA FORÇA" --- Capítulo I — Amizade improvável ___ Lisboa estava coberta por uma luz dourada de fim de tarde quando Rui saiu do metro. Era abril, e o cheiro a jacarandás começava a espreitar nas ruas. Trazia consigo um portátil e uma certa ansiedade em relação à vida amorosa, pois sofrera com a separação dos pais desde que era criança. Aos 29 anos, já tinha vivido em vários países, de passeio ou a trabalhar na área de IT, estudara Direito, escrevera um livro, para essa idade tinha uma inteligência fora do comum e mal se encaixava nos moldes habituais da sua geração. Resolveu inscrever-se num curso de escrita criativa por impulso, de apenas 3 dias. Talvez procurasse inspiração, ou quiçá uma desculpa para escapar à rotina dos dias. No primeiro dia de aulas Clara entrou. Tinha decidido ocupar o final das 3 tardes com algo que lhe estimulasse a mente e o coração. E ali estava ele, na sala com a professora, o primeiro a chegar, e dirigindo-se a ela, sem mais nem menos, perguntou se o seu nome era Patrícia. Pergunta tola, pensou ela. Vestia um lenço colorido e um sorriso discreto. Mostrava com orgulho o seu cabelo grisalho, sem vaidades. Tinha 66 anos, embora ninguém adivinhasse. Clara considerava-se uma mulher sem idade — com um espírito jovem e livre, com histórias de vida, e silêncios, com uma presença que se fazia notar sem precisar de esforço. Havia nela uma alegria natural, um riso ou gargalhada que muitos apreciavam, era frequentemente cortejada por homens da sua idade — e até mais novos — mas faltava sempre aquele "quê" difícil de explicar. Sentou-se ao lado de Rui, até chegar a outra jovem colega. De uma lista de onze inscritos, apenas os três compareceram. Ficaram então lado a lado no meio da sala, e a professora deve ter se perguntado o que fazia aquela mulher ali no meio de dois jovens. À saída, ao dizer "até amanhã" Rui pediu um abraço a Clara, ela aceitou com um sentir curioso. Por que não? É que tinha havido um clima de “boa onda” durante a aula. --- Capítulo II — Um Amor improvável ___ No final do cursinho, ele ofereceu às duas colegas uma lembrancinha. Clara surpreendia-se com a generosidade e maturidade de Rui, o modo como a escutava e apoiava, o respeito genuíno pelo que ela era, as palavras carinhosas que escrevia. Ele admirava-lhe a leveza, a ausência de pressa e de ansiedade de qualquer tipo, por mais problemas que ela eventualmente tivesse. Ela tentava convencer-se de que era apenas amizade. E é tão bom fazer amigos, de qualquer idade. Ele sabia (ou achava) que não era só isso. — Sabes, Clara… pode parecer absurdo, mas nunca me senti assim com ninguém. Ela sorriu, triste. — Rui, tu és maravilhoso, mas tens idade para ser meu filho. Como poderia isto resultar? Ele respondeu, com serenidade: — Mas não sou. E tu também não és minha mãe. O amor não tem de fazer sentido aos olhos dos outros. Só tem de fazer sentido para nós. Ela riu, sem graça. Depois calou-se. Depois afastou-se, durante semanas. Ele esperou. Escreveu-lhe uma carta que nunca enviou. --- Capítulo III — A Beleza de uma Amizade Infinita ___ Apesar do afeto profundo, Clara nunca conseguiu ultrapassar a ideia de que aquela diferença de idade criaria obstáculos mais tarde. Ele tinha tudo para ser feliz, ainda sonhava casar e ter lindos filhos. E Clara, além de ainda poder ter que enfrentar o preconceito social, ou até ser "acusada de pedofilia" (sabe-se lá no mundo de hoje) estaria a atrapalhar a vida dele, que tanto merecia encontrar alguém para fazê-lo feliz. Rui compreendeu. Choraram juntos, mas aceitaram que talvez o destino deles fosse outro. Continuaram amigos inseparáveis, mesmo à distância, sempre disponíveis um para o outro, caso fosse necessário. Entenderam que o Amor é isso, uma conexão de Almas. Sem explicação aparente. Mais tarde, Rui namorou outras pessoas, antes de encontrar a tal e casar, tendo dois belos filhotes, um casal. E no seu pensamento existia Clara que sempre fora o seu ponto de equilíbrio, a mulher que lhe ensinou o amor mais maduro que já conhecera. E Clara, apesar de desiludida com amores que encantam e desencantam logo a seguir, nunca deixara de acreditar no verdadeiro Amor. — Tu foste o amor da minha vida, mesmo que nunca tenhamos sido amantes — disse ela um dia. — E tu, a minha alma gémea — respondeu ele. --- Epílogo ___ O amor entre Rui e Clara, seja como for que tenha existido, ensinou-os — e talvez a quem os conheceu — que o tempo não manda no coração. E que por vezes, o mais bonito dos sentimentos não precisa de etiquetas, apenas de verdade. E, sobre o tempo e o destino: “O que tem de ser tem muita força!”

quinta-feira, 15 de maio de 2025

15 de maio – dia internacional da família

Qual família? - Nesta frase "a família é a base da sociedade" reflete-se a ideia de que ela é o fundamento, o núcleo essencial que sustenta e estrutura a sociedade. E o que vemos? Sociedades em declínio num mundo caótico onde já mal se suportam uns aos outros, um mundo dividido por causa de cores partidárias e ou clubísticas, escolhas de identidade e género, o ódio a crescer provocado por xenófobos ou racistas, ou misantropos, etc. Gente que odeia "de graça", por tudo ou qualquer ninharia. Casamentos ou uniões que pouco duram porque perde-se facilmente a paciência. Um mundo cada vez mais a dividir, em vez de agregar. Resultado: um ser humano cada vez mais só, ainda que acompanhado. Dificilmente alguém usa as palavras mágicas que todos precisamos de escutar. Porém, esta podridão não é de agora. Por exemplo, sempre houve a pedofilia, adultos a molestar ou maltratar crianças na própria família, e filhos a maltratar os pais, especialmente os idosos, ou vive-versa. Talvez seja mais comum nos dias de hoje, fruto de uma liberdade exagerada e falta de educação, de valores. Há pais ou filhos, familiares, que manipulam, fazem sofrer, consciente ou inconscientemente. Enfim, não vamos fantasiar, porque infelizmente a família é a origem de todos os males (haverá exceções, como em todas as áreas da vida). Sem mencionar familiares que ficam a odiar-se, especialmente quando se enterra um parente rico (ou que tenha amealhado bom dinheiro), e parecem abutres a cair em cima. Um horror, sei de algumas histórias que deixam qualquer um desatinado. E depois admiram-se ao ver certos governantes com ar tresloucado, gente cruel, sabe-se lá de que famílias vieram! Posso também dar o exemplo da minha – a família que eu escolhi, dizem certas teorias. São décadas a ver situações que não fazem sentido, com alguma apreensão, por sentir que alguém do meu sangue e que amo não deve estar bem da cabeça e eu até gostaria de ajudar de algum modo... mas, impossível abrir a boca para falar o que vai na alma; ainda levo com uma ameaça de me “lixarem” o focinho (empregando aqui a palavra mais suave, em vez da vernácula utilizada). E assim desisto da família, aquela que seria ou deveria ser a célula básica onde são transmitidos valores, costumes e aprendizados que influenciam a forma como nós indivíduos nos relacionamos e nos comportamos na sociedade. Fico com pena, uma mágoa que custa a passar, pois os valores familiares têm um impacto significativo na nossa saúde mental e bem-estar. Uma família que priorize o amor, apoio e cuidado, pode ajudar as pessoas a desenvolverem um sentimento de pertencimento e segurança, essenciais para uma boa sanidade mental. Mas é o que é. "Se está fora das nossas mãos, não vamos manter dentro da nossa mente"... Há coisas que não podemos mudar, e não é preciso perder a nossa paz por causa disso. Equilíbrio emocional é a gente aprender a separar o que realmente está ao nosso alcance, daquilo que não está. É necessário sobreviver a quem vive na irrealidade, além do complexo de vítimas que nunca reconhecem os seus próprios erros, e ainda conseguem manipular para fazer-nos acreditar que a culpa é nossa... E está tudo certo. Não há tudo perfeito, muito menos famílias perfeitas. Feliz de quem tiver uma. Não há educação que não apresente falhas nem que não deixe marcas. Um amor que una, sem lei que separe, pode gerar personalidades indefesas perante os desafios da existência; a maior intimidade pode ser oportunidade para a maior violência. Não é possível controlar o passado, o comportamento dos outros, o que pensam sobre nós, ou os imprevistos da vida. Porém, felizmente, sempre estará nas nossas mãos o nosso comportamento, a nossa crença, a nossa capacidade de dar atenção ou não, e o poder de colocar limites. “Nascemos sozinhos, vivemos sozinhos, morremos sozinhos. Só através do nosso amor e das amizades podemos criar a ilusão momentânea de que não estamos sós” (Orson Wells)
Há que ter muita sensibilidade para perceber o que se passa ao nosso redor e aceitar, seja o que for. Verdade: nascemos sozinhos e vamos "partir" sozinhos, mas precisamos uns dos outros para trilhar os desafios diários. Sou feliz, abençoada, porque tenho curtido a minha solitude da melhor maneira, e fico sem tempo para pensar nos males do mundo. Vivo ocupada com coisas boas para fazer, e vou usando o dom da escrita, a que faz transbordar o que habita em mim, pois escrever é compartilhar com uma família universal. É ser livre e também poder participar de algum modo. E um dia estes textos serão para mim uma bela companhia. Gratidão! E... salve-se quem puder!

sábado, 3 de maio de 2025

O Amor de Mãe

Continuando com o meu tema favorito: o Amor. Não importa de que forma esse sentimento se manifeste, seja na união de familiares, amigos ou amantes, é algo inexplicável. Sabemos que sentimos amor por alguém quando essa conexão não se explica. A verdade é que ter uma conexão fora do normal é amar alguém além desse mundo. Ainda que uma relação entre pais e filhos não seja perfeita, o Amor está sempre implícito, está no sangue, é incondicional, não poderá ser de outro modo. Vivo longe da minha mãe e, infelizmente, com a idade a passar, em vez de haver uma maior conexão entre nós, tem sido o oposto. Ela tem ficado meses sem falar, eu também, parecemos duas estranhas às vezes. Aceito a vida como é, e está tudo certo. Entendo que ela não está só, tem as suas preferências, e eu só tenho que respeitar. Foi sempre uma mulher sofrida, amargurada, que se esqueceu dela própria para cuidar do marido e filhos. E esse é o maior erro de muitas mães frustradas que, antes de serem esposas e mães, deveriam ter sido mulheres. Se eu fosse mãe, acredito que eu faria tudo diferente ao educar os meus filhos. Faria deles os meus melhores amigos, não seria necessário dividir para reinar. Entenderia que algum dia poderiam abandonar o ninho e eu tinha que arranjar uma maneira de viver a minha própria vida, continuando a ser o porto de abrigo sempre que precisassem, com o meu colo, palavras de amor e conforto. Evitaria os jogos emocionais, preferia esclarecer qualquer conflito, com um abraço no final. Imagino tudo isso, se bem me conheço. A maior prova de amor que uma mãe pode oferecer aos seus filhos, antes de tudo, é cuidar de si mesma como mulher. É nesse gesto de amor-próprio, de construção da própria identidade para além do papel materno, que os filhos encontram permissão para viver a sua própria jornada. Quando uma mãe vive os seus sonhos, cuida da própria vida e assume as suas responsabilidades como mulher adulta, ela ensina, com presença — e não apenas com palavras — e a filha ou filho também pode fazer o mesmo. A atitude de “mãe galinha” pode dificultar a independência emocional, relacional e até financeira dos filhos. Quando não há espaço para uma separação saudável entre gerações, os filhos carregam o peso de suprir a mãe afetivamente, comprometendo o seu próprio desenvolvimento como homem ou mulher. Não me lembro de ter sido alguma vez incentivada ou valorizada. Agora, se eventualmente alguém me achar estranha, ou destrambelhada das ideias, carente, sei lá, tenho motivos para tal. Pertenço a uma família em que ninguém se (re)conhece, e segue sendo assim com os dois sobrinhos, agora me dou conta. Quando nem a mãe nos conhece, no mínimo, é tudo muito estranho. Sendo Ela, a nossa Mãe, o primeiro vínculo com a Vida que nos é dada, deveria ser a fonte de nutrição emocional. Muitas vezes não é assim. Por isso, infelizmente, há tantas famílias disfuncionais, todos sabemos. Pais não podem dar aquilo que nunca tiveram. Devido às suas próprias limitações, muitas vezes também não conseguem proporcionar aos filhos a experiência amorosa completa, e podem gerar traumas para sempre, havendo quem precise recorrer mais tarde a algum tipo de terapia. Ultimamente fala-se muito das constelações familiares. Quando nos tornamos adultos, podemos reconhecer as limitações dos nossos pais, compreender que não podemos carregar os seus pesos, e podemos aceitá-los exatamente como são. E está tudo certo, a vida continua. Isso gera em nós o AMOR e podemos agradecer-lhes imensamente pela vida que nos deram. Podemos, enfim, olhar para eles de forma mais amorosa e deixar o passado para trás, finalmente fazendo as nossas próprias escolhas daqui para a frente. Esta atitude faz com que olhemos para nós mesmos de maneira mais compreensiva, mais amorosa, mais resiliente. Descobrimos dentro de nós novas dimensões do AMOR, novos valores, novas perspetivas de vida. Passamos a ter mais autocuidado e mais carinho connosco. Assim, o amor-próprio vai sendo construído e fortalecido a ponto de, em algum momento, transbordar e preencher as nossas relações e experiências de vida. Assim seja. De acordo com algumas teorias, quando escolhemos nascer também escolhemos os nossos pais na medida perfeita para termos as experiências que nos propomos aprender nesta vida, para evoluir. Pessoas feridas (pela Vida) ferem pessoas, sem querer. Apesar de tudo, amo a minha Mãe e agradeço ter me dado a Vida, que tem tanto valor, e que chegou até mim através dela; deu-me também tudo o que precisei para desbravar o meu interior e criar o meu próprio caminho. Mais do que nunca, hoje tomo e honro a Vida (a Mãe), e tudo o que mais desejo é viver por inteiro. Com AMOR, a começar por mim própria, e depois para dar e vender.

quinta-feira, 1 de maio de 2025

O 1º de maio

1º de maio, dia do trabalhador, ou seja: o dia de todos nós! Normalmente, trabalha-se oito horas para viver outras oito horas, considerando que se dorme as restantes 8 horas. Feliz de quem consegue, é sinal de saúde. Obviamente, devido aos baixos salários, em muitos casos, há quem trabalhe muitas mais horas para sustentar a família, ou nem que seja para enriquecer rápido. Numa semana trabalha-se cinco dias (normalmente) para aproveitar dois. Há quem trabalhe as oito horas para comer em quinze minutos. Quem trabalhe oito horas (ou mais) para dormir cinco... Trabalha-se o ano todo só para tirar uma ou duas semanas de férias, normalmente (porque não dá para mais, por algum motivo). Trabalha-se toda uma vida para chegar à reforma na velhice, quando normal ou eventualmente começam a incomodar as dores, do corpo ou do espírito. A pessoa começa a querer curtir tudo o que não teve tempo de aproveitar antes. Feliz de quem ainda tiver saúde para isso. Eventualmente, percebe-se que a vida nada mais é (ou foi) do que uma prisão, e acostumámo-nos tanto à escravidão material e social que nem vimos as correntes. A vida é uma curta viagem, há que vivê-la! Colecionar memórias, não coisas materiais. Não posso queixar-me porque também nunca sonhei alto, tenho sido feliz com o que me tem aparecido e que me vai ensinando. Não quero lamentar nada, apenas lembrar os momentos que valeram a pena. Se fosse jovem no tempo atual, faria tudo igual? Com o conhecimento e experiência que agora possuo, provavelmente não, faria muita coisa diferente. Porém…viver feliz é um poder interior da Alma. E posso orgulhar-me de ter esse poder. Se por acaso nasceu comigo ou se o adquiri ao longo do tempo, não sei dizer. Sou abençoada. E ser feliz sem motivo é a mais autêntica forma de felicidade. Muitos estarão a trabalhar neste dia, e poderão comemorar a data em qualquer outro momento. Importante mesmo é saber cuidar de si e impor limites, se necessário; não permitir abusos, em nome do vil metal. A propósito, bem-vindo MAIO, o mês da primavera! Também o mês que é dedicado às mães, o mês de Maria, do Rosário, do Coração. Tanta coisa boa que poderia aliviar as mentes de alguns, mas nem assim. Paira sempre uma nuvem cinzenta em volta, uma pena. Que maio traga muita LUZ, AMOR, FÉ, ESPERANÇA, e ALEGRIA para o coração de todos nós. Nunca nada está perdido quando há uma mente sã, positiva.