sexta-feira, 26 de dezembro de 2025

O natal que passou

Muita gente a escolher a paz de passar o natal só e em silêncio. Confirmando que não sou a única e já o fiz mais do que um par de vezes na vida de adulta.

Mais um que passou, graças a Deus. Na manhã do dia 25, passando pelo supermercado de portas fechadas, antes do almoço, nas ruas com pouco trânsito, que calmaria, que sensação boa de paz, imaginando as famílias em casa descansando com os seus familiares ou com tempo a preparar a "santa ceia". Ainda há menos de 24 horas eu via filas de gente para pagar as imensas compras, ou pessoas que ainda stressavam para encontrar o resto de leitão, de cabrito ou polvo, o que estivesse mais em conta, para quem não gostar do bacalhau…as últimas rabanadas, bolo-rei, sonhos ou frutos secos, o que houver para por na mesa e causar boa impressão aos convivas.

Ai o natal, que devia ser santo, de recolhimento e agradecimento pelo Amor de Jesus que cada um puder sentir dentro de si. Cada um pudesse analisar o que anda a fazer de errado, a si próprio e aos outros. E ao melhorar algo, estaria automaticamente contribuindo para tornar o mundo um lugar melhor para se viver. Em suma, tão bom sentir estes momentos longe do barulho e da confusão diária, pelo menos para mim que me tornei amante do silêncio, ao qual quase me vicio. 

Já assisti a ceias de natal de famílias complexas em que os chamados narcisistas aproveitam as datas comemorativas para estragar o ambiente, pois amam acabar com a dignidade e o bem-estar psicológico dos outros. Imaginemos então uma família com mais do que um narcisista, OMG, é um stress, e até pode acabar em briga ou confronto físico. Há também quem faça, à meia noite, uma oração hipócrita sobre o amor divino. E a seguir, mais brigas, abusos de todos os níveis. Isso é o natal em muitas casas.

Felizmente entendi há muito tempo que posso escolher a paz que necessito, em qualquer época do ano. Tenho as minhas atividades, em casa ou fora dela, livros para ler, a minha espiritualidade que quero manter, pessoas amigas e outras conhecidas que me apoiam, e eu retribuo sempre que puder e se de mim precisarem. Afinal podemos ser todos uma família, cada um na sua casa e na paz de cada lar, sem hipocrisia. O natal não é sobre a ceia do dia 24 ou o dia 25/12, é sobre amor diário, buscar a própria paz, apesar do que nos é externo.

Escrevo para quem, como eu, escolhe passar esta data a solo, e assim criam-se novas tradições: cada um(a) na sua casinha, com seus pets (se os tiver), com a Netflix ou com um bom livro. Com uma oração sincera, ou a regar as plantas. Esse sim é um feliz Natal, uma noite cheia de paz e sossego para nós. Em qualquer idade podemos perceber que é possível haver novas e excitantes tradições, tais como as antigas. E compreender que não vale a pena tentar entender tudo, planear tudo. Com amor, as coisas vão acontecendo, mesmo que sejam diferentes daquilo a que estamos habituados.

Pronto, hoje deu-me para ainda recordar o natal, que tanto dá que falar e “já ninguém liga nada a isso” (este ano até a publicidade na TV aproveitou o mote)… E está sendo a triste verdade. Está a tornar-se uma noite como outra qualquer, só que com bacalhau ou peru, rabanadas, sonhos, aletria e outras sobremesas próprias da época. Quando são muitas pessoas que se juntam e partilham o trabalho e o custo das compras efetuadas, vale a pena. Pior é mesmo quando só uma pessoa tem todo o trabalho, às vezes incapacitada fisicamente, coloca tudo na mesa com amor e com prazer pelo esforço despendido, as pessoas comem e vão embora a seguir, não aguentam estar ali a “fazer sala” por muito mais tempo. Esse é o natal para muitos, pais e filhos e os outros sem sensibilidade para fazer melhor, quando falta a tal cumplicidade ou a conexão familiar, tão essencial.

A amálgama de sensações que este dia/noite nos provoca é de facto imensa. Lembro-me de ter passado de alguma forma por todo esse sentir, nostálgico, confuso, triste, redentor… Ao mesmo tempo, dou comigo também a imaginar grandes famílias, ainda com crianças, festejando com alegria no calor do lar e dos afetos…

A gestão emocional na fase de natal pode ser muito exigente, todos deveríamos estar muito felizes, alegres… só que não! Em geral, é um período de tristeza que mal se consegue definir, que todos esperamos que passe depressa, e quando a emoção está à flor da pele há que encontrar o equilíbrio.

Ressignificar foi o caminho que percorri e que nem tinha sequer vontade, contudo, por mim mesma e pelo amor próprio, fui capaz de tudo ultrapassar. Afinal…Natal é Amor, e o amor por mim mesma é imenso 😊Venha o feliz 2026!

Sem comentários:

Enviar um comentário