sexta-feira, 30 de junho de 2017

De vida flauteada a flatuosa

Estou de volta, acabaram as férias a quase 40 graus, até me cansava de passear a pé com tanto calor, eu que adoro caminhar! chego à minha terra e as temperaturas estão pela metade, praias desertas, chuva… e no momento o que está a dar, após a tragédia dos incêndios, é a notícia do flato (sim, flato, pois não quero ser 'malcriada' como ele) que o SS (Salvador Sobral, esse rapaz que só ganhou um festival da canção, carago, não o idolatrem) não chegou a dar! Não cheguei a ver o programa na TV, mas fartei-me de rir ao ver no Youtube o vídeo do momento mal cheiroso e ao ler comentários via facebook.

Passei alguns dias no país vizinho e pude apreciar algumas grandes diferenças na forma de viver, por exemplo, temos que desayunar, comer y cenar, que cena, tudo é diferente do que estou acostumada e penso que não me habituaria com aquela mistura toda de platos… E o mar, ai aquele mar bom, só se estava bem dentro dele! Ah e na praia muito topless, quem diria, aqui mal se usa, seremos mais puritanos? Senhoras da terceira idade desfilavam tranquilamente de mão dada com seus maridos orgulhosos de “sus tetonas”, umas mais caídas do que outras. As das jovens valia a pena apreciar, sempre podemos comparar com as nossas e fazer uma autocrítica, favorável ou não, ahahah.

Tinha (quase) a certeza de que em Espanha ninguém se dirigiria a mim em inglês, porém, a mocinha empregada de uma gelataria ainda se atreveu a trazer-me a lista de gelados em inglês, ou quando passava em frente aos restaurantes na orla marítima acenavam-me com as ementas dizendo “hello, we have dinner primero plato, segundo” etc... sei lá, já nem ligo, mas as pessoas que comigo passeiam admiram-se e riem muito. Caramba, nem ali escapei.

O povo português tem muito a mania de que é de brandos costumes, ou seja: é tolerante, amável  e hospitaleiro, até demais pelo que parece, pois consegue falar todas as línguas facilmente, só para agradar, digo eu… faz revoluções sem violência, reclama de tudo mas não toma iniciativa… esse é o nosso excecionalismo, não gostamos de conflitos.

Porém, às vezes também é um povo que se passa por qualquer coisita, e usa a liberdade que de repente lhe foi dada criticando tudo e todos. Qual o problema de fazer topless? A mim daria imenso jeito, que trabalheira andar com roupa com tanto calor, e que liberdade…

E o flato do Salvador? essa foi demais. O rapaz quis ter graça e caiu em desgraça, num instante passou de bestial a besta e ganhou inimigos. Comentou a minha mãe que ao escutar o que ele disse, nem deu importância, pensou ter ouvido mal; depois, serviu para rirmos as duas quando nos apercebemos do que estava realmente a acontecer, ele disse mesmo aquilo! Depois do “susto” inicial, o problema nem foi a palavra que até é um ato natural e existe no dicionário português, foi a frase no seu todo, é que ele parecia mesmo "chateado" porque aplaudem qualquer 'porcaria' que ele faz... eu nem aplaudiria tanto assim, há tanta gente boa no mundo das artes, é apenas mais um, mas isso sou eu a pensar agora.

Desde o seu aparecimento na ribalta nota-se que ele nem tem um ar muito ‘normal’ e, afinal, tudo se espera dos artistas, excentricidade é típica deles, mas concordo que também devem saber comportar-se de acordo com as circunstâncias. Podia ter evitado, sim podia, foi um momento infantil de uma pessoa simples e genuína, que não pensou antes de falar perante tanta gente importante na plateia de um concerto solidário. Acabou por ser um momento hilariante (para alguns, chocante) numa cerimónia que lembrava um acontecimento bastante triste. A espontaneidade é muitas vezes confundida com falta de educação ou rudeza. Falta informalidade no povo português, sobretudo em quem ainda tem a mania dos “Dr.”

Resumindo, considero que foi um ato irreverente de um rapaz que está a lidar mal com a fama, ou está-se nas tintas para o vedetismo, e concordo com quem pensa que foi um momento infeliz, mas ele (ou o seu agente) já teve humildade suficiente para vir a público pedir desculpa. Todos podemos errar e da próxima terá mais cuidado, penso eu de que.

Há coisas bem piores que aguentamos todos os dias: os políticos incompetentes, a roubalheira institucionalizada, a vigarice de muita gente por aí, a natureza que de vez em quando nos surpreende e faz das suas, por culpa (ou não) do Homem. No dia 17 de junho de 2017 morreram 64 pessoas porque o Estado falhou na proteção civil, é o que parece ou o que dizem. Se o Estado não ignorasse anos a fio o drama dos incêndios florestais, que levaram naturalmente a essa tragédia, não teríamos necessidade de concertos solidários...

E assim caminha a mediocridade... Pronto, parece que o povo já acalmou - Next!?
Mas que o SS é bom, isso é, ora ouçam:

1 comentário:

  1. Gostei... até da análise feita ao flato e seu autor em noite de crise gaseificada...
    Mas gostei muito do que escreveste e que só agora li, depois dos sonhos, ahahahah Bjs

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