Este
fim de semana tivemos uma sexta-feira 13 que era simultaneamente o dia do Beijo. Sorte de quem os tem, beijos bons e gostosos, todos os dias; azarito de
quem não beija nem é beijado, ou apenas terá amostras de beijitos… É que meio-termo
não aprecio, ou é ou não é!
Se agora há o
dia de tudo, por que não do beijo também? 365 dias não chegam então para
tanta coisa que faz parte da nossa vida! Dos beijos é todos os dias, como dos filhos, dos pais,
enfim… quem inventou estas coisas deve ter tido o objetivo de nos deixar a
pensar que coisas boas existem, no meio de tantas feias ou maléficas.
Não me recordo
de Antes haver este tipo de
lembranças, o dia de tudo… era um dia a seguir ao outro e já está. Empurrando a vida com a barriga, muita gente, muitas vezes. O Antes já está tão longínquo que, de
repente, parece que o planeta virou ao contrário e estamos agora a ver
coisas nunca antes vistas.
Os
filhos vinham ‘sem querer’, às dezenas (não havia anticoncepcional), o homem era o sustento do lar, mulher não precisava
trabalhar. Os filhos ajudavam em casa e mais tarde seguiam ou não a arte do
pai; desde cedo, cada um ia trabalhar e ganhar a vida, ninguém pensava em tirar
cursos e, por mais que os filhos mostrassem habilidades, “não faziam mais do
que a sua obrigação”…As famílias mantinham-se assim unidas.
Atualmente:
A família anda desmembrada, cada um para seu lado a fazer pela vida. O casal
pensa primeiro em ter uma situação desafogada para decidir ter um filho ou, no
máximo, três (se tiver posses, claro); a criança nasce e já pertence ao clube
favorito do pai, tem conta bancária a crescer para, aos 18, já poder ter a vida
feita, comprar um carro bom ou apartamento. Olha que maravilha! E muitos ainda
se queixam, andam em psicólogos, por algum motivo será, exigindo tudo e mais alguma coisa, pois “não pedi para
nascer”, dizem eles… Muitos ainda se casam e, se não der certo, voltarão na boa para casa
do pai ou da mãe, ou dos dois (se ainda coabitarem) e querem é continuar a ter
a “papinha toda feita.”
Evidentemente
há exceções, mas reza a história atual que é mais ou menos isto.
Relação pais/filhos: hoje em
dia até se tornou exagero. Qualquer ‘traquezito’ que a princesinha ou pequeno
príncipe derem, é a coisa mai’ linda e mais cheirosinha que existe no mundo. E
assim crescem as crianças, e eu fico a imaginar a futura humanidade, com essa
autoestima tão elevada que por aí vai, teremos um mundo melhor, ou continuará a
haver gente mal cheirosa a governar-nos como se não passássemos de meros
números…?
Antes: A mulher chegava à
idade casadoira e ai dela se não se casasse! Seria logo apelidada de tudo e
mais alguma coisa, ou se não tivesse filhos…
Atualmente: Mulheres optam
pela ‘produção independente”, escolhem o homem lindo e rico (de preferência,
juntar o útil ao agradável) e vai de fazer um filho, quer seja consentido ou
não, a lei depois obriga o progenitor a assumir, se necessário for… e querem
continuar livres, deixando o filho nos pais para continuar a curtir, etc. e
viva a liberdade!
Além da
produção independente, ainda há agora também elas na paranoia pelos jogos de
futebol, que antes era só apanágio do sexo masculino. Ficam até mais incomodativas do que eles hahaha
Antes: Levávamos um livro
quando queríamos ir para a sanita ‘relaxar’…nem que fosse do Tio Patinhas!
Atualmente: Andamos
sempre com o telemóvel a tiracolo, e até nesse momento de privacidade (bem ou mal) cheirosa vamos
dando uma olhada nas novidades/fofocas, futilidades, sem perder pitada. Que stress!
Imensas
coisas poderiam ser aqui enumeradas quanto às diferenças 'repentinas' num período
de aprox. 40/50 anos, correndo o risco de tornar-se uma lista inacabável e
exaustiva.
Ainda
sobre o Antes e o Depois, às vezes me pergunto se o mundo
era mais feliz antigamente, quando não havia carro para cada elemento da
família, não havia telemóvel para saber se o familiar chegava a horas ou não, e
por aí fora… Como é que se vivia sem este stress? Era possível que não houvesse solidão de
idosos, como tanto se fala hoje em dia…a família estaria sempre reunida, então
eram tempos de felicidade, temos que concluir.
A
solidão é uma ‘doença’ dos tempos modernos. Cada um para seu lado, vivendo
egocentricamente e falando para as máquinas.
O texto
a seguir, cujo autor desconheço, mas parece pertencer a alguém brasileiro,
relata a verdade nua e crua dos dias de hoje. Obviamente, há sempre exceções.
“Era uma vez uma geração que se achava muito
livre. Tinha pena dos avós que casaram cedo e nunca viajaram para a Europa.
Tinha pena dos pais, que tiveram que camelar em empreguinhos ingratos e suar muitas camisas para pagar o aluguer, a escola
e as viagens em família para pousadas no interior.
Tinha pena de todos os que não falavam inglês
fluentemente.
Era uma vez uma geração que crescia quase
bilingue. Depois vinham noções de francês, italiano, espanhol, alemão,
mandarim. Frequentou as melhores escolas. Entrou nas melhores faculdades.
Passou no processo seletivo dos melhores estágios. Foram efetivados. Ficaram
orgulhosos, com razão. E veio pós,
especialização, mestrado, MBA. Os diplomas foram subindo pelas paredes.
Era uma vez uma geração que aos 20 ganhava o
que não precisava. Aos 25 ganhava o que os pais ganharam aos 45. Aos 30 ganhava
o que os pais ganharam durante a vida toda. Aos 35 ganhava o que os pais nunca
sonharam ganhar. Ninguém os podia deter. A experiência crescia diariamente, a
carreira era meteórica, a conta bancária estava cada dia mais bonita.
O problema era que o auge estava cada vez
mais longe. A meta estava cada vez mais distante. Algo como o burro que
persegue a cenoura ou o cão que corre atrás do próprio rabo.
O problema era uma nebulosa na qual já não se
podia distinguir o que era meta, o que era sonho, o que era gana, o que era
ambição, o que era ganância, o que era necessário e o que era vício.
O dinheiro que estava na conta dava para
muitas viagens. Dava para visitar aquele amigo querido que estava em Barcelona.
Dava para realizar o sonho de conhecer a Tailândia. Dava para voar bem alto.
Mas… sabe como é? Prioridades. Acabavam
sempre ficando, ao invés de sempre ir. Essa geração tentava convencer-se de que
podia comprar saúde em caixinhas. Chegava a acreditar que uma hora de corrida
podia mesmo compensar todo o dano que fazia diariamente ao próprio corpo. Aos 20:
ibuprofeno. Aos 25: omeprazol. Aos 30: rivotril. Aos 35: stent.
Uma estranha geração que tomava café para
ficar acordada, e comprimidos para dormir. Oscilavam entre o sim e o não. Você
dá conta? Sim. Cumpre o prazo? Sim. Chega mais cedo? Sim. Sai mais tarde? Sim.
Quer destacar-se na equipa? Sim.
Mas para a vida, costumava ser não:
Aos 20 eles não conseguiram estudar para as
provas da faculdade porque o estágio demandava muito.
Aos 25 eles não foram morar fora porque havia
uma perspetiva muito boa de promoção na empresa.
Aos 30 eles não foram ao aniversário de um
velho amigo porque ficaram até às 2 da manhã no escritório. Aos 35 não viram o
filho andar pela primeira vez. Quando chegavam, ele já tinha dormido, quando
saíam ele não tinha acordado. Às vezes choravam no carro e, descuidadamente, começavam
a perguntar-se se a vida dos pais e dos avós tinha sido mesmo tão ruim como
parecia.
Por um instante, chegavam a pensar que talvez
uma casinha pequena, um carro popular dividido entre o casal e férias num hotel
fazenda pudessem fazer algum sentido.
Mas não dava mais tempo. Já eram escravos do câmbio
automático, do vinho francês, dos resorts, das imagens, das expectativas da empresa,
dos olhares curiosos dos ‘amigos’.
Era uma vez uma geração que se achava muito
livre. Afinal tinha conhecimento, tinha poder, tinha os melhores cargos, tinha
dinheiro. Só não tinha controlo do próprio tempo.
Só não via que os dias estavam passando. Só
não percebia que a juventude se estava escoando entre os dedos e que os bónus
do final do ano não comprariam os anos de volta.”
E
resumindo, tinha que vir hoje aqui blogar apenas para não deixar em branco o
dia do tão apetecido beijo, que foi sexta passada e será todos os dias, apesar de me faltarem...Quem está longe das pessoas amadas é assim (azarito). Até outro dia!
“Não te
beijo e tenho ensejo
Para um
beijo te roubar;
O beijo
mata o desejo
E eu
quero-te desejar.”
António Aleixo, in "Este Livro que Vos Deixo..."