quinta-feira, 29 de agosto de 2019

Temperança

- Solteira e Boa Rapariga -
Não perco esta série que passa na RTP1 toda as noites a seguir às notícias (além do joker) - e tenho eu agora quase 200 canais, oh Gosh!...
Acho muita graça, pois retrata exatamente o que acontece nos dias de hoje com  mulheres de todas as idades e que andam por aí “à toa”… 
Várias aderiram à loucura do Tinder (parece ser o site de encontros mais usado apesar de só recentemente ter ouvido falar), onde esperam encontrar o ‘namorado’ ideal para toda a vida (ou enquanto durar), ou apenas para curtição… Depois conhecem este, aquele, aqueloutro, e nunca nenhum satisfaz, porque apenas se trocam os defeitos, e nada nem ninguém é 100% bom ou fiável... mas valem pelos momentos bem passados, pois a vida é um sopro! 
Para quê stressar…?

Pois é exatamente esse o tema desta série que relata o dia-a-dia de uma mulher quarentona que deseja encontrar o seu príncipe encantado. Uma jovem portuguesa, solteira e boa rapariga, que estudou literaturas modernas, arranjou um emprego numa editora de livros – por pouco tempo – e depois acabou por dedicar-se à tradução. Vive num apartamento pequeno, com dois gatos, e nunca casou. Nunca teve muita sorte com o amor, nem sequer com o jogo. Aliás, ela nunca teve muita sorte com nada na vida. Tímida por natureza, raramente sai, raramente janta fora, raramente viaja e raramente acredita que algum milagre possa acontecer na sua vida. Até ao dia em que completa 40 anos de idade e a mãe - que é uma 'figuraça' e vive a vida intensamente - lhe oferece um vale para uma consulta com uma psicóloga. O seu melhor amigo é agente da P.J. e convence-a a criar um perfil nas redes sociais, mas é no divã da psicóloga que ela encontra a confiança e a motivação para mais um encontro.
E então vai marcando encontros, sempre entusiasmada no início, e mesmo quando lhe aparece alguém tão “perfeito em tudo”, ela fica deprimida e só chora, porque ninguém aguenta ser feliz todos os dias, e até esse não serve…next! - pois a perfeição também enjoa LOL

Pura verdade: vive-se um período de imensa insatisfação e infelicidade, muito embora sejamos bombardeados com as fórmulas da felicidade propostas pelo mercado. Mesmo com o desenvolvimento tecnológico que inegavelmente proporciona uma vida mais confortável que outrora, vivemos constantemente insatisfeitos, escravos das novas necessidades que prometem felicidade, mas que (pelo contrário) nos deixam na mesma, ou ainda pior.
Consciente ou inconscientemente, os seres humanos estão em constante busca de liberdade, paz e felicidade interior, no entanto, não é nenhum segredo que geralmente procuramos fora de nós mesmos a realização dos nossos desejos. Embarcamos na busca incessante do prazer, e queremos afastar-nos da dor, mas a única coisa que isso faz é causar mais sofrimento. Ficamos obcecados com o sucesso, a beleza, o dinheiro, o poder, o consumo, as experiências agradáveis, a aprovação e o prestígio, entre outras coisas apelativas, e tornamo-nos cegos para a realidade de que isso não pode fazer-nos verdadeiramente felizes.

Através dessa série, é com curiosidade, e muita piada, que se assiste a esse tipo de miserabilismo humano, esses desejos que implicam uma insatisfação contínua (na nossa mente básica); quando esta experimenta algo desagradável, anseia livrar-se da irritação; quando experimenta algo agradável, deseja que o prazer perdure ou se intensifique. Portanto, a mente está sempre insatisfeita e inquieta. Isso torna-se evidente quando experimentamos coisas desagradáveis, como a dor. Enquanto a dor continua, estamos insatisfeitos e faremos tudo o que for possível para evitá-la. Mas quando experimentamos algo agradável, nunca estamos contentes: receamos que o prazer acabe rápido, ou esperamos que se intensifique.
Durante anos sonhamos em encontrar o Amor, mas raramente estamos satisfeitos se o encontrarmos. Algumas pessoas ficam ansiosas - e mesmo chatas - só de pensar que existe a hipótese de serem abandonadas pelo parceiro ou parceira; outras sentem que se conformaram com pouco e que poderiam ter encontrado alguém melhor… ou ainda… deve haver quem conheça alguém que consegue experimentar ambos os sentimentos.

Como gostamos de complicar tudo!... Parece que a maior parte do tempo estamos “fora de nós”, o tal EU que fica esquecido. Para tentar religarmo-nos com o nosso EU existe a psicanálise que é uma arte/ciência, à qual muito boa gente poderia recorrer. Algumas pessoas (sortudas) conseguem ajudar-se sozinhas, mas a maioria não. Há quem tenha medo, ou ache melhor, não conhecer-se a si mesmo; Freud chamava a isso de Resistência.

No final da série, prevejo ou adivinho que a personagem (muito bem interpretada pela Lúcia Moniz) vai desistir de procurar o parceiro ideal, ficará tranquila, aprenderá a dar valor a si mesma e a ter programas consigo própria, sabendo lidar com a pressão social. Saberá dizer ‘não’, sem ficar dependente de desejos…pois "ilimitação dos desejos, que nos condena à falta, à insatisfação ou à infelicidade, nada mais é do que uma doença da imaginação.” (André Comte-Sponville)
A temperança é a capacidade de permanecer senhor(a) do prazer, em vez de seu escravo.

A felicidade humana geralmente não se alcança com grandes golpes de sorte, que podem acontecer poucas vezes, mas sim com pequenas coisas que acontecem todos os dias.”
-Benjamin Franklin-

2 comentários:

  1. “Quem tentar possuir uma flor, verá sua beleza murchando. Mas quem apenas olhar uma flor num campo, permanecerá para sempre com ela. Você nunca será minha e por isso terei você para sempre.
    ...
    No amor ninguém pode machucar ninguém; cada um é responsável por aquilo que sente e não podemos culpar o outro por isso... Já me senti ferida quando perdi o homem por quem me apaixonei... Hoje estou convencida de que ninguém perde ninguém, porque ninguém possui ninguém... Essa é a verdadeira experiência de ser livre: ter a coisa mais importante do mundo sem possuí-la.””
    Paulo Coelho

    Tu és um “mulherão” !
    Escreves bem, és inteligente e sabes viver e conviver!
    Sobretudo sabes ter charme!
    Tens tudo para dizer não na hora certa e sim para te sentires plena.
    Ser independente de corpo e alma.
    Não são apenas o dinheiro e o trabalho que nos libertam, mas a autenticidade de sermos nós mesmos.
    Nenhuma mulher que se preze, vai permitir que “tem que ser assim ou assado”, porque ela tem personalidade própria, se ama antes de qualquer restrição e não se acata a ditaduras alheias.
    Tu és assim e no teu texto retratas-te com todo o teu charme, oh “mulherão”!
    Gostei muito e desejos de tudo de bom sem tinder que é uma grande treta essa de andar a tinderar!
    Bjão

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  2. Uii babei (de novo)... Sábias palavras essas que tão bem me fazem, para animar o meu simples e sensível EGO que apenas alguns (privilegiados) saberão perscrutar... às vezes acho que sou mesmo uma FLOR que foge sempre de quem quer machucá-la ou murchá-la... Uma flor que escolhe ser FELIZ na sua LIBERDADE consciente, sabendo respeitar a liberdade do outro, para voar e ser feliz também... Obrigada Rafa e que tenhas sempre tudo de bom nessa tua vida (airada) rs Beijinho

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