Brinco, ou Brinquinho, Marlon Brinko, Bóris Kaza, Joyns Brinkoptik...
13-02-1959 a
26-09-2015
Gostava de ter vários heterónimos, tipo Fernando
Pessoa... e até no desassossego podia comparar-se ao poeta. Tinha uma energia
fora do comum, e subitamente podia ficar muito em baixo, quase hibernava, fora
do mundo.
Era muito conhecido no Porto pelo nome de Brinquinho,
desde o tempo em que estudava em Belas Artes, pela forma irreverente de viver e
apresentar-se aos outros. Pelas performances de rua em que gostava de chocar a
plateia (ela ouviu contar algumas peripécias do seu passado, uma delas era que
tinha andado acorrentado pela cidade do Porto, tipo Cristo!). E a dançar, era um show, o espaço
era todo dele, ninguém o segurava!
Anos 78/79. Ele vendia artesanato
(especialmente brincos, daí o apelido) na rua Santa Catarina.
Ela trabalhava numa empresa ali perto, quase em
frente. Saía do trabalho no final da tarde e costumava juntar-se a amigos que
também tinham banca ali na rua, outros juntavam-se mais tarde e ficavam
todos na conversa. Olhava de relance para aquela "figura
diferente", um rapaz que até era bonito, com ar de Marlon Brando, de cabelo loiro fino e comprido
(apesar de pouquinho cabelo em cima), usando calças jardineiras sobre o peito
nu, descalço, de brinco (não era coisa de homem naquela época), lábios pintados
de preto (viu ela um dia) bem desenhados, em suma: um verdadeiro hippie.
Foi dos primeiros, se não o primeiro homem, a usar guarda-chuva colorido. Era
escandaloso para aquela época em Portugal. Tudo o que é diferente sempre a
atraiu, e nunca lhe passaria pela cabeça que ele também tivesse reparado nela,
uma rapariga insossa e meio arrumadinha, apesar de gostar de vestir-se
meio africalhada.
Entretanto, ela, que morava no Estádio das Antas
(ninguém podia acreditar) conheceu um basquetebolista de terras longínquas e
apaixonou-se. Foi morar para o Brasil, casou-se, entretanto, porém mais tarde
regressou, sentia-se longe e sozinha e preferiu voltar para perto da
família.
Passaram-se alguns anos, era fim de ano 1995. Havia
uma reunião de amigos para celebrar a passagem do ano. Amigos em comum. E lá
apareceu ele, o Brinquinho, de boina, e ela reconheceu-o logo. Estava
carequita, bem diferente. Era prof nos Açores há uns 7 anos e vestia-se de
forma normal agora, parecia mais bem-comportado.
Não se sabe se foi paixão à primeira ou segunda vista.
Simplesmente aconteceu. Enrolaram-se, apaixonaram-se, possivelmente estavam
ambos carentes, anos sem terem alguém para amar e ser correspondido. Um dia ele
comentou "nunca pensei envolver-me com uma filhinha do papá"...
("you are beautiful, but you got problems”) ...
Foram praticamente 2 anos a namorar pelo
telefone, pois ele teve que voltar para os Açores. Depois, pediu transferência
para o continente e casaram em 1997, pela igreja, como ela sonhava. Foi na
aldeia com familiares e amigos, o burrito levou-os até à capela de Santo
António. Ele estava lindo, vestido à Phil Collins (pensava ela). Ele era um
homem bonito e estavam ambos felizes. Não houve fotógrafo contratado, alguém
tomou a iniciativa de tirar fotos e depois soube-se que ficaram queimadas.
Pouca coisa restou para a posteridade. Até nisso foi tudo diferente do normal.
Com o passar dos anos, as diferenças foram se
acentuando. Ela esperava ser importante ao lado de alguém especial, levar uma
vida interessante e com criatividade ao conviver com um artista, mas nem ela
foi importante nem ele especial... a rotina instalou-se, houve muitos momentos bonitos,
mas houve muitos mais desagradáveis, com palavras feias; ele era sempre do
contra e criava conflitos onde quer que fosse. Odiava fardas e tudo o que
representasse a lei; era antitudo. Francamente, parecia que tinha até casado
contra ela (não com ela) ... Como qualquer mulher, queria ter uma mobília "normal" de sala, ele implicava com o assunto, ela foi comprar à revelia... quando a viu, ele mandou trocar tudo, veio outra melhor, na ideia dele... era uma consumição para fazer-se qualquer coisa...
Cada um começou a seguir por caminhos diferentes. Ela ainda queria (dar e) receber muito da vida, ele pouco ou nada queria! Os amigos de ambos não eram mais os mesmos, ela decidiu separar-se (infelizmente). Ele reagiu mal, mas já eram 7 anos à espera que a relação desse certo; parecia que ela perseguia a Luz e ele procurava as trevas. A irreverência deu lugar ao inconformismo, ao mal-estar.
Ela quis deixá-lo livre para ser feliz com outra pessoa que o entendesse. Aconteceu o divórcio e nunca mais se falaram, com muita pena dela, pois entendia que podiam ser civilizados e conviverem normalmente, pelo menos ao fim de algum tempo, depois que a dor passasse. Pelo menos foi assim que aconteceu com outros (poucos) amores dele...
Cada um começou a seguir por caminhos diferentes. Ela ainda queria (dar e) receber muito da vida, ele pouco ou nada queria! Os amigos de ambos não eram mais os mesmos, ela decidiu separar-se (infelizmente). Ele reagiu mal, mas já eram 7 anos à espera que a relação desse certo; parecia que ela perseguia a Luz e ele procurava as trevas. A irreverência deu lugar ao inconformismo, ao mal-estar.
Ela quis deixá-lo livre para ser feliz com outra pessoa que o entendesse. Aconteceu o divórcio e nunca mais se falaram, com muita pena dela, pois entendia que podiam ser civilizados e conviverem normalmente, pelo menos ao fim de algum tempo, depois que a dor passasse. Pelo menos foi assim que aconteceu com outros (poucos) amores dele...
Passaram-se 6 anos. Ela achava que ele estava feliz
quando soube que ele tinha reencontrado um amor (?) do passado. Transcorrido
algum tempo, soube que foi operado de repente; a pior doença tinha surgido
sem avisar a alguém que sempre evitou os médicos e as drogas (legais, dizia
ele). Ficou chocada, muito triste, ao ver o aspeto dele numa foto publicada no
facebook.
Depois, parece que foi tudo muito rápido. Soube que
ele tinha partido em dia/noite de lua cheia, tal como quando nasceu, só
não era dia 13 mas dia 26 (13+13) ... terá ele escolhido esse dia de
linda lua cheia para encontrar a paz que não conseguia encontrar na
Terra.
Era um daqueles seres que, por mais que
vivam, não se adaptam a este mundo, cruel e insensível, e tornam-se
incompreendidos. Foi assim a sua última performance, sem plateia, deixando
todos chocados com a sua partida prematura. Pessoas especiais, como James Dean, Jimi Hendrix, Marilyn Monroe... não as imaginamos a envelhecer nunca...
Ela ficou inconsolável. Nada faltava para que tivessem
sido tão felizes juntos. Com ele aprendeu tanta coisa, apesar das diferenças… e
ambos sonhavam com um amor para sempre, então... porquê? Talvez fosse assim o
destino 'marcado' (?) para cada um, ela ainda teria que viver outras histórias
e aprender muito com a vida e.… com ele nunca teria ido parar ao lugar onde
está a gostar de viver atualmente... e bem poderiam tê-lo feito!....
Nesta foto, o
Brinquinho num momento tranquilo e feliz; fica a saudade das suas peripécias e
do seu sorriso.
A vida é um
momento... um mistério... um sopro.
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