quinta-feira, 9 de junho de 2016

Mary Lynn

São nomes fictícios nesta historinha real, para preservar a identidade das duas amigas: Mary e Lynn.
Esta última começava a viver um casamento complicado com uma pessoa desadaptada, pois não era normal estar ao lado de um homem tão insatisfeito com tudo na vida. Ainda não se falava da tal crise e, ambos ganhando bem, poderiam ter feito uma vida desafogada. Mas não, era o rame-rame diário, sem novidades nem surpresas. Mais chatices do que alegrias. Ele era das artes, queria muito ter espaço (e tempo) para continuar a pintar ou desenhar (era bom nisso), porém, tudo era um empecilho para justificar uma apatia instalada; já tinha juntado alguns trabalhos feitos no passado (muitos guardados que ela nem chegou a conhecer), mas depois estagnou, e só procurava os amigos 'para perder tempo'... Lynn pensava, como se sentiria realizada se tivesse o talento e as possibilidades dele, como teria feito tanta coisa interessante para mostrar ao mundo! E mesmo que ela quisesse ajudar, não era fácil, ele demonstrava ter uma personalidade "belicosa", apesar de um dia ter se livrado do serviço militar por considerar-se objetor de consciência (vamos lá entender isso). Só criava problemas e mau ambiente, quer fosse em reuniões familiares, num restaurante, no bar ou na praia, por exemplo.
Lynn ainda se lembra, estava um dia bom de praia, os dois refastelados na areia junto ao mar, ele decidiu ir nadar. Tinha iniciado a época balnear, com os nadadores-salvadores atentos e com regras para serem cumpridas. Não era permitido afastar-se para muito longe da costa. Porém, ele era meio "selvagem", odiava regras, fardas e tudo o que representasse a lei, era capaz de subir às árvores, calcorrear uma cidade toda a noite, se necessário fosse, para 'espalhar a ira' quando algo não corresse bem ou lhe desagradasse, e naquele dia decidiu que ia nadar para longe dali. Os vigias começaram a apitar para ele voltar para trás, ia longe demais, mas nem queria saber. Tiveram que ir ao encontro dele numa embarcação. Ela fica vendo de longe a cena: os homens discutindo no meio do mar, nem podia acreditar! Quando finalmente decidiu voltar, juntou-se a ela, ainda reclamando (para variar...) -  e ela já nervosa, não havia sossego em lado nenhum, nem na praia! A seguir aparecem dois agentes da autoridade marítima para tirar satisfações e ele continuava a discussão, sem fim! Lynn levantou-se, farta, e pediu-lhes desculpa (em nome dele), que aquilo não voltaria a acontecer.
E eram assim cenas muito tristes de vez em quando. Lynn estava cada vez mais desanimada com o casamento, com o qual sonhara, pela igreja. Lembrava-se ainda de um aniversário dela, uns anos atrás, praticamente no início da união, quando decidiu escolher um restaurante diferente para festejar a data, convidou mais 2 amigas e foram para lá. Ele começou a desatinar que ali era tudo muito "fino", implicou com a empregada, com a comida, com o lugar... nunca nada estava bem para ele; criou-se um ambiente 'de cortar à faca', e no fim ela saiu do restaurante a chorar, sentindo-se infeliz.
Lembrava-se também de outra vez sairem (mais 2 'amigos' anormais) para tomar café num bar/discoteca da cidade em dia da semana e a noite acabou com ele a levar grande tareia do segurança no meio da rua, a ponto de ir parar ao hospital, e na noite de natal ter que comer com uma palhinha as batatas com bacalhau, pois levou pontos e ficou com a boca fechada algum tempo. Só por ter 'incomodado' e (depois) provocado o segurança, por causa do preço do café naquele lugar, e que nem foi ele que pagou!... Na qualidade de objetor de consciência e masoquista, pedia mais porrada e o segurança obedecia. Lynn gritava, desesperada, mais um pesadelo que estava vivendo, e os 'amigos' nem o defenderam! (inacreditável)...
Uma vez (talvez no verão de 1999, não se recorda bem do ano) foram passar alguns dias de férias no sul, onde há boas praias e o tempo é quase sempre ameno. Foram jantar num restaurante à beira-mar, com sangria para os dois, e parecia estar tudo a correr bem; depois da refeição iriam encontrar-se com pessoas amigas num barzinho perto dali, colegas dele, para curtirem juntos o resto da noite. Enquanto caminhavam pelas ruas tranquilas do lugar, de repente parece que lhe deu um "piripaque"... parecia estar a sentir-se mal, ela perguntava o que estava a acontecer, ou o que sentia, e ele nada dizia, balbuciava qualquer coisa que ninguém entendia! Ela ficou incomodada, sem saber o que fazer, e vendo-o deitar-se no meio da rua (de noite) desesperou, seguiu sozinha até ao bar, ao encontro dos colegas. Junto à entrada estava uma mulher "toda boa", uma morena cheia de curvas (Mary), que viu Lynn entrar no bar chorando e perguntou o que tinha acontecido. Esta explicou que tinha o marido estendido numa rua ali perto e não sabia o que fazer... Mary disse "leva-me até lá e verei se posso ajudar!". E lá foram as duas à procura do "doente".
Quando Mary chegou ao lugar, ele abriu os olhos, e teve aquela visão, não a daquela loira (a original, e imortal), mas a de uma morenaça com um vestido branco e curto. Disse ele "chegou o meu anjo!" e logo arrebitou quando ela começou a falar rindo para ele. Lá se levantou e foi juntamente com as duas para o bar. Mais tarde, Lynn ouviu-o dizer que tinha sido a sangria que caiu mal, devia estar passada. Era um exagerado! E ela estava cansada destas cenas e do desassossego... Seria o 2º ano de um casamento, e tinham tudo para ser felizes...
Happy-end desta história: as duas trocaram contactos telefónicos, ainda se encontraram algumas vezes, mas um dia deixaram de se ver. Mary tinha casado e parecia ter uma vida feliz, viajando muito. Os anos foram passando, cada uma seguindo com a respetiva vida de casada. Lynn entretanto também se divorciara, e mais tarde mudaria o número do telemóvel. Algum tempo depois recebe uma chamada: era Mary, tinha ficado viúva, estava inconsolável de tristeza, e nunca tinha esquecido a maneira como conheceu Lynn. Estava há algum tempo a tentar reencontrá-la. Até hoje Lynn não entende como reataram a amizade, uma vez que ao mudar de operadora telefónica tinha ficado incontactável para muita gente...
Compensações, coisas da vida, do destino. Estavam predestinadas a serem grandes amigas 'para sempre'... mesmo sem se verem amiúde preocupam-se uma com a outra; às vezes saem para passear, dançar, divertir-se, e até já passaram férias juntas. Seriam irmãs de outra vida? Nesta era o que pareciam! Assim, de repente, podem nascer boas e eternas amizades que fazem a vida mais colorida!

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