terça-feira, 15 de maio de 2018

O que fazemos da vida

Já que falei de cabelos brancos, e também da sociedade que é feita de pessoas, cada uma mais diferente do que a outra, aproveito para abordar o assunto de gente idosa abandonada ou maltratada. Especialmente quando se aproxima o inverno há notícias frequentes sobre idosos que vivem na solidão etc. e tal… Não contesto que possa acontecer com uma grande franja da população idosa, o que não aceito é que os idosos sejam vítimas da solidão. O que penso deste tema tão polémico, e de acordo com o que me vou apercebendo, é que muitos idosos que vivem isolados estão apenas a viver em consonância com aquilo que foram durante a vida ativa.

Pessoas egoístas, com muito mau-feitio, desconfiadas, que entraram em conflito com família, amigos e vizinhos, quantas há? E depois, naturalmente, acabam isoladas de todos. Quem está para aturar pessoas assim?!

Quanto à família, supostamente, é para amar-se ou aguentar-se uns aos outros, ou, se for possível, as duas emoções em simultâneo, não se abandona. Ademais, não creio que pessoas educadas com amor e cuidados vão repudiar quem as gerou ou quem as criou. Pode até acontecer, mas serão a exceção.
Assim como são exceções as pessoas idosas que vivem em aldeias que entretanto foram
abandonadas, seja por emigração, seja por morte dos habitantes mais velhos. Esses casos são realmente dramáticos, e a solidão dessas pessoas, de facto, muito desoladora. Contudo, nos casos que ouvimos na televisão, os idosos normalmente vivem em centros urbanos, em prédios, com vizinhos ao lado. Não me parece que a indiferença das pessoas da cidade seja pretexto para justificar estas situações. E estatísticas são sempre duvidosas.

A solidão, por si mesma, não faz vítimas; as pessoas é que se vitimizam, isolando-se, numa forma de viver egocêntrica, virando costas a tudo e todos. Por isso, não será de estranhar quando a sociedade lhes responde da mesma forma. 

E já agora que falo em vitimização, essa é coisa que me tira do sério! Até o que acontece por acaso, não é por acaso que acontece. A vida é um eco, não é mais do que a materialização da energia que emanamos, e a muita gente custa acreditar nisso. Por experiência própria, sei o que é lidar com quem tem a síndrome da autovitimização (ou do coitadismo), e dói mais ainda quando são os nossos seres amados a sofrer desse mal. Pessoas com enorme potencial, mas que assumem um papel dramático e autopunitivo na vida, autoprogramando-se para o fracasso. Coitadistas costumam dar logo nas vistas, são renitentes à mudança, dificilmente saem da sua zona de conforto (ou da cepa torta, como antes se dizia), são repetitivos, cansativos, pessimistas. Muito difícil conviver com a miserabilidade do ser humano.

A propósito: adivinhando as minhas preferências literárias, um amigo recente teve a simpatia de oferecer-me um livro de Augusto Cury “Armadilhas da Mente” que nos leva numa fascinante viagem pelos complexos labirintos da psique humana. Uma mulher multimilionária e atraente, com argúcia e inteligência acima da média, nada lhe falta, porém, vítima de crise existencialista ou das suas próprias emoções, sofre horrores para conseguir encontrar-se com ela própria. Não é feliz de maneira nenhuma e inveja a felicidade de quem a rodeia, pessoas sem praticamente nada, que apenas sorriem sem motivo… Aconselho a leitura.
https://www.youtube.com/watch?v=UgAFcvIw8J4
Tenham uma ótima semana, e boas leituras! 

1 comentário:


  1. Gostei! Gostei dessa tua preocupação com a velhice, sobretudo com a indiferença perante os ascendentes... revela-te assim como a tua sensibilidade! Sentimentos finos e bonitos! Beleza!
    Lembrei-me e partilho contigo um poema sobre o tema... talvez gostes por reforçar o teu pensamento e dar-te razão.
    Assim, e com desejos de noite feliz e Bjs, aqui fica para saboreares as palavras.
    “”.

    Como se morre de velhice
    ou de acidente ou de doença,
    morro, Senhor, de indiferença.

    Da indiferença deste mundo
    onde o que se sente e se pensa
    não tem eco, na ausência imensa.

    Na ausência, areia movediça
    onde se escreve igual sentença
    para o que é vencido e o que vença.

    Salva-me, Senhor, do horizonte
    sem estímulo ou recompensa
    onde o amor equivale à ofensa.

    De boca amarga e de alma triste
    sinto a minha própria presença
    num céu de loucura suspensa.

    (Já não se morre de velhice
    nem de acidente nem de doença,
    mas, Senhor, só de indiferença.) “”

    Cecília Meireles

    https://youtu.be/J_NDJaXXy-w

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