quinta-feira, 7 de junho de 2018

JUNHO

Emoções, o alimento da Alma
Quero ainda falar sobre junho, um mês que costuma antever grandes emoções, como as festas dos santos populares, este ano novamente o mundial de futebol (mais loucura), a chegada do tão desejado verão (emoção para alguns, pois há quem prefira o frio)… e que sempre começa com a homenagem à Criança logo no seu primeiro dia!
E que tempo é este, frio, chuvoso, cinzento; onde anda o nosso SOL, famoso privilégio deste cantinho à beira-mar plantado? Parece que este ano a prima vera nos fugiu, que desclassificada, mas então que venha logo o Sr. Verão, que a maioria de nós espera com ansiedade, seja para o que for e onde quer que seja que vamos desfrutá-lo.
Aproveitei o feriado religioso, o dia da criança e o fim de semana para ir a Aldeia visitar uma família que prezo muito. Sim, e é mesmo com letra grande, é Aldeia e é Formosa! O lugar onde um dia nasceu  uma criança, no seio de uma família como tantas outras, com todos os defeitos e virtudes. Aí foi crescendo com muitos sonhos, e ganhou traumas também. Eram outros tempos, outras mentalidades, e os pais não faziam a mínima ideia das emoções que podem causar numa criança. Ainda hoje, muitos não sabem. Mais tarde, tornou-se um jovem inconformado com tudo, tornou-se praticamente um outsider quando se mudou para a cidade grande, porém sem perder o gosto e a vontade de voltar àquela aldeia tão tranquila sempre que tivesse oportunidade.
Tornou-se homem, tirou o curso da sua preferência, ganhou uma profissão, dessa havia dúvidas se era do seu gosto. Os anos passaram, com muitas emoções pelo caminho, às quais nunca se ajustou muito bem. Não havia paz dentro de si e, consequentemente, era uma pessoa problemática gerando intranquilidade ao seu redor. Sempre que tinha oportunidade, lá estava ele a contar o seu maior trauma de infância, entre outros eventualmente. Quem ouvia, sentia a frustração e a sua grande tristeza.
Apesar do seu bom coração, como a tanta boa gente, faltava-lhe o combustível da vida, o Amor, o verdadeiro, aquele que todos querem sentir e nem sempre é fácil ou atingível. Muitas desilusões acontecem sempre pelo caminho, pois a maioria de nós tem a tendência para criar expectativas… e são só baldes de água fria. Mesmo assim, essa criança grande ainda ambicionava um dia voltar à sua aldeia, depois de herdar alguma parte dos terrenos da família, talvez construir uma casita à sua maneira com todo o espaço com o qual sempre sonhara… Mas a Vida prega-nos partidas, essa criança partiu de repente e prematuramente aos 56 anos de idade, repousando agora alguns palmos abaixo da terra, a poucos metros da casa dos seus pais já de provecta idade…
Foram estas emoções que eu vivi em poucos dias. Visitei a sua campa e fiquei a pensar (ainda mais!) que raio é esta passagem pela Terra...Inesperadamente tudo acaba, e o que levamos daqui? Sonhos por concretizar, emoções mal resolvidas ou mal vividas, que acabam por nos infernizar anos a fio, e, mais cedo ou mais tarde, matar-nos.
Quanta gente existe emocionalmente doente? Nem nos passa...Como essa pessoa, conheço outras que contam histórias tão tristes, tão antigas, e não conseguem sair delas. Ficou tudo entranhado na alma. As alegrias são mínimas comparadas com toda a escuridão que as persegue. Pessoas que não fizeram amizades, não têm gosto em ler um livro (dizem que já sabem, já leram tudo), não fazem voluntariado, não caminham um pouco diariamente pois se queixam que (já) dói tudo...claro! Gostariam apenas que alguém lhes lavasse o cérebro, mas como?  
Quem os rodeia sente-se impotente, ao ver tanta frustração e traumas acumulados, sem conseguirem ‘mover uma palha’ para mudar algo, anos a fio, a começar por si próprio/a. E então… espera-se a Outra Vida, porque nesta já nada encanta…?
Penso eu que, se cada um de nós não souber ser psicanalista de si próprio, não há nem psiquiatra ou psicólogo que ajude. Ou se houver, será uma sorte, além de todos os custos associados a essa possível ajuda (para quem pode)…
Como lidar com as emoções, para alimentarmos correta e conscientemente a nossa alma? 
Não há emoções más e boas, pois todas têm a sua importância, e uma das regras essenciais é saber interpretá-las e vivê-las adequadamente, identificar os seus benefícios e os seus efeitos secundários, para que assim a nossa alma seja sã e possamos viver em harmonia connosco e com quem nos relacionamos.
É preciso parar um pouco e perguntar: “Como me sinto perante esta situação?”, “O que sinto perante esta pessoa?”, “O que me diz este sentimento, esta emoção?”. Estas perguntas levam a uma viagem pelo nosso interior e por todos os processos que vivemos diariamente para que possamos então identificar a reação que determinada emoção está a causar na nossa alma, se estará a nutri-la ou a adoecê-la.

Quando uma determinada relação (seja qual for o contexto) não é promotora de felicidade e bem-estar, está a adoecer a nossa alma, pois funciona como um alimento com reduzido valor nutricional que ingerimos incessantemente e que a curto ou longo prazo irá originar uma doença ou um mal-estar constante. Não devemos esperar que a doença se instale, devemos terminar a ingestão de determinadas emoções provenientes dessas relações, logo no momento em que começa a causar incómodo e sensações menos positivas.

As nossas emoções são o alimento da nossa alma e por isso devemos escolher e ingerir as que potenciam a nossa saúde, as que promovem a nossa felicidade, por exemplo o que sentimos nos momentos que nos fazem sorrir, chorar de alegria, nos momentos de amor e amizade. Quando abraçamos, beijamos, quando cuidamos, quando amamos e somos amados estamos a alimentar a nossa alma com emoções positivas e nutritivas. 
Quando vivemos com raiva, medos, angústia, desconfiança, mentira, magoamos e somos magoados, estamos a adoecer a nossa alma com emoções menos positivas e nada nutritivas.

Vamos fazer as nossas escolhas, tentando compreender as nossas emoções. Vamos transformar a nossa vida e, de modo consciente e saudável, alimentar a nossa alma e a nossa essência harmoniosa, para que sejamos mais felizes!
É o que desejo a todos os seres vivos, a quem me aprecia, ou me segue aqui, talvez comungando do mesmo sentimento, da mesma emoção…
"Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso frequento os jornais,
me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos...
"
Carlos Drummond de Andrade

4 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Boa tarde Lina!

    Há emoções que são básicas como a felicidade, a tristeza, a ira e o medo.
    Eu sou emocionalmente adepto ou fã da felicidade!
    A felicidade é o sentir da melhor das emoções, é o humor ao alcance dos que nos rodeiam e de nós mesmos, é a forma de se estar envolvido no que se está a fazer com prazer de se viver.

    A felicidade é o verdadeiro estimulante para as pessoas tentarem alcançar objectivos mais elevados e alcançáveis, também a continuar o que estão a fazer para o melhor das emoções e a resistir à mudança para outro estado que não seja a felicidade!

    Quando estamos felizes, quando nos sentimos bem com nós mesmos, somos igualmente mais úteis a quem nos rodeia, sobretudo aos amigos e também somos muito mais cooperativos com a sociedade.

    Para se alcançar a felicidade, ou bem-estar, temos que considerar que há algumas actividades para gozarmos como são os jogos, as férias, a leitura de romances, os filmes, as conversas.
    Tudo isso envolve-nos emocionalmente e envolvem-nos de forma feliz no que estamos a fazer!

    A tristeza é o oposto da emoção que é a felicidade.

    Em comparação com o medo, que olha em direcção ao futuro, a tristeza olha em direcção ao passado.
    Sendo que é no presente que está a felicidade... nos afectos, nos carinhos, num abraço apertado, numa conversa, num olhar, num beijo...

    Tudo isso só para quem seja emocionalmente inteligente.

    Adorei ler esse teu momento de muitas emoções, essas histórias ricas do sentir, essa bangunça de tantas emoções!

    Bjs com carinho, afecto num abraço apertado, Lina!

    https://youtu.be/_gciX7BTyRs

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  3. Um dia, quando formos capazes de quantificar e qualificar aquilo que agora chamamos sensações, percepções, emoções, afectos, pode acontecer que a tristeza passe a ser considerada verdadeiramente fisiológica, i.e. a emoção esperada perante, por exemplo, a perda ou a frustração.

    Até lá restam-nos os solilóquios, os blogues, a presença dos amigos, as flames e outros consolos do espírito. Até as gringas fortes precisam, Lina.

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  4. Verdade Rafa e Luís. Vocês são emocionantes ...

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