Acho que este meu espaço poderia chamar-se "O Blog da Calimera"... Gostei! Calimera…foi o que alguém me chamou estes dias. Fiquei curiosa, serei? Fui ver o seu significado, e
parece que costuma manifestar-se em jeito de birrinhas, egoísmos, queixinhas,
choros sem lágrimas, chantagens e amuos. Penso que (já) não faço nada disso. E
se por acaso o fiz num passado remoto, não me recordo. Amadureci muito, até me sinto quase a cair
de podre, então!
Posso, no máximo, viver reclamando de muita coisa que me faz
revirar os olhos, de perder a paciência com gente básica, que não se toca…enfim…
É que cuscando pelo
FocinhoBook vai se mirando o espelho da realidade: cada vez mais “calimeros e
calimeras” há por aí; pessoas que anunciam vezes sem conta a sua retirada, mas
nunca saem de cena; que insinuam aos quatro ventos ser mal-amadas,
incompreendidas e injustiçadas, procurando a aceitação pela chantagem, quando
têm tanta coisa na vida que as poderia fazer felizes; pessoas insatisfeitas com
o tanto que têm, transformando ninharias em tragédias.
Esta síndrome do “Calimero”
sempre existiu, não é culpa da crise, e tende a crescer exponencialmente, e pode
até tornar-se moda! Talvez salte mais à vista atualmente e entra-nos pelos olhos
adentro, perturbando-nos o espírito, pois temos que aprender a conviver com
quem sofre dela, a lidar com o drama, o horror e outros teatros que tais.
Todos nós poderemos ser atacados
por ela em determinados períodos da vida, mas, tal como as doenças normais de
infância, acabam por desvanecer-se. Noutros casos, demora um pouco mais. Serão
as depressões as responsáveis? Talvez sim, nas pessoas que vivem verdadeiros
problemas, pelas agruras da vida; não pelas ninharias que insistimos em
transformar em tragédias. Há pessoas a quem dá jeito uma depressãozinha, outras
há que vivem deprimidas uma vida inteira, que chique fazer uma birra, que
máximo dar um show! E costuma-se dizer
“tem uma personalidade tão forte!” e
ainda há quem acredite, que é tudo força do caráter.
Esta síndrome, que
infelizmente não aparece nos anais da psicologia, requer como tratamento uma
boa dose de estalos e portas no nariz de forma a despertar para a dura
realidade: há sempre alguma m*rda que acontece nas nossas vidas. Convém é não
dar importância a essas m*rdas e seguir a vida sem dizer "isto só me
acontece a mim", caso contrário as pessoas que sofrem desta síndrome
acabam redundantes e a saturar quem até tem paciência para ouvir os lamentos
característicos.
Não me considero uma
calimera, apesar de achar o Calimero uma figura adorável. Confesso que sou
avessa a essa mania da autocomiseração e da paranoia do "não há nada que
não me aconteça"... e aquelas pessoas que quando o dia corre lindamente e
de repente dizem "Mmm estou tão contente e a vida corre-me esplendidamente…
algo de ruim vai acontecer em breve, com certeza!" – uma variante da síndrome de
Calimero, sem dúvida!
O Segredo da Boa Disposição
"Deixaram-nos aqui. É mesmo assim. É a vida. Tem graça, não tem? A vida tem
graça. Nós temos graça. É engraçado estarmos todos aqui. A incerteza geral da
existência, aliada à certeza particular do facto de termos nascido e de irmos
um dia esticar o pernil, é de morrer a rir. Entre outras coisas. Já que nos
puseram aqui, indispostos, mal distribuídos, condenados à confusão e à
companhia dos outros, o mínimo que podemos fazer é pormo-nos o mais
bem-dispostos que pudermos.
O segredo da minha boa disposição é pensar o mais possível nos outros – nos outros que amo e que me têm de aturar, nos outros de quem só conheço o sofrimento e me fazem sentir a sorte que tenho em sofrer tão poucochinho – e o menos possível em mim. Quanto mais eu me desprezo e desconheço, quanto mais eu entristeço de me entender, mais preciso que haja quem goste de mim. Ou pelo menos da minha companhia. Sempre bem-disposta, claro!"
Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume'
O segredo da minha boa disposição é pensar o mais possível nos outros – nos outros que amo e que me têm de aturar, nos outros de quem só conheço o sofrimento e me fazem sentir a sorte que tenho em sofrer tão poucochinho – e o menos possível em mim. Quanto mais eu me desprezo e desconheço, quanto mais eu entristeço de me entender, mais preciso que haja quem goste de mim. Ou pelo menos da minha companhia. Sempre bem-disposta, claro!"
Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume'
ResponderEliminarComo é habitual, gostei!
Gostei do autorretrato feito com humildade é certa vaidade das vitórias que já alcançaste com o amadurecimento próprio da vida vivida.
A grande particularidade do Calimero ou pequena particularidade que passa despercebida é ele ter parte da casca do ovo na “mona” o que sinaliza a criança que não se descola... é a ingenuidade que acompanha a vida, levando a reclamar e a ver o mundo carregado de injustiça...
O Calimero também se revolta...
Lembro-me do hino de muitos bares e muitas festas, a canção do Calimero e a Abelha Maia do cantor mais “tonto” que ironiza todos os outros e brinca com as letras... não aprecio mas sei que existe, o Jaimão!
O Calimero é enervante, queixa-se da vida e de tudo que a vida tem... mas seria falso se disséssemos que numa fase das nossas vidas nunca tivemos essa parte enervante ... outros ficaram com ela para a vida!
O engraçado é que ao Calimero ou com ele, apareceu a abelha, uma curiosa, uma aventureira e despreocupada, até de certa forma um pouco volúvel que cria agitação na colmeia por ser inteligente e sagaz.
A abelha passa a ser muito mais livre e deixa de estar pressionada às regras, por isso há um “faço o que quero e o que me dá na real gana”
Creio que estás a deixar morrer o Calimero para soltar a abelha que existe em ti e assim começares a dar “picadas” onde a tua liberdade te exigir.
Fico à espera de um novo texto! Solta a abelha que existe em ti porque há sempre alguém que gosta de abelhas.
Bjs
https://youtu.be/d8RYUZT57XA
Andas a espicaçar a minha imaginação. Gostei muito também!sinto-me picada...bj
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