segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Incomunicação

Um conto que gostei de ler, era em outro idioma, mas pedi autorização ao seu autor para traduzi-lo e publicar aqui no meu blogue:

Deviam ser 5 da madrugada quando o jovem chegou à estação e sentou-se num daqueles bancos velhos de madeira duplos (costas com costas), à espera do comboio. Estava sozinho naquele lugar, a pequena tabacaria e a cafetaria da estação ainda não tinham aberto e ele morria de vontade de fumar. O seu corpo pedia desesperadamente mais nicotina do que um café ou o pequeno-almoço. Tinha tabaco, mas esqueceu-se do isqueiro quando saiu de casa ainda meio a dormir, e agora não havia ali ninguém a quem pedir lume.
Para distrair-se, decidiu ler um pouco, uma vez que ainda faltava uma meia hora para o comboio chegar. Pegou naquele livro que encontrou em casa da mãe a quem chamava “a eterna viúva”, pois era filho de pai ausente e ela tinha-o criado sozinha, até que um dia a morte a levou. Era um livro inédito e com uma dedicatória ambígua, e mais estranho ainda era ter sido da sua mãe, uma mulher humilde e pouco culta. O autor era Darío Espina, um antigo prémio Nobel com uma escrita algo complicada e leitura ainda mais difícil, sendo famoso há algumas décadas e considerado um escritor para intelectuais.
O livro cativava-o da primeira à última página, já o tinha lido várias vezes, tendo verdadeiro fascínio pela aura de maldição e mistério que envolvia esse escritor, por quem daria tudo para conhecer pessoalmente.
Sentiu que alguém se sentava atrás dele quando ouviu o ranger da madeira velha do banco. Levantou os olhos do livro e, olhando pelo grande espelho ao fundo da sala de espera, reparou que era um indivíduo já maduro e obeso vestindo um fato cinzento tão desalinhado quanto antiquado que, com ar cansado e ausente, olhava em volta. Nesse instante, teve vontade de pedir-lhe fogo, mas…quando se virou para o desconhecido, pôde sentir o seu hálito a álcool, e isso fê-lo desistir. Seria algum bêbado em fim de noite? E depois, com o pretexto de dar-lhe lume, iria perturbá-lo com conversa de chacha? Com estas dúvidas, conseguiu reprimir a vontade de fumar e voltou à sua leitura. 

Darío havia saído com o intuito de procurar inspiração e poder terminar, de uma vez por todas, o livro que andava a escrever. Já há meses que tentava terminá-lo, contudo, a obsessão que ia aumentando nos últimos tempos prejudicava a sua mente e frustrava qualquer esforço criativo.
Como o despertar de uma larva que havia estado adormecida dentro do seu casulo, os pensamentos sobre o filho que tivera com aquela mulher e o remorso de tê-los abandonado haviam aflorado com tanta força que bloqueavam a sua mente de forma contínua “onde estará ele?” “a sua mãe ainda estará viva?” “saberá algo sobre mim?”…
Após ter deambulado sem sentido pela noite, e sem que a bebida tivesse mitigado a sua dor, Darío Espina sentou-se ali, derrotado, na tentativa inútil de evitar mais uma noite sem dormir e com pesadelos. Talvez fumar o tranquilizasse… mas… não tinha tabaco, e estava tudo fechado! Ainda pensou em pedir um cigarro àquele jovem sentado atrás de si, que podia ver através do espelho e que, curiosamente, estava a ler um livro seu, reconhecendo-o pela capa.
Porém, não o fez. Darío era um homem bastante tímido e, além disso, achava que era um pecado enorme estar a interromper alguém que lê um livro.
Os minutos iam passando… A falta de nicotina criava em ambos uma inquietude que minimizava as suas apreensões… a necessidade pode derrubar muros… e por fim, como se tivessem combinado, ambos se voltaram e encararam-se para pedirem o que lhes faltava…

Talvez pudessem falar um com o outro!... Talvez pudessem travar conhecimento!...mas já era tarde! Nesse mesmo instante chegou o comboio, que parou, as portas abriram-se ruidosamente diante daquele banco onde os dois se sentavam e o jovem, fechando o livro, apressou-se a subir antes que o perdesse…
Sim… algo esteve quase para acontecer…Sim, foi um “quase”…talvez uma única palavra pudesse mudar os seus destinos…porém, não aconteceu… e aqueles homens seguiram o seu rumo, na ignorância, sem nunca mais voltar a encontrar-se.
E é assim… talvez… na melhor das hipóteses… quem sabe… as barreiras que colocamos diante dos outros e a porcaria do “nosso espaço”… longe de proteger-nos, só faz com que nos afastemos do que mais desejamos.

 Fez-me lembrar que sou assim também, quantas vezes podia falar e não falo, perdendo alguma boa oportunidade. Pertenço a uma família pouco comunicativa, e quem sai aos seus "não é de genebra"... 

A boa comunicação faz muita falta para que as pessoas se entendam e quiçá vivam mais felizes, sentindo-se mais acompanhadas.
Como conseguimos viver às vezes tão isolados e fechados em nós mesmos, se o homem é basicamente um ser de natureza sociável, cujo sucesso pessoal depende de viver em grupo ou em sociedade? Será indiferença, ou temor? Será que nos tornámos numa espécie individual e egoísta? Será que já não necessitamos de estar juntos para nos defendermos? Será talvez o medo de que alguém venha desassossegar ainda mais a nossa vida já tão em desassossego, ou que levante a muralha emocional que de forma pedante chamamos de “nosso espaço”?

Aristóteles escreve algures, que “O homem é um ser social. O ser capaz de viver isoladamente ou é um deus ou é um bicho, mas não um ser humano”. Serei um deus…? Porque um bicho não quero ser! (sim, confesso que já fui bicho-do-mato, mas mudei muito, para meu próprio bem).

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Relacionamentos à distância

Dou comigo a pensar que há muita gente a relacionar-se à distância, ou porque surgiu uma oportunidade profissional e o casal separa-se, ou porque alguém se apaixona por uma pessoa oriunda de outro país, e me pergunto “será possível uma relação resistir à distância?”.

Apesar de ter certa tendência para o platonismo desde jovem, assim de ânimo leve não me arrisco a dizer que sim, por isso, se tivesse que dar uma resposta seria “depende” e depende de muitas coisas.
Relacionamentos de longa distância são difíceis mas, pensando positivamente, até poderão tornar-se mais fáceis e estimulantes do que aqueles que têm que sobreviver a uma rotina ao longo de anos… Viver a pensar na pessoa amada, nos (re)encontros planeados e depois bem saboreados, aquela expectativa dos momentos a dois intensos para matar a tanta saudade... Mmmm...parece-me algo excitante!
Porém, namorar à distância supõe requerer muita paciência, amor e confiança. Portanto, não é para qualquer simples mortal. Há quem talvez desespere ao fim de alguns dias ou semanas e num instante será infiel, pois tentações não faltam; haverá quem se marimbe e pense assim “desde que eu não veja ou não saiba, quero lá saber o que ela/ele faz”… esta pode até ser uma atitude inteligente e cómoda, mas não serve para qualquer um(a), repito.

Nem todos nós somos feitos para suportar um relacionamento que carece bastante da parte física e para o qual é necessária uma dose extra de criatividade a fim de se relacionar com a outra metade. É preciso saber encantar-se por palavras que irão substituir o efeito de toques, beijos e abraços. Não é preciso ser poeta, mas uma palavra ou um texto romântico poderá mostrar o quanto o sentimento do outro é forte e iluminar um dia de muita saudade.
Falo como mulher, se o homem soubesse como uma palavra ou frase carinhosa ou romântica faz milagres, nunca se esqueceria de o fazer. Nem sempre “palavras leva-as o vento”; o amor sente-se em pequenas (e grandes) coisas quando o sentimento de um pelo outro é verdadeiro, quando há sinceridade e cumplicidade. E claro, nem todas as mulheres são iguais, há umas que são muito machas ou têm outros interesses, mas acredito que a maioria quando gosta de verdade não prescinde do excesso de carinhosice!
Pessoas diferentes terão formas diferentes de encarar um relacionamento deste género. Existe quem consiga suportar tudo e mais alguma coisa, enquanto há quem não consiga ficar sem a componente física ou emocional, o abraço, o beijo, o toque. Há também aquelas pessoas que são muito ciumentas e por essa razão terão uma grande dificuldade em conseguir suportar a distância.
Convenhamos, é muito mais fácil namorar à distância no séc. XXI do que era no passado. Podemos aproveitar as tecnologias modernas, por exemplo, as conversas em vídeo vão compensar um pouco da intimidade que a distância física impede. Skype, Facebook, Whatsapp e muitos outros sites e aplicativos permitem que os casais fiquem sempre em contacto e matem ao menos um pouquinho da saudade. Portanto, com imaginação, comunicação, a tal cumplicidade, e inteligência emocional, não faltarão formas de colmatar a falta do outro.
Namorar à distância é amar além de qualquer coisa. É confiar e confiar, e é a maior prova de amizade/amor que existe. É amar sem tocar, sem ver, é amar independentemente das barreiras. É superar a dor de não poder beijar, abraçar e mimar a pessoa. 
Namorar à distância é uma coisa gostosa, pois só nos faz querer mais e mais a outra pessoa, e isso é amar de verdade!

(esta é a minha visão platónica da coisa! será por que andei a ler fotonovelas a mais na adolescência?!)...https://www.youtube.com/watch?v=orDox1I9CtA

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Através da persiana...

Continuando com histórias loucas que davam filmes… esta aconteceu comigo e parece tão incrível que até deu vontade de escrever um livro! Porém, como editar livro(s) é coisa mais complicada, fico-me pelo prazer de escrever e partilhar no meu blogue.
Começou assim: estava a terminar a minha licenciatura (2006/2007) e, de repente, recebo na minha caixa de correio do Instituto onde estudava um email de alguém desconhecido parabenizando-me pelo sucesso e desejando-me felicidades, algo assim (tenho pena de não ter imprimido esses e-mails, para recordação, ou nem sei como os perdi entretanto…)

Fiquei intrigada, quem seria aquela pessoa tão simpática, e como é que me conhecia, seria algum engano? Em resposta ao email, agradeci e pedi informação, quem era? Ainda era a época do hotmail, antes do famigerado Facebook; cheguei a casa, era uma sexta-feira, com o nome dele entrei no chat e comecei a chat(ear)… queria saber como tinha descoberto o meu e-mail do Instituto, como é que sabia tanto de mim, até a roupa que usei ou usava… devia estar a seguir-me já há muito tempo e nunca me apercebi de nada. Continuava a falar coisas sobre mim, falava também dele e dos seus gostos pessoais, da mulher e filha, etc…e mantinha o mistério da identidade, até que resolvi desistir, era mais um doido qualquer (apesar de simpático) e não ia perder tempo com aquilo, pensei e escrevi antes de desligar o chatvocê deve ser algum vizinho aqui na rua, para saber tanto de mim”…
Fui de fim de semana, e quando voltei ao chat na segunda-feira, lá estava a resposta dele “sim, moro aqui em frente, do outro lado da rua”. Caiu-me tudo! Realmente, do meu grande terraço cheguei a ver às vezes uma família a comer na varanda, pai, mãe e filha… de resto, estava sempre tudo fechado, ou pelo menos a persiana estava sempre para baixo, comecei a desconfiar que então era alguém que me espiava há que tempos através das aberturas da persiana mal fechada… Oh carago, e eu que no verão gosto tanto de andar em trajes menores, pensando que ninguém andava por ali em frente… agora já era!

Continuei a 'tentar fazer' uma possível amizade, pois queria saber o quanto ele sabia da minha vida. Tomei conhecimento que descobriu o meu nome no salão de cabeleireiro no rés do chão do prédio, como chegou até ao Instituto, ainda desconheço; fiquei a saber também coisas da vida dele…passava os dias em casa, cuidando dos gatos e das plantinhas na varanda, antes tinha trabalhado como designer, era um bom fotógrafo - naquela época fazia sucesso com belas fotos que publicava no site Olhares, de pessoas, gatos, paisagens, a cores ou P&B, incl. dele próprio nu! - gostava de usar calças vermelhas (grande coisa!); não tirava o piercing que usava na orelha, e por isso deixou de trabalhar pois não se adaptava a certas regras/obrigações; e sei lá como vivia… provavelmente com alguma pensão (de insanidade, existe? digo eu) ou à custa da mulher…? 
O mais curioso desta história começa quando ele me diz que a mulher sabia do quanto ele gostava de mim…insinuava que queria “tomar um café” comigo e eu, aproveitando, disse “antes disso, quero conhecer a tua mulher” (já agora, estava intrigada, quem era essa pessoa tão “especial” que dava assim o marido de mão beijada…já estaria enjoada?), e o pedido foi aceite. Combinei encontrar-me com ela perto do seu trabalho, na baixa do Porto, pareceu ser uma pessoa querida e simpática. Era descendente de belgas, ou até nasceu lá (bem me parecia que não podia ser portuguesa ahah um aparte). Era amiga dos bichinhos abandonados, cuidava deles ou trazia-os para casa, deviam ter uns 7 ou 8 gatos, alguns eu podia vê-los a passear pela varanda…Ela estava meio sem jeito naquela situação, mas realmente o “Ben” (como era tratado) gostava muito de mim e podíamos ser amigos, pois entre eles já havia mais amizade do que amor de casal (…)
Trocávamos emails, ele gravava músicas para mim, mandava fotos, etc. No dia do meu aniversário ofereceu-me aquele perfume "Amor Amor"...E eu pensava “bem, estou sozinha, sempre tenho um casal por perto como amigo"… Falava desta história com pessoas minhas amigas e diziam brincando (ou a sério, sei lá) “ui, isso deve ser um caso de swing…” e o “pior” é que não era! O homem estava mesmo apanhado, todos os dias escrevia, cheguei a tomar café com ele uma tarde, mas era meio estranho, não havia conversa que me interessasse… não haveria mais saídas, com certeza, eu tinha mais que fazer…

Por isso, um dia, comecei a tentar desligar-me, e a mulher começou também a mandar emails do tipo “cheguei a casa e o Ben estava na pior, muito triste, diz que não lhe escreveste hoje nem um Olá!" e a minha perplexidade começou a aumentar… outra vez escreveu “ele é o tipo de homem que gosta de encher uma banheira de rosas para uma mulher, eu não aprecio nada essas coisas românticas…” Mas, pensava eu… não me atrai em nada aquela pessoa… e agora? E como é que ela sabia que eu poderia gostar dessas coisas de romantismo…? Comecei a desligar-me porque já não era uma possível amizade, já eram muitas mensagens a falar de amor, e eu não tinha alimentado nada disso nem estava interessada em nada… e quando já estava na fase de afastamento, até da filha (devia ter uns 16 ou 17 anos, não me lembro) recebi uma mensagem "se meu pai se matar, és tu a culpada…", surreal, foi aí que me assustei e dei um basta nessa loucura. 
Mais tarde, estava eu em vésperas de ir para o Brasil, com visitas em casa para jantar, recebo uma chamada da mulher, aflita, dizendo que o Ben estava na ponte e queria atirar-se, se eu podia ligar-lhe?! E eu disse com frieza “paciência, mas não posso fazer nada…” (ou algo parecido)… já era demais! Fiquei à espera das notícias no dia seguinte, mas parece que nada aconteceu…
Entretanto, viajei e esqueci esta história… Não sei o que aconteceu a essa família, continua ali o apartamento abandonado, nunca mais soube nada de ninguém. 
Contando agora estas coisas, parece que nem as vivi… Incrível! 
Recordo também uma vez, estava eu à porta do meu prédio esperando uma amiga que vinha buscar-me para tomar um café depois do jantar. Avistei o vizinho no outro lado do passeio, disfarcei, mas ele atravessou a rua e veio ao meu encontro, queria falar comigo, e eu não queria nem tinha nada para falar, ele insistia e até sussurrou “amo-te”, tocou-me no braço… farta dessa história, atravessei a rua, com dificuldade (estava com uma entorse no pé) e entrei no café em frente, a ver se ele parava de me falar e chatear… e veio atrás, os homens no café defenderam-me “deixe a senhora em paz”... entretanto pirei-me e eles ficaram por lá a discutir...logo a seguir a essa cena (de filme) chegou a minha amiga que me aconselhou a passar no posto da PSP, e foi comigo… fui lá fazer a queixa do vizinho que me perturbava, o agente disse “não podemos proibir ninguém de olhar para simas se ele voltar a tocá-la, vem aqui e preenche o auto"…ahahaha inacreditável!!!

(tinha que partilhar esta minha história, assim contada por alto; haverá neste pequeno mundo outras tão ou mais loucas? pode ser)
Deste jeito, nem preciso de ver filmes ou ler livros, a minha já é um livro, que abro aqui para vocês :-) 
E é caso para perguntar, que mais poderá me acontecer? (depois conto-vos...)

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Título da loucura: A Menina...do Computador


Corria o ano de 2011. Depois de algum tempo no desemprego e em trabalhos precários, agora ela estava a trabalhar numa empresa, da qual saía todos os dias exausta, para ganhar um salário mensal abaixo do mínimo… um dia resolveu ir a um almoço de confraternização onde se reuniriam muitos “retornados” de Angola, ela divertiu-se, reconheceu algumas (poucas) caras, e ficou a conhecer outras novas…inclusive, um cara apareceu de repente a falar com ela dizendo que a conhecia desde bem jovem, que até se lembrava de tê-la convidado para ir a uma festa, convite que ela recusou porque na juventude tinha sido reprimida, mal conseguindo fazer amizades, ou pouco saindo para divertir-se…Ela estranhou essa conversa, mas o que queria era divertir-se agora (que já não era controlada), e queria lá saber se essa história era verdade ou não. Aliás, lembrava-se de pouca coisa da sua adolescência em Angola.
O grande almoço correu bem, fez algumas amizades que continuaram virtuais, e com esse cara ela nem trocou contactos, apenas ficaram a saber o nome um do outro. Um dia, já em casa, no final do dia, ela estava com o skype ligado, e apareceu um tal “Rodolfo” a pedir amizade… ela olhou para a foto (avatar) e reconheceu-o. Era “o cara”! Um portuga a morar no Rio de Janeiro e já tinha voltado para a cidade maravilhosa. Estava ali a repetir o convite de muitos anos atrás (segundo ele); agora ela tinha a oportunidade de escolher qualquer lugar do mundo para jantar com ele. Riu-se, “olha-me este agora!” Ela a precisar de trabalhar e aquele pseudo bon vivant queria conversa e passeios… Ela respondeu rindo “talvez nas Caraíbas, vou pensar”… e no outro dia respondeu-lhe, se queria jantar com ela, viesse ele ao seu encontro, pois não tinha como pedir na empresa tantos dias para viajar… e o cara disse “pô, acabei de sair de Portugal!”, mas viria de novo… e não é que veio mesmo? Ela pensou “uau, um homem que atravessa o oceano por uma mulher, deve ser um amor lindo!”. Ela ainda acreditava nesse tipo de amor.
Ele veio, conviveram algum tempo, divertiram-se e passearam pelo verão português, ela conheceu amigos dele; o cara chegou ao ponto de até falar em casar, morar numa cidade bonita e pacata do sul, escrever livros…abrir dois barzinhos nesse lugar (logo 2!) etc. – montes de planos – e ela ia acreditando, no início
Ele queria também que ela conhecesse o lugar onde morava no Rio (por coincidência, se é que isso existe, e ainda bem, era praticamente vizinho de uma grande amiga dela, carioca)… Então, um dia ela decide aceitar os convites, desiste do trabalho que não a realizava, e vai ao encontro dele no Rio de Janeiro… bem, no início, tudo parecia correr “normalmente” - Quais os limites da nossa sanidade? O que nos define como “normais”? - mas rapidamente começou a notar um comportamento estranhíssimo, sempre o mesmo papo furado, e não se via atitudes nenhumas! Notou que fumava uns charros e então devia “viajar na maionese”, passava o dia a passear, indo à praia, visitando a mãe de 2 em 2 dias (dizia ele) que estava internada numa clínica, e ela não entendia nada daquela vida esquisita… Ao fim de pouco tempo, começou a achar que estava perante um mentiroso compulsivo, ou megalómano, mais um doente mental, daqueles com quem nem vale a pena discutir, seria inglório… fazia montes de planos, achava-se um playboyzinho, um bon vivant, e coitado, começava a ser digno de pena!...
Ela tinha viagem de volta marcada dali a 3 ou 4 meses, mas decidiu ir embora mais cedo. Não estava para aturar mais malucos, e nem lamentava o trabalho que deixou pois também não era aquilo que ela ambicionava: tanto trabalho para pouco dinheiro! E a vida continuaria, havia de encontrar outra coisa para fazer. E encontrou, outras oportunidades apareceram, podendo refazer a sua vida, voltando a sentir-se feliz sozinha.
Ele costumava dizer que um dia ainda ia escrever sobre a história “de amor” que viveram…! Continuava a querer falar com ela, tentava por email e outros meios, lá se lembrava dela de vez em quando… (como se nada tivesse acontecido)… porém, ela desligou-se por completo, “vade retro…”! Mais tarde, ainda chegou a perguntar aos amigos, que tipo de bicho era aquele, um deles respondeu "mas não sabias que o cara era assim? ele serve para ir tomar uns copos, divertirmos e rirmos com as suas histórias/invenções!..." OK ficou finalmente a saber...
Depois de alguns anos ela voltou a receber um email em que o cara anunciava que tinha publicado na internet um e-book e queria saber a sua opinião (!?), um romance inédito, digital, erótico-musical !!! à venda por cinco euros!!! “A história de um casal que se reencontra 30 anos depois de ter vivido uma ingénua paixão na adolescência. Ele, um playboy ligado às finanças, ela, uma linda mulher, com um emprego de sobrevivência, iniciam uma relação no Skype, onde jogos eróticos servem a uma paixão sem limites. (…) Entre o clique no computador e o toque dos corpos, os dois personagens vivem um louco amor, cheio de alegria, sensualidade, sexualidade e luxúria, embalado por música que se entranha na própria história. (…)
Ela ficou curiosa, será que o cara até atinou e fez alguma coisa? Procura, pesquisa o site do e-book e verifica (na diagonal e com alguma perplexidade) que de erotismo não tinha nada, era literatura de baixo nível, quinta categoria, a verdadeira pornochachada… Desde quando aquilo era baseado numa história que até poderia ter dado certo, se não houvesse demência por parte de um dos intervenientes…? O gajo devia estar a querer imitar as aventuras da Bruna surfistinha, “As 50 sombras de Grey” ou algo assim? Que mau gosto, que loucura!!!

A única diferença entre a loucura e a saúde mental é que a primeira é muito mais comum. (Millôr Fernandes)

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Amizade, coisa rara


Nem sei por onde iniciar um texto sobre a amizade, mas acho que já tenho um começo, a canção de Milton Nascimento, dedicando-a a uma das minhas melhores amigas, a Cris, a minha maninha brazuca (tenho outras como irmãs, sou uma felizarda) que veio de longe para estar comigo um fim de semana e partiu ontem, e a despedida custa sempre.

Amigo é coisa para se guardar
Debaixo de sete chaves
Dentro do coração (…)
Pois seja o que vier, venha o que vier
Qualquer dia, amiga, eu volto
A te encontrar
Qualquer dia, amiga, a gente vai se encontrar


A amizade é um dos sentimentos mais sublimes e raros. Encontrar uma amizade verdadeira é extremamente difícil. Amigos contam-se pelos dedos e, às vezes, de uma única mão. É um tremendo privilégio alguém poder dizer que tem boas amizades e que as cultiva, para que nunca enfraqueçam.

“A amizade verdadeira é como o amor, não se explica, apenas se sente. Nasce com uma simpatia à primeira vista. Esta simpatia cresce e se torna empatia. As afinidades vão sendo descobertas, momentos vão sendo partilhados, uma história vai sendo vivida, até que a cumplicidade se torna tão grande que muitas vezes já não é preciso dizer nada para que um amigo entenda o outro.

A amizade é um dos sentimentos mais nobres que um ser humano pode sentir. A amizade verdadeira é desinteressada, não é possessiva, é generosa, é livre e bonita. Os amigos de verdade ficam perto um do outro porque querem, e não porque precisam. Por isso, ter um amigo é saber ter com quem contar para o que der e vier.

Ter um amigo de verdade é ter um irmão de alma.”

Sei que a nossa amizade é verdadeira, e para todas as amizades verdadeiras o tempo nunca passa, as distâncias nunca existem. Pois elas são eternas e a verdadeira amizade nunca morre. 
Obrigada pela tua amizade e por permitires que eu te chame de AMIGA!

Te curto bué!
Até breve, ou até sempre em pensamento!

"A amizade duplica as alegrias e divide as tristezas."

Francis Bacon

Sevilla de las 1001 noches...

Adorei visitar Sevilha, a quarta maior cidade de Espanha e a principal da Andaluzia. É conhecida mundialmente pelo seu flamenco, as castanholas e as touradas. É uma cidade limpa e com agitação nas ruas do centro histórico, com muito interesse turístico.

A cidade gira em torno do rio Guadalquivir, um rio cheio de vida, fonte de sustento e de lazer. Ao fim da tarde vêem-se dezenas de embarcações de canoagem e de remo, rio acima, rio abaixo, e centenas de pessoas a correr nas margens do rio. Que delícia! A Ponte de Triana é um dos muitos marcos emblemáticos da cidade, uma ponte romântica que liga o centro da cidade ao famoso Bairro de Triana.

Pareceu-me uma cidade calma com um povo tranquilo, feliz; as pessoas sorriem e praticamente aproximam-se para perguntar se preciso de alguma informação. Duas vezes vi homens passeando de mão dada, enamorados, com a maior naturalidade (ainda não vi isso em Portugal)...Deve haver tanto de gente jovem - muitos estudantes Erasmus - como da terceira idade, e com qualidade de vida.

Sendo uma cidade plana, pode visitar-se facilmente a pé, mas passava por mim tanta gente de bicicleta, ai que vontade! O clima é ameno, e em outubro à noite com 30º pode-se estar numa esplanada junto ao rio comendo umas tapas. Um taxista disse que neste verão houve dias com aprox. 50º que loucura! (só para quem gosta de calor, como eu)...

As ‘tascas’ são barulhentas, cheias de amigos ao redor de pratinhos repletos de iguarias, como saborosas azeitonas, calamares, jamón serrano e chorizo, etc., tudo regado por um perfumado vinho de Jerez ou cañas... Terra dos imperadores romanos Trajano e Adriano, dos magníficos reales alcázares e da espantosa Catedral gótica cujo campanário era um minarete - a Giralda - Sevilha é a Espanha dos sonhos, mas também dos prazeres profanos, das fiestas e do fervor da Semana Santa. 
Tenho que revisitar esta cidade, com muita arte e história, música, várias plazas, parques verdejantes, e monumentos ou palácios ocultos por detrás da folhagem das árvores, que até fazem sonhar com as mil e uma noites…Sólo me faltan 997 noches...

(e eu que achava que não curtia espanhol…ahaha)
Metropol Parasol