quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Através da persiana...

Continuando com histórias loucas que davam filmes… esta aconteceu comigo e parece tão incrível que até deu vontade de escrever um livro! Porém, como editar livro(s) é coisa mais complicada, fico-me pelo prazer de escrever e partilhar no meu blogue.
Começou assim: estava a terminar a minha licenciatura (2006/2007) e, de repente, recebo na minha caixa de correio do Instituto onde estudava um email de alguém desconhecido parabenizando-me pelo sucesso e desejando-me felicidades, algo assim (tenho pena de não ter imprimido esses e-mails, para recordação, ou nem sei como os perdi entretanto…)

Fiquei intrigada, quem seria aquela pessoa tão simpática, e como é que me conhecia, seria algum engano? Em resposta ao email, agradeci e pedi informação, quem era? Ainda era a época do hotmail, antes do famigerado Facebook; cheguei a casa, era uma sexta-feira, com o nome dele entrei no chat e comecei a chat(ear)… queria saber como tinha descoberto o meu e-mail do Instituto, como é que sabia tanto de mim, até a roupa que usei ou usava… devia estar a seguir-me já há muito tempo e nunca me apercebi de nada. Continuava a falar coisas sobre mim, falava também dele e dos seus gostos pessoais, da mulher e filha, etc…e mantinha o mistério da identidade, até que resolvi desistir, era mais um doido qualquer (apesar de simpático) e não ia perder tempo com aquilo, pensei e escrevi antes de desligar o chatvocê deve ser algum vizinho aqui na rua, para saber tanto de mim”…
Fui de fim de semana, e quando voltei ao chat na segunda-feira, lá estava a resposta dele “sim, moro aqui em frente, do outro lado da rua”. Caiu-me tudo! Realmente, do meu grande terraço cheguei a ver às vezes uma família a comer na varanda, pai, mãe e filha… de resto, estava sempre tudo fechado, ou pelo menos a persiana estava sempre para baixo, comecei a desconfiar que então era alguém que me espiava há que tempos através das aberturas da persiana mal fechada… Oh carago, e eu que no verão gosto tanto de andar em trajes menores, pensando que ninguém andava por ali em frente… agora já era!

Continuei a 'tentar fazer' uma possível amizade, pois queria saber o quanto ele sabia da minha vida. Tomei conhecimento que descobriu o meu nome no salão de cabeleireiro no rés do chão do prédio, como chegou até ao Instituto, ainda desconheço; fiquei a saber também coisas da vida dele…passava os dias em casa, cuidando dos gatos e das plantinhas na varanda, antes tinha trabalhado como designer, era um bom fotógrafo - naquela época fazia sucesso com belas fotos que publicava no site Olhares, de pessoas, gatos, paisagens, a cores ou P&B, incl. dele próprio nu! - gostava de usar calças vermelhas (grande coisa!); não tirava o piercing que usava na orelha, e por isso deixou de trabalhar pois não se adaptava a certas regras/obrigações; e sei lá como vivia… provavelmente com alguma pensão (de insanidade, existe? digo eu) ou à custa da mulher…? 
O mais curioso desta história começa quando ele me diz que a mulher sabia do quanto ele gostava de mim…insinuava que queria “tomar um café” comigo e eu, aproveitando, disse “antes disso, quero conhecer a tua mulher” (já agora, estava intrigada, quem era essa pessoa tão “especial” que dava assim o marido de mão beijada…já estaria enjoada?), e o pedido foi aceite. Combinei encontrar-me com ela perto do seu trabalho, na baixa do Porto, pareceu ser uma pessoa querida e simpática. Era descendente de belgas, ou até nasceu lá (bem me parecia que não podia ser portuguesa ahah um aparte). Era amiga dos bichinhos abandonados, cuidava deles ou trazia-os para casa, deviam ter uns 7 ou 8 gatos, alguns eu podia vê-los a passear pela varanda…Ela estava meio sem jeito naquela situação, mas realmente o “Ben” (como era tratado) gostava muito de mim e podíamos ser amigos, pois entre eles já havia mais amizade do que amor de casal (…)
Trocávamos emails, ele gravava músicas para mim, mandava fotos, etc. No dia do meu aniversário ofereceu-me aquele perfume "Amor Amor"...E eu pensava “bem, estou sozinha, sempre tenho um casal por perto como amigo"… Falava desta história com pessoas minhas amigas e diziam brincando (ou a sério, sei lá) “ui, isso deve ser um caso de swing…” e o “pior” é que não era! O homem estava mesmo apanhado, todos os dias escrevia, cheguei a tomar café com ele uma tarde, mas era meio estranho, não havia conversa que me interessasse… não haveria mais saídas, com certeza, eu tinha mais que fazer…

Por isso, um dia, comecei a tentar desligar-me, e a mulher começou também a mandar emails do tipo “cheguei a casa e o Ben estava na pior, muito triste, diz que não lhe escreveste hoje nem um Olá!" e a minha perplexidade começou a aumentar… outra vez escreveu “ele é o tipo de homem que gosta de encher uma banheira de rosas para uma mulher, eu não aprecio nada essas coisas românticas…” Mas, pensava eu… não me atrai em nada aquela pessoa… e agora? E como é que ela sabia que eu poderia gostar dessas coisas de romantismo…? Comecei a desligar-me porque já não era uma possível amizade, já eram muitas mensagens a falar de amor, e eu não tinha alimentado nada disso nem estava interessada em nada… e quando já estava na fase de afastamento, até da filha (devia ter uns 16 ou 17 anos, não me lembro) recebi uma mensagem "se meu pai se matar, és tu a culpada…", surreal, foi aí que me assustei e dei um basta nessa loucura. 
Mais tarde, estava eu em vésperas de ir para o Brasil, com visitas em casa para jantar, recebo uma chamada da mulher, aflita, dizendo que o Ben estava na ponte e queria atirar-se, se eu podia ligar-lhe?! E eu disse com frieza “paciência, mas não posso fazer nada…” (ou algo parecido)… já era demais! Fiquei à espera das notícias no dia seguinte, mas parece que nada aconteceu…
Entretanto, viajei e esqueci esta história… Não sei o que aconteceu a essa família, continua ali o apartamento abandonado, nunca mais soube nada de ninguém. 
Contando agora estas coisas, parece que nem as vivi… Incrível! 
Recordo também uma vez, estava eu à porta do meu prédio esperando uma amiga que vinha buscar-me para tomar um café depois do jantar. Avistei o vizinho no outro lado do passeio, disfarcei, mas ele atravessou a rua e veio ao meu encontro, queria falar comigo, e eu não queria nem tinha nada para falar, ele insistia e até sussurrou “amo-te”, tocou-me no braço… farta dessa história, atravessei a rua, com dificuldade (estava com uma entorse no pé) e entrei no café em frente, a ver se ele parava de me falar e chatear… e veio atrás, os homens no café defenderam-me “deixe a senhora em paz”... entretanto pirei-me e eles ficaram por lá a discutir...logo a seguir a essa cena (de filme) chegou a minha amiga que me aconselhou a passar no posto da PSP, e foi comigo… fui lá fazer a queixa do vizinho que me perturbava, o agente disse “não podemos proibir ninguém de olhar para simas se ele voltar a tocá-la, vem aqui e preenche o auto"…ahahaha inacreditável!!!

(tinha que partilhar esta minha história, assim contada por alto; haverá neste pequeno mundo outras tão ou mais loucas? pode ser)
Deste jeito, nem preciso de ver filmes ou ler livros, a minha já é um livro, que abro aqui para vocês :-) 
E é caso para perguntar, que mais poderá me acontecer? (depois conto-vos...)

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