terça-feira, 23 de maio de 2017

Um domingo fresco e sombrio

21-05-17 
Hoje foi um domingo ‘chocho’, nem sabia o que fazer: caminhar? andar de bicla? Porém, até para andar de bicicleta é preciso saber que caminho seguir, ter um objetivo, tal como em nossas vidas. Então preferi caminhar, aproveito para ir apreciando melhor o movimento, que era pouco, ninguém na areia, e as esplanadas com muitos turistas. Apercebi-me de duas criancinhas estrangeiras (irmãos talvez) a brincar na areia, a mais velhinha de uns 3 anos tinha prazer em bater no irmãozinho com algo que me parecia um pedaço de madeira leve, deve ter magoado e o outro chorou muito, então ela vinha a seguir e abraçava-o. Até que chegou a mãe e repreendeu-a, abraçando o pequenito. Pensei no ser humano, como é tão estranho, logo desde pequenino: primeiro dá porrada (emocional ou outra) e a seguir quer ter pena e vir ajudar o coitadinho… ai que horror, o que passa por esta cabeça…
     
Bom, voltando ao tema da chochice, parece que eu trouxe o frio do norte, consta-se que ultimamente tem havido lá melhores temperaturas. Vou ver a parte positiva da coisa: o sol faz mal, melhor assim, sem calor demasiado não há o incómodo de ficar a suar e, afinal, o meu domingo é pequeno, tem doze horas apenas e tento aproveitar da melhor forma, depois de na noite anterior ter assistido a uma peça de dança "Antes que matem os Elefantes" da coreógrafa Olga Roriz, que tem como temas centrais a guerra, o seu impacto no ser humano, a morte e a sobrevivência; um alerta para uma reflexão coletiva sobre o conflito na Síria e a situação dos refugiados. Uma atuação comovente de um grupo de sete jovens atores. Já não me lembrava de ir ao teatro.

Em breve farei uma pausa no meu blogue. Uma amiga vem de outro país para morar em Portugal, escolhendo o lugar onde vivo para instalar-se e ter o meu apoio em tudo o que for necessário. A amizade é assim, pelo menos para mim. Portugal está na moda, há lugar para todo o mundo, e todos são bem acolhidos. Somos um povo especial, particularmente o do norte. Alguém terá dúvidas?

E a seguir irei alguns dias de férias para junto de outro mar que não o Atlântico; quem sabe, finalmente vou poder mergulhar, e nadar…

Sejam felizes sempre, e portem-se (bem) mal na minha ausência!

Por onde reabrir caminho, qual o tema, a terra, o objetivo? À procura de nós, dos nossos detritos.
Em frente… sempre em frente, não olhar para trás. Olhos fechados, sem querer pensar, o frio, o medo do frio, a fome.
Ali em lugar nenhum, lugar perdido, duro, rasgado.
Ali, o lugar da ânsia do desconhecido. Memórias de estômago vazio.
A escuridão, o corpo colado a outro corpo e a outro e a outro…
O filho de encontro ao peito, cobertor às costas e malas, sacos, bonecos, entre uma outra pequena mão de carne e osso.
Pés devastados, pisados de cada poeira. As pedras…
O céu espesso, um céu aberto e a cabeça a estalar. Já não se sabe da dor, já se perdeu a ira.
A dúvida, a insegurança e a pequenez cansa.
Perdido o mínimo poder, perdida a dignidade, cansa.
Demolida a última réstia de humanidade, cansa.
E porquê eu?”
Olga Roriz
Out. 2015

1 comentário:

  1. 5+5***** ! Adorei... cada vez gosto mais daquilo que escreves. Amo a simplicidade.

    ResponderEliminar