sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

História da rã cozida


Um destes dias apareceu-me uma história que achei muito interessante e que, por esse motivo, quero partilhar. É a história da rã que não sabia que estava a ser cozida. E era mais ou menos assim: colocaram uma rã numa panela cheia de água fria e por baixo da panela colocaram o fogo muito baixinho para que a água fosse aquecendo muito lentamente. A rã não se preocupou com a água fria, nem tão pouco com a água morna, que até achou agradável. A temperatura ia subindo e a rã começou a deixar de apreciar a água e a sentir-se cansada. A temperatura subiu ainda mais e a rã começou a sentir-se desconfortável, mas como estava debilitada, não tinha forças para sair da panela. A temperatura continuou a subir e a rã acabou por morrer cozida.
Será que ao menos morreu feliz? pergunto eu. Se ela tivesse sido colocada diretamente na água quente, certamente teria pulado imediatamente para fora da panela. Mas como a mudança ocorreu lentamente, ela foi apreciando até que, quando começou a desagradar-lhe, já não conseguiu ter forças suficientes para saltar dali para fora.
Esta história retrata o que está a acontecer na vida dos portugueses, e não só, talvez mesmo em todo o mundo: as mudanças vão acontecendo de forma tão lenta que não nos apercebemos delas e, quando dermos conta, a nossa maneira de viver mudou totalmente.
Às vezes percebo que estou sendo uma rã fervida, entre tantas outras… Nem percebemos as mudanças. O que fazer para acordar no meio das águas já a borbulhar e tentar saltar fora???
Se olharmos para trás 10, 20 ou mais anos, talvez não seja difícil encontrarmos coisas que nos surpreenderiam (talvez até nem acreditássemos) e que hoje nos são completamente indiferentes ou que pouco incomodam. É cada uma...
Ou seja: a água vai aquecendo, as mudanças vão acontecendo, o nosso (des)Governo vai cortando aqui e ali, desmobilizando, reduzindo, sempre tudo a ficar diferente, se ao menos fosse para melhor… e atualmente muitas pessoas já não conseguem, sem o apoio de amigos, vizinhos ou instituições de solidariedade social, sair do “caldeirão” em que estão mergulhadas.
De algum modo todos nós estamos na inércia, comodismo e apatia, achando que está tudo bem, ou que o que está mal vai passar – é só questão de tempo. Vamos ‘sobrevivendo’ sem perceber que a água quente está nos matando aos poucos… Em nome do progresso, da ciência e do lucro são feitos ataques contínuos às liberdades individuais, à dignidade, à integridade da natureza, à beleza e à alegria de viver, lentamente mas inexoravelmente, com a constante cumplicidade das vítimas, desavisadas e na maioria das vezes incapazes de defender-se.
Rãs fervidas não entendem que além de serem eficientes (fazer certo as coisas), precisam de ser eficazes (fazer as coisas certas). E para que isso aconteça, há a necessidade de um crescimento contínuo, com espaço para o diálogo, para a comunicação clara, para dividir e planear, para uma relação adulta. O desafio ainda maior está na humildade em atuar respeitando o pensamento do próximo.
Previsões para o nosso futuro, em vez de despertarem reações e medidas preventivas, não fazem outra coisa senão preparar psicologicamente as pessoas para que aceitem algumas condições de vida decadentes, aliás dramáticas. O martelar contínuo de informações dos média satura os cérebros que já não têm capacidade para distinguir as coisas...
Fala-se sempre num “amanhã” que, de repente, se torna em HOJE!!! 
Ter consciência ou ser-se cozido: é necessário fazer a escolha, e conseguir saltar fora, antes que seja muito tarde…

3 comentários:

  1. Para mim foi dos melhores textos que escreveste.
    Estou de acordo contigo, todos os meios de comunicação, públicos ou privados e os governos vão criando a ideia de normalidade, que os tempos são outros e progresso é isto mesmo. Uma coisa não dizem, em especial os governantes. São eleitos por uma maioria que dizem defender e quando no governo dizem defender essa maioria, colocando-se no lado de quem explora e rouba. Roubas um pão és preso, roubas um milhão fazes um desvio muito recomendável. Perdoam-se dividas às finanças, à segurança social a quem explora e mexe com os nossos milhões, se tu não pagas tens uma penhora sem perdão:
    As crianças têm um ensino focalizado nos conhecimentos que interessam aos políticos no poder, e à criação de mão de obra especializada, para servir aos meios de produção. E como dizes e bem, tudo isto se vai fazendo aquecendo a água da fome, semeando o vazio de ideias, apelando para que o povo compreenda que é para seu bem(?), enquanto aumentam os mais pobres e os ricos se tornam mais ricos e em menor número.

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  2. Esqueci-me de dizer que agora pagamos taxa de turismo para visitar as cidades do nosso próprio país, como se não pagássemos impostos.

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  3. Verdade Di sei que sabes das coisas...sempre te conheci F..ervido haha bjssss

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