terça-feira, 28 de abril de 2015

Mundo louco, ou doente...

Vivo a pensar que gostaria de viver num mundo melhor, porém não acredito que isso vá acontecer nos próximos anos ou décadas. Talvez demore gerações, ou o mundo até pode ir acabando aos poucos (de alguma forma – pestes, sismos, guerras etc.) e então espera-se que haja um reset na humanidade!

Entretanto, este é o mundo com o qual tenho que conviver. Olho para o lado e só vejo gente doida, ou doente? Como distinguir entre loucura sã e lucidez insana, ou doença mental?... E cada vez mais dá vontade de estar só… embora não solitária.

Noto que com a idade estou cada vez mais palhaça, ou seja, cada vez menos levo a vida a sério. Ao longo dos anos tenho me deparado com todo o tipo de gente e com cada anormalidade que até dá dó:
- muita gente amorfa que fala sem saber o que diz, pensa que tem a verdade de tudo e ignora a opinião dos outros;
- gente que vive com a sua pequenez a todos os níveis, mas age e fala com a mania das grandezas... falam falam falam e não dizem nada, inventam, mentem, ludibriam toda a gente e ainda continuam a falar do pedestal (esses vão morrer de pé, pelos vistos);
- já passei por duas empresas que deixaram de pagar salários, mas continuaram a funcionar, na impunidade (num país república das bananas, salve-se quem puder); gente "doutorada" em esperteza saloia achando que as pessoas podem ou devem trabalhar de graça, e ainda ameaçam com advogados quando reivindicamos o que é nosso...
- gente que divaga sobre o amor, e sabem lá o que é isso?! textos tão lindos e comoventes na internet, porém, quem conhece essas pessoas, é tudo tão diferente na prática...
- alguém que se considera objetor de consciência, entretanto gosta de praticar a violência psicológica, desrespeita os outros, e nem se apercebe disso(?) ;
- aquele que atravessa o oceano em nome de um amor inventado, e depois descobre-se que é lunático, megalómano, só mentiras...
- alguém que inicia uma possível amizade, finge que é boa pessoa e honesta, e em pouco tempo pede ajuda: algum dinheiro para resolver uma situação urgente, que seria devolvido em uma semana. Nem uma semana, nem nunca; agiu de má fé à custa de uma otária inocente (e crente) que perdeu o amor a umas centenas de euros. O famoso golpe de vigaristas!
- alguém que se vangloria de ser milionário, que compra, 'mata e esfola' todo o mundo, achando-se especial porque é rico (diz ele) e quer controlar tudo e todos - ao mesmo tempo, quanta carência! - todos contam histórias e riem-se à custa dele, é considerado o louco do sítio, e poucos terão paciência para aturá-lo, mas quem souber explorar o seu lado bom, ainda poderá ter alguma sorte... faz lembrar aquela frase "há pessoas tão pobres que só têm dinheiro"...

E por aí fora... e com tantos exemplos assim eu me pergunto "o que é ser normal neste mundo?"

Reconheço que atraio aquilo que é diferente, aprecio tudo o que é excentricidade... mas aprendi que devo distinguir a loucura sã da insana. E ter cuidado quando conheço novas pessoas pois "nem tudo o que luz é ouro" - A pior das loucuras é, sem dúvida, pretender ser sensato num mundo de doidos. (não me sabia tão louca)

"Que mundo! Poderia ser maravilhoso se não fossem as pessoas." (Woody Allen)

Gosto da minha loucura sã. Não guardo ressentimento de nada nem de ninguém, e sinto GRATIDÃO todos os dias por tudo o que tenho. Por tudo o que a vida já me deu. Pelo caminho que já percorri. Pela consciência que já tenho. Carpe diem!

terça-feira, 21 de abril de 2015

Nunca é tarde demais...

Modelo por meia hora
Viu o anúncio de uma empresa que recruta pessoas com ou sem experiência e de todas as idades para desempenharem funções de modelos/figurantes em filmes, programas de TV ou outros eventos, ela respondeu e foi ao casting. Vestiu-se a preceito e lá foi ela, muito raramente se veste assim para andar na rua, gosta mais do género desportivo, mas estava a gostar do desafio.

Depois dos 50 descobriu a beleza que há em si e ficou íntima da câmara fotográfica; aproveitou a moda das selfies e farta-se de fotografar a si mesma, talvez faça parte do aprender a “amar-se”. Entretanto tem beneficiado também de amigos com boas máquinas e já tem uma coleção de lindas fotos, e ela surpreende-se: tinha sido casada com um “eterno estudante” de belas artes, na área de multimédia, que nunca a aproveitou, nem ela soube como “puxar por ele”. Não imaginava o quanto poderia ser divertido e interessante…

Ficou vaidosa “depois de velha” (?) admira-se ela… mas porque não?

Nunca é tarde demais para mudar algo na vida. Para correr atrás de um sonho... Se fosse há uns 40 anos atrás (e "se soubesse o que sabe hoje") teria enveredado pela carreira de modelo, ou atriz. Não teria estragado a pele com tanto sol de África e poderia ser a sósia da Nicole Kidman, LOL, talvez... tivesse escolhido a área de turismo, e aí sim ia poder conviver com os gringos de todo o mundo... SE ela soubesse tanta coisa...

Porém, nunca é tarde demais para tomar conhecimento das coisas, daquilo que queremos de verdade... nunca é tarde para ir em busca de um ideal... para começar a cuidar da saúde... para conquistar novos amigos... para fazer aquela viagem... ou encontrar o tal de Amor...

Para quem é otimista, nunca é tarde para recomeçar este "labirinto" chamado VIDA tão cheio de SE's... nunca será tarde demais para sonhar, aprender, ensinar, e com toda a certeza nunca é tarde demais para AMAR-SE!


sábado, 18 de abril de 2015

Longe da vista, perto do coração

Finalmente ontem descobri como melhorar o aspeto deste blogue; gostaria de estar a escrever aqui todos os dias, pois todos os momentos, temas abordados em conversa ou estórias de gente bizarra dão-me muitas ideias, mas a verdade é que demora a por em prática. Vou continuar assim, sempre que me apetecer, mesmo sem saber qual será o feedback ou a satisfação dos meus fiéis (ou não) “seguidores”…

As paisagens e as lindas praias sem gente são uma inspiração, e poderia escrever sem esforço, e tempo é coisa que não me falta neste momento. Vim para um lugar à beira-mar que me encanta, não me importava de passar aqui todos os invernos, caso não seja possível trabalhar e morar aqui. Em breve começará o countdown para voltar à cidade onde nasci e moro. Tirei bué de fotografias como se quisesse levar este lugar comigo…

Foi o tempo suficiente para impor alguma serenidade à minha alma e ao meu coração, como se tivesse tirado uma roupa apertada ou desamarrado nós que há muito tempo não se desfaziam… Foram caminhadas à beira-mar, belos momentos de por do sol, falando com as gaivotas, escutando o barulho das ondas, muitas vezes com vento chato, acordar e ver logo o  mar… um pequeno luxo que o meu universo proporcionou e ao qual brindo, por me ter encaminhado para este lugar que sempre apreciei quando vinha de férias, onde cada gaivota, cada planta e cada pedaço da paisagem falam uma língua que a minha alma traduz sem necessidade de recorrer ao dicionário.

Poderia chamar a isso FELICIDADE, mas prefiro chamar SERENIDADE, um estado de espírito em que não é preciso desfazer-se da tristeza para sentir PAZ. Aliás, nem há tempo para ficar triste por estar longe dos familiares (em especial a mãe) e das boas amizades que ficaram a uns 600km de distância. Atualmente as novas tecnologias - o telemóvel com chamadas grátis (a maioria), o skype, o email, o facebook… - permitem-nos matar a saudade a qualquer momento; o mundo ficou bem pequenino e o coração sendo grande reúne todos os amores e amigos, sem esquecer nenhum.


Até ir embora quero desfrutar cada segundo desta solidão (às vezes acompanhada) que não amedronta e deste silêncio que me imponho muitas vezes. E já estou a imaginar este lugar cheio de gente e confusão nos próximos meses com a chegada dos turistas.


terça-feira, 14 de abril de 2015

As férias do papagaio na praia

Ficou o silêncio no apartamento e no prédio. A dona dele apareceu. Fez-lhes companhia durante quase 1 mês. Palrava e ladrava o tempo todo, grasnava como as gaivotas, imitava as gargalhadas, e era um barulhão, dava beijinhos gostosos depois de dizer “cucu”, cantava “who let the dogs out” além de dizer “olá man” ou apenas “olá” quando elas chegavam a casa… era da espécie “amazonia aestiva” (o papagaio verdadeiro) e tornou-se a companhia delas todos os dias desde as 8h da manhã, ou quando o “cocó” (dizia ele, seria de Jacó?) visse a luz do dia nascer.

Eram duas amigas de aproximadamente 15 anos, conheceram-se um dia de forma insólita, numas férias de verão no Algarve, conviveram algum tempo, depois houve um longo afastamento (seguindo ambas vidas diferentes, com os respetivos companheiros) e, novamente de forma inédita, a que ficou viúva procurou a outra que até já tinha mudado de número de telemóvel, mas conseguiu encontrá-la! São estes os mistérios da amizade, a gente encontra algumas pessoas por acaso, umas ficam por alguns momentos, outras ficam para toda a vida.

Lá estavam elas de novo no Algarve, desta vez decidiram partilhar um apartamento durante um período de 3 meses. A que ficou viúva já não precisa de trabalhar mais, é só curtir agora (se quiser), mas a outra ainda procura um trabalho, preocupada com o futuro.

Certa manhã, ao acordar, uma delas vai à varanda do 6º andar, olha para baixo e vê um papagaio na varanda do 4º andar… acha-o lindo e chama por ele, sem imaginar que ele ia subir mesmo; calculou a distância entre as varandas de um lado e doutro do edifício, e ei-lo no parapeito da varanda pronto para tomar café e pão torrado junto com elas. Entrou para dentro do quarto e ficou empoleirado no cimo da porta, nem tentou fugir mais. Para quê? Tinha encontrado um lar, com duas boas amigas, e sentiu-se bem acompanhado.

Foi preciso comprar comida própria para ele, era um comilão e petiscava praticamente tudo, desde legumes a fruta ou frutos secos. Em cima do frigorífico, quando uma ou outra estava a cozinhar, o “cocó” queria sempre vir quase para cima do ombro para provar a comida, se a corrente fosse mais comprida e o permitisse.

Foram contactadas as entidades responsáveis - o ICNF, CITES, GNR/SEPNA - para poder encontrar o seu possível dono, tinha anilha mas não tinha chip. Parecia um mistério, um papagaio aparecer assim numa varanda de apartotel em frente ao mar... seria alguma alma penada? Chegaram a pensar… Havia muita vontade de ficar com aquele bichinho simpático, mas uma delas decidiu que tinha que ficar tudo legalizado, e ficaria em nome dela, se fosse o caso.

Entretanto a PSP envia um email a pedir para entregar o papagaio, tinha aparecido a dona; e lá veio ela buscá-lo no dia seguinte, até chorou emocionada ao revê-lo. Na hora de entrar para a gaiola a ave ainda ficou com a pata agarrada à “dona” amiga que o alimentou e acarinhou durante quase 30 dias, via-se que ia sentir saudade.

Afinal já andava perdido há 2 anos e a verdadeira dona pensava nunca mais voltar a vê-lo: outro facto incrível, como é possível, onde terá andado todo esse tempo, em casa de outra família e entretanto fugiu, ou abandonaram-no? (no dia em que chegou, tinha aspeto de bem tratado e notava-se que era amestrado).

E ficou o mistério… a dúvida: terá a linda ave exótica vindo passar um mês de férias à beira-mar e conviver com 2 amigas com tempo para apajeá-lo? Podia ser…

Ficou a saudade, da companhia e do barulho que tanto fazia, sem se preocuparem com o que pensariam os poucos turistas que estavam no prédio praticamente desabitado, pois o tempo bom tarda a chegar. Até na Páscoa choveu, quando aquele lugar costumava ser o destino de muita gente em férias à procura de sol.


domingo, 12 de abril de 2015

Sobre o Desapego

Dia 12 de abril: uma data que eu poderia estar a comemorar, se não tivesse terminado o meu 2º casamento… não foi fácil, mas teve que ser, pois decididamente nasci para ser FELIZ!

Isso leva-me a querer falar hoje de FELICIDADE. E um dos caminhos para lá chegar é justamente treinar o DESAPEGO.
É assustador ver como a gente se apega facilmente a muitos e a muitas coisas nesta vida: apego pelas coisas que aprendemos a acreditar serem nossas; pelas paisagens que contemplamos e queremos levá-las na câmara fotográfica e guardá-las para sempre; pelas pessoas, lugares, papagaios (outra história para contar aqui) e outros bichinhos encantadores que nos fazem companhia!
Todos os grandes mestres do passado falaram sobre a importância do desapego. Quando aprendemos a abrir mão de objetos, sentimentos, pessoas ou lugares ‘teoricamente’ fica mais fácil encontrar a serenidade, a paz de espírito, o equilíbrio interior e até a tal de FELICIDADE. Para mim, faz sentido!

Afinal, se pensarmos bem, nem precisamos assim de tanta coisa para ser feliz; às vezes basta um abraço bem forte, uma palavra de carinho ou atenção, para nos sentirmos protegidos e seguros.


Voltando ainda ao tema do casamento, do qual decidi libertar-me há 6 anos, não me afastei por não saber o que queria, mas porque sabia que ELE não queria o mesmo que EU. E foi o que aconteceu também com o primeiro. Parece que um dia Santo António disse “troca de amor porque com esse aí nem eu faço milagres!”… Sim, e de que adianta querer ter uma aliança de ouro, se o relacionamento é de lata…?

Chega um momento na vida que sentimos necessidade de crescer, evoluir, e para isso é necessário desapegar-nos do que nos leva para trás, e podermos seguir o nosso rumo.

E na verdade até penso para mim mesma: por amar tanto aquela pessoa é que vou embora, para que ela tenha a oportunidade de ser feliz. 
E esse é o motivo das minhas partidas: eu me amo demais!

sexta-feira, 10 de abril de 2015

O AMOR e a AMIZADE


Há quem ache que estes dois sentimentos são independentes um do outro, mas não gosto dessa separação entre amor e amizade. Para mim a amizade tem que fazer parte do Amor.
A Amizade inclui também um doar-se ao outro sem querer nada em troca, ser fiel ao outro sem pensar duas vezes, estar junto em todos os momentos, tal qual o amor. Por isso eu posso dizer que numa verdadeira amizade existe sim amor. Um amigo pode dizer ao outro com convicção “eu te amo”, porque não? Assim como uma mãe fala ao filho.

Amizade há só uma, a verdadeira. As pessoas amigas de verdade contam-se pelos dedos de uma mão. Mais difícil é falar de Amor: este há de vários tipos, além do de amigo/a há o de pais pelos filhos e vice-versa, de marido/mulher/amante, o virtual, o platónico, etc. Hoje em dia se me perguntarem o que prefiro, acho que escolho uma grande amizade em vez de um grande amor. 

Pois...o que será o AMOR? Muitas vezes pode começar por uma atração, uma paixão, há aquela ilusão do início e depois – muitas vezes - não dura muito, porque "de repente" começa a incompatibilidade das manias de cada um (especialmente a partir de certas idades); se houver desconfiança ou ciúme, cobranças, desrespeito, tudo isso vai matar o amor aos poucos. Uma amizade, se verdadeira, pode durar uma vida inteira. Obviamente há exceções. Há casais de idosos com relações duradouras e são felizes. Ultrapassaram todos os problemas por que passaram, pois tinham o verdadeiro amor, a força intensa de equilíbrio capaz de ajudá-los a superar os maus momentos. Brigaram muitas vezes, claro, mas souberam que havia um amor ali e que isso era maior que qualquer outra coisa.

 “O segredo é não correr atrás das borboletas... É cuidar do jardim para que elas venham até você.”

Isso mesmo. Sinto que estou a cuidar do meu jardim, e as borboletas virão. Cuido de mim mesma, do meu coração, das minhas virtudes, da minha integridade, do meu amor pela vida, por mim mesma, pelos outros, e irradiando este amor, com certeza um dia o GRANDE AMOR virá, o que atraí…

Sinto-me AMADA pelas poucas pessoas AMIGAS que tenho, isso faz-me FELIZ. E eu amo-as também. Já tive amores que não deram certo, por um motivo ou outro, e aprendi muito com as experiências. Alguém me disse recentemente “talvez não te apaixones facilmente, porque apaixonaste-te por ti própria!”. Pode ser… outro tema que abordarei num futuro blog: o desapego.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Uma Páscoa diferente

Antigamente celebrava-se a ressurreição de Cristo, havia tempo de silêncio a partir da quinta-feira santa (a rádio só passava música sacra) - ficaram lembranças vagas - era preciso ir confessar-se ao padre para poder comungar no domingo de Páscoa, os afilhados iam aos padrinhos (eu nunca fui, nem os conheci)... e outros "rituais" que devem ter sido ensinados pela igreja católica. 
Hoje nota-se que tanta coisa mudou, celebra-se mais o coelhinho da páscoa e toda a variedade de amêndoas e ovos de páscoa, come-se e bebe-se. Por falar em comer amêndoas, adoro as de chocolate negro e aquelas com canela, mas este ano nem lhes toquei...

Quem pode, o melhor mesmo é aproveitar este período e tirar umas férias. A praia, mesmo com tempo meio nublado/sol fraquinho, fica cheia de gente, e já se veem muitos corpos sarados, de pele bem branca ou já morena, uns gordos outros magros, algumas corajosas a desfilar em topless, uma mãe leva pela mão a criança que usa a parte de baixo do biquíni maior que a dela... por mim, dispensava qualquer pano... eu sentir-me-ia bem a viver numa tribo com o mínimo de roupa, ou nenhuma.

No sábado, depois de uma boa caminhada, dei finalmente um mergulho no mar (desde janeiro não o fazia). Faltava-me a parte de cima do biquíni (quando saio esqueço sempre alguma coisa que me fará falta), mas pensei: pior seria se esquecesse a parte de baixo, depende, se a calcinha for muito rendada ou transparente, claro...

Tivemos a companhia de amigos durante os 4 dias, foi um acampamento divertido cá em casa, e o domingo de Páscoa foi passado num lugar espetacular com muita música e dança toda a tarde. Divertimento e liberdade, algo que nos atrai bastante. Adoro dançar descalça. Foi uma Páscoa Feliz para todos (acho eu), sem amêndoas nem ovos de chocolate.

Agora voltou a paz, o começo de uma nova semana. Está frio e chuva, nunca mais chega o verão, mas não faz mal. Também existe a parte de mim que adora ficar só e em silêncio, quando as palavras não fazem falta nenhuma e a alma vai ficando mais leve, descansada. Não precisa ser o silêncio radical, que não pode ser interrompido; prezo é a possibilidade de silêncio porque nem sempre estamos com as palavras na ponta da língua (ou dos ouvidos). Também elas (as palavras), como nós, precisam de descanso e recolhimento.

Quem me conhece, sabe que sou pouco faladora. Não se trata de falta de interesse pelo que têm a dizer os meus semelhantes, sejam eles quem forem. Às vezes descobrimos que o que mais nos cansa quando falamos com os outros não é ter que ouvir o que dizem, mas ter que ouvir a nós mesmos.

https://www.youtube.com/watch?v=aGSKrC7dGcY


quarta-feira, 1 de abril de 2015

Nem os bichinhos escapam

Falando ainda em sociedade de consumo... no hipermercado, por exemplo, já repararam como agora é tão difícil escolher um alimento? procuramos um determinado sabor (com qualidade) e o que encontramos são embalagens de produtos a alardear sobre o benefício da sua composição para a saúde: a bolacha que é "fonte de zinco", o iogurte "fonte de vitaminas B1, B2 e B6", o feijão "com alto teor de fibras", os cereais "fonte de 10 nutrientes", as variedades de pão, umas com aveia e linhaça que prometem "contribuir para o equilíbrio da flora intestinal", os vários tipos de leite, uns sem colesterol, outros com ou sem lactose, a soja "rica em fibras", o óleo de cozinha "rico em vitamina E" e por aí fora... 
É preciso levar os óculos para ler os rótulos. E parece que estamos a fazer compras numa farmácia, muitas vezes até desistimos, sem saber o que se adapta melhor à nossa "necessidade". Quando chegamos a casa, vamos consultar o Doutor Google sobre a literatura médica dos rótulos, a fim de comprar o mais adequado noutra ida ao hipermercado.

Nem a comida para os animais de estimação escapa: as fórmulas que contêm omega 3 e 6, antioxidantes e vitaminas para dar força e resistência aos cães, rações para gatos que auxiliam no controlo do PH urinário, combatem o mau hálito, etc.

O facto de ignorar o sabor dos alimentos e correr atrás do "remédio" que está mencionado nos respectivos rótulos dá-nos a ilusão de fragilidade e necessidade de comprar saúde. Poderemos até viver mais anos, mas vale a pena?

Fico intrigada, se tanta obsessão com a saúde não acabará por nos tornar mais propensos à doença: medo de adoecer, medo de envelhecer, de engordar, de morrer... (medo de sentir medo, o mais assustador de todos os medos).

No meu caso, prefiro temperar a minha vida com alimentos saborosos que me deixam água na boca. Entre as fibras, as vitaminas ou os nutrientes, escolho sem dúvida o prazer.