sexta-feira, 5 de abril de 2019

Escrever o quê?

Apetece-me escrever, mas não sei sobre o quê. 

Já está tudo muito “batido"… mundo incongruente, já sabemos todos…o vento grita lá fora e eu aqui “tirem-me deste filme”…
Vai uma rapidinha, uma escrita plagiada - e só plagio o que gosto e o que sinto - só para que notem a minha presença!

Escrever deve ser, tem de ser, uma qualquer forma de catarse, de expurgação, de esvaziamento. Um deitar fora, ainda que esbanjando emoções, um descarregar de conflitos, tensões, agonias, incómodos que, ao passarem a ter existência própria em textos, ainda que descontínuos e fragmentados, nos aliviam de algum peso, de estarmos cheios de razões e opiniões, de zangas avulsas e pequenas obsessões mais irritantes do que inquietantes.

Escrever é a única maneira de viver, não a minha vida, esta vida que me escapa por entre os dedos a cada gole da minha sede. É escreviver outras vidas, mesmo plagiando, em outras dimensões, tempos paralelos. Porque afinal, como seres humanos, todos temos o mesmo SENTIR.

Escrever nos torna mais humanos, mas nem por isso mais virtuosos. Escrever é roer os ossos do medo. Repudiar a felicidade como facilidade. É inspirar-se quando não há inspiração. É pintar, musicar, teatralizar, filmar, esculpir, dançar. Dançar conforme a música, conforme a dúvida. É para gente inconformada.

Escrever é a única louca esperança dentro de um manicómio... e fora dele também.

Escrever é deixar no papel a impressão digital do ser que somos.

Escrever é descrever o que pressentimos, o que dizem os nossos cinco sentidos, mesmo que não faça o menor sentido.

Escrever é sempre tarde, é sempre cedo, é sempre na hora certa.

Escrever é algo de que se tem necessidade, é algo de que não se tem necessidade alguma.

Escrever é incurável.

Escrever é sempre viver o sucesso no fracasso, a alegria de poder estar triste, o nunca do sempre, o infinito do finito, o absolutamente relativo.

Escrever é ato de amor, intimidade exposta, introspeção devassada, solidão solidária.

Escrever é falar com quem não vemos, ouvir quem nada nos diz, conversar com quem nos despreza, aprender com quem nada ensina, ensinar coisas a quem não quer aprender nada.

Escrever é catarse, é espionagem, é propaganda enganosa, mistério da fé, é terapia para toda a gente.

Escrever é recordar o que não aconteceu, prever a nostalgia, admirar-se com o banal.

Escrever é testemunhar, é enganar, é revelar, é purificar-se, é resistir, é matar, é assumir, é omitir, é calar, é sorrir.

Escrever é vício, é adiar a morte, é "um ócio trabalhoso", como disse Goethe.

Escrever é fugir, é voltar, é abrir uma janela, é fechar-se em casa, é queimar a casa, é reconstruir a casa, é pregar-se na cruz, é ressuscitar, é recriar o mundo.

 
ESCREVER é condenar-se. O cardeal Richelieu (descrito como um ser terrível por Alexandre Dumas) disse certa vez: "Mostrai-me seis linhas manuscritas pelo mais honrado dos homens, e acharei nelas todos os motivos para enforcá-lo".

2 comentários:

  1. Vou-te enforcar na corda da linha que escreves! Bjão e continua a escrever! Dia hiper bom... bjs

    ResponderEliminar
  2. https://www.youtube.com/watch?v=aTAqytd-vA4

    ResponderEliminar